São poucas as músicas que conseguem captar tão fielmente o espírito de uma determinada época, como o fez "Wind of Change" dos Scorpions ao descrever o fim da Guerra Fria e da União Soviética.
Inspirada na Perestroika e na Glasnost levadas a cabo pelo líder soviético, Mikhail Gorbachev, na segunda metade dos anos 80, "Wind of Change", integrada no álbum Crazy World, viria a tornar-se um sucesso comercial no Verão de 1991, logo após o golpe falhado perpetrado pela ala mais conservadora do Partido Comunista na ainda União Soviética.
Esse movimento tentou aproveitar a ausência de Gorbachev de Moscovo (que passava férias na Crimeia) para repor uma liderança anti-reformas. O golpe acabaria por falhar e a 25 de Dezembro desse ano Gorbachev anunciava formalmente o fim da União Soviética. Terminava assim um período de ventos de grandes mudanças na História da Europa, que tinha começado com a Queda do Muro de Berlim, a 9 de Novembro, e com o consequente desmoronamento do Bloco Soviético.
Uma estação espacial na órbita terrestre com condições para acolher humanos era o grande segredo do vilão Hugo Drax, que a partir dali pretendia iniciar uma nova (super) raça humana na Terra. O seu discurso na estação espacial é uma das cenas (acima) mais intensas da saga 007.
Perante o plano diabólico de Drax, James Bond vai a bordo da estação espacial, conseguindo, mais uma vez, salvar o mundo da destruição.
Provavelmente, quando o filme foi lançado em 1979, em plena histeria com os temas espaciais por causa da saga Guerra das Estrelas, poucos teriam a noção que essa realidade estivesse tão perto. Sete anos depois, a União Soviética colocava em órbita a MIR, uma estação que iria durar até 2001 e acolher em permanência astronautas e cosmonautas.
David Blatt, treinador da selecção russa de basquetebol/Foto:Sergio Peres/Reuters
Ao ver o jogo olímpico da competição de basquetebol entre a Rússia e a Espanha, pensava o Diplomata o quão o mundo tinha mudado nestas últimas duas décadas. A Rússia, principal "herdeira" da defunta União Soviética, tem como treinador o americano David Blatt.
Música "1999" do álbum homónimo de Outubro de 1982
Quando em Outubro de 1982 Prince lançou o seu quinto álbum, “1999”, o então Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, que ainda nem sequer tinha chegado a metade do seu primeiro mandato, já tinha marcado bem o seu estilo de governação, elegendo a América como o farol da moralidade e da virtude no mundo ao mesmo tempo que via na União Soviética a concretização de um sistema perverso e maléfico.
Faltavam ainda quatro anos para a célebre cimeira de Reiquiavique, realizada a 11 e 12 de Outubro de 1986 entre Reagan e Mikhail Gorbachev, então Secretário Geral do Partido Comunista. Este seria o primeiro passo dado por aqueles dois dirigentes para abordarem a problemática do “controlo de armamentos”, nomeadamente, a questão dos arsenais nucleares das duas super potências.
O fantasma de um conflito nuclear mundial pairava nas sociedades ocidentais com particular insistência no início dos anos 80, sobretudo com a Guerra Fria a “aquecer” durante este período, para depois voltar a “desanuviar” a partir da segunda metade da década de 80.
Foi aliás para fazer face a esta ameaça que Reagan anuncia a intenção de lançar um projecto defensivo contra mísseis balísticos soviéticos chamado Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE), mas que ficou vulgarmente conhecido como “Guerra das Estrelas”.
A opinião pública pressionava os governos da Europa e de Washington para que tomassem medidas concretas de modo a afastar o espectro de um conflito nuclear à escala global.
E é com este espírito de protesto, mas também de receio por uma guerra nuclear, que Prince compôs a música “1999” do álbum homónimo. Esta música foi o primeiro single a ser lançado. Em 1998 a música seria regravada, desta vez, com a banda The New Power Generation.
Quanto ao álbum, o primeiro que Prince fez com a banda Revolution, tornou-se no quinto mais vendido nos Estados Unidos em 1983, sendo um trabalho inspirador na forma como são utilizados os sintetizadores na mistura de estilos musicais como o R&B, o Funk, o Soul e até mesmo o Pop.
“1999” foi merecedor de inúmeras menções, tendo a revista Rolling Stone colocando-o na posição 163 dos 500 melhores álbuns de todos os tempos.
Strategic Defense Initiative (SDI). Dito assim, poucos se lembrarão o que esta sigla quererá dizer, apesar de ter sido uma das iniciativas políticas mais importantes e polémicas na década de 80. Agora, se se falar em “Star Wars”, então, provavelmente, muitos se lembrarão do famoso e polémico projecto anunciado pelo Presidente Ronald Reagan, numa comunicação ao País através da Casa Branca, a 23 de Março de 1983.
Projectado para a construção de um escudo antimíssil balístico contra a ameaça nuclear soviética, o SDI seria composto por uma série de sistemas terrestres e espaciais, que cobriria os Estados Unidos com uma espécie de escudo.
Perante a grandeza e a espectacularidade do SDI, rapidamente o projecto adoptou o nome “Star Wars”, numa alusão à célebre saga de George Lucas, cujo primeiro (na realidade o episódio IV) filme tinha sido lançado a 25 de Março de 1977, e contribuído para a "febre" e “descoberta” do Espaço como a nova fronteira da Humanidade.
O SDI mereceu as críticas de quase toda a comunidade científica, por considerar o projecto irrealista e tecnicamente impossível de concretizar, além de ter custos astronómicos, pertencendo ao mundo da fantasia e do imaginário, tal como a “Star Wars” de Lucas. Mas, para outros, a referência à saga “Star Wars” era uma forma de perspectivar um futuro real, mas que implicava um investimento prévio.
Ao contrário da saga de Lucas, a “Star Wars” de Reagan nunca viu a luz do dia, embora tenha permanecido na agenda política norte-americana desde então, com diferentes denominações e mudanças de conceito, estando nos dias hoje em discussão um novo sistema de defesa antimíssil, em parceria com a Rússia.
Reagan pretendia que o projecto “Star Wars” viesse assumir-se como uma nova doutrina militar de defesa estratégica, que substituísse a MAD (Mutual Assured Destruction), para se defender do Império do Mal, expressão que usara a 8 de Março de 1983 para caracterizar a União Soviética.
Houve também quem dissesse que com este projecto dispendioso Reagan quisesse sobrecarregar os cofres de Moscovo, obrigando o Kremlin a acompanhar o esforço militar, tecnológico e científico americano, à semelhança do que tinha acontecido durante a Guerra Fria, numa lógica de procura constante pela paridade entre as duas Super Potências.
*Depois do texto publicado na semana passada, o Diplomata continua a nova rubrica anunciada neste espaço.