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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Um alerta muito sério

Alexandre Guerra, 13.05.14

 

Embora já estejam detidas duas suspeitas (mãe e filha), o Ministério do Interior espanhol não avançou ainda com dados concretos sobre as razões que levaram ao assassinato da presidente do Partido Popular de Léon, Isabel Carrasco, que ontem foi baleada mortalmente com quatro tiros perto de sua casa.  

 

De acordo com as informações mais recentes veiculadas pelas autoridades e pela imprensa espanhola, terá tratado-se de uma "vingança pessoal" da suspeita mais jovem detida, que foi despedida em 2011 da Deputacíon Provincial de Léon, órgão autonómico que era actualmente presidido por Isabel Carrasco. Pelo meio, a suspeita teria também algumas dívidas por pagar àquela entidade.

 

Os contornos começam agora a ser conhecidos, mas o importante nesta trágica história é que vem de Espanha mais um exemplo de como a "rua" se pode tornar violenta contra os decisores políticos ao ponto de fazer derramar o seu próprio sangue. É verdade que Espanha tem um histórial dramático naquilo que se pode chamar de violência contra os representantes do Estado (ao contrário de Portugal, onde a violência extrema se encontra, sobretudo, ao nível dos crimes passionais).

 

Embora Portugal não tenha uma tradição de violência contra os seus governantes e políticos em geral, isso não quer dizer que o desespero se alie à irracionalidade num determinado momento e alguém, no limite da sua resistência moral e psicológica, venha a "importar" alguns destes maus hábitos do País vizinho. 

 

Uma breve reflexão filosófica sobre a violência

Alexandre Guerra, 18.04.11

 

Um dos terroristas do Setembro Negro, aquando do ataque à comitiva israelita em Munique durante os Jogos Olímpicos de 1972

 

No pequeno livro sensação de Stéphane Hessel, “Indignai-vos”, que na verdade é mais um manifesto de resistência à apatia e ao pensamento atávico, é apontado o caminho da “não violência” como a “via” preferencial para a conciliação de culturas ou pensamentos diferentes.

 

O autor, com 93 anos, antigo membro da resistência francesa e co-autor da Declaração Universal dos Direitos Humanos, admite, no entanto, que é preciso compreender todos aqueles que optam pela violência como forma de assumirem as suas posições. “Não podemos desculpar terroristas que lançam bombas, podemos compreendê-los”, diz.

 

E cita o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre, quando em 1947 escreve o seguinte: “Reconheço que a violência, seja qual a forma com que se manifeste, é um fracasso. Mas é um fracasso inevitável, pois estamos num universo de violência. E ainda que seja verdade que o recurso à violência contra a violência corre o risco de a perpetuar, também é verdade que é a única maneira de acabar com ela.”

 

Hessel, um homem de valores humanistas e universais, partilha desta ideia até certo ponto, ao não ser ingénuo para acreditar um mundo desprovido de violência. Mas, distancia-se de Sartre ao rejeitar a ideia da inevitabilidade da violência como solução última.

 

Escreve então Hessel: “A isto [à frase de Sartre] eu acrescentaria que a não violência é um meio mais seguro de acabar com ela [violência]. Não podemos apoiar os terroristas como Sartre o fez em nome deste princípio, durante a guerra da Argélia, ou aquando do atentado cometido contra atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Não é eficaz, e o próprio Sartre, no fim da vida, acabaria por se interrogar sobre o sentido do terrorismo e por duvidar da sua razão de ser.”

 

Sartre, já muito perto da sua morte, acabaria por constatar que apesar do “mundo actual” ser “horrível”, o “desenvolvimento histórico ou, se o leitor preferir, a dinâmica da História teve sempre a esperança como uma das suas forças motrizes, mesmo quando alimentou revoluções ou insurreições.

 

E acrescenta Hessel, a esperança é por definição não violenta, já que a única esperança violenta que conhece é na poesia de Guillaume Apollinaire.