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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Uma resolução que podia ter vindo mais cedo

Alexandre Guerra, 07.12.13

 

Nas previsões para 2013, o Diplomataantecipava um ano sangrento para a República Centro Africano (CAR), confirmando-se logo em Março que aquele país estava a entrar numa espiral de violência imparável. Os meses seguintes vieram provar isso mesmo, e só agora a comunidade internacional parece ter acordado para o assunto, com o Conselho de Segurança das Nações Unidas, finalmente, a aprovar uma resolução que abre caminho a um reforço da missão que já está no terreno da União Africana (UA), actualmente com cerca de 2500 homens.

 

Espera-se agora que sob o "badge" da ONU, a missão da UA (MISCA) possa aumentar o número de soldados para 3500. Além disso, com esta Resolução, fortemente impulsionada por Paris, que entretanto já reforçou o seu contingente na CAR, neste momento com 1600 soldados, vai permitir às forças francesas agir de forma mais integrada e com um mandato internacional para usar todas as "medidas apropriadas" na reposição da ordem. 

 

Al-Shabab perdeu uma cidade importante, mas ainda controla quase toda a Somália

Alexandre Guerra, 02.06.12

 

Fonte: BBC World News

 

Forças da União Africana (UA) com a ajuda de soldados governamentais capturaram a cidade somali de Afmadow, até então nas mãos dos radicais islamistas do al-Shabab, uma espécie de filial da al-Qaeda na Somália.

 

Afmadow é a segunda maior cidade do Sul daquele país, sendo Kismayo a maior, mas esta ainda se encontra sob o controlo dos homens da al-Shabab. Estes abandonaram a cidade antes da chegada das tropas quenianas da UA. 

 

O porta-voz das forças quenianas da UA informou que o próximo alvo estratégico a ser recuperado aos islamistas será o porto de Kismayo, que fica na estrada que liga Afmadow àquela cidade. Também o Governo somali acredita que Kismayo será em breve recuperada à al-Shabab.

 

Apesar do mais recente feito militar das forças da UA e das intenções do Governo somali, uma grande pare do território da Somália continua controlado pelos radicais da al-Shabab. 

 

União Africana inicia caça ao homem impelida pela "força" do Youtube

Alexandre Guerra, 24.03.12

 

Joseph Kony, líder do LRA

 

A União Africana (UA) vai criar uma força especial para tentar capturar Joseph Kony, líder do Lord's Resistence Army (LRA), ausado de inúmeras barbaridades cometidas em regiões do Uganda, da República Centro Africana e do norte da República Democrática do Congo (RDC).

 

Kony tem um mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional em 2005 e, recentemente, passou para o topo da agenda mediática e política depois do impacto planetário de uma campanha de sensibilização lançada por um activista e à qual o Diplomata fez referência há dias.

 

O vídeo dessa campanha tornou-se no fenómeno viral mais imediato de sempre no Youtube, tendo neste momento mais de 85 milhões vizualisações. 

 

De acordo com informação veiculada pelas Nações Unidas, suspeita-se que Kony, um carniceiro sobre o qual o autor destas linhas já tinha escrito em Outubro de 2009, esteja neste momento na República Centro Africana.

 

A força da UA será composta por tropas do Uganda, do novo país Sudão do Sul, da República Centro Africana e também da RDC. Também os Estados Unidos já enviaram "consultores" militares para o terreno. No entanto, estes esforços podem revelar-se infrutíferos, tendo em conta a vastidão da área na qual Kony se pode refugiar. 

 

Um "cowboy africano" que dificilmente tranquilizará alguém no Sudão e arredores

Alexandre Guerra, 26.05.11

 

 

Salva Kiir, líder do Sudão do Sul

 

O Sul do Sudão está a poucas semanas de se tornar no mais recente Estado independente do mundo, quando em Julho proclamar formalmente, e sob a anuência da ONU, a sua secessão do restante território sudanês.

 

Sobre este assunto, o Diplomata já escreveu dois textos, nomeadamente, alertando para a possibilidade de, à boa e velha maneira africana, tudo isto resultar em mais um conflito opondo diferentes religiões e etnias.

 

Mas, para tranquilidade de todos (ou talvez não), Salva Kiir, uma personagem digna de um filme, mas que na verdade é o líder dos sudaneses do Sul, vem agora dizer que não vai entrar em guerra com o Norte por causa da região de Abyei. Um território rico em petróleo mas que desde Janeiro, altura em que se realizou o referendo da separação, está em disputa entre o Norte e o Sul porque não foi contemplado em que parte ficaria.

 

Tanto Kiir, antigo membro do círculo de poder próximo do defunto e carismático líder John Garang, como o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, reclamam aquela região, tendo este, inclusive, enviado tropas para o local, apesar da condenação da ONU.

 

Kiir acusa o regime de Cartum de ter exagerado, no entanto, rejeita a ideia de entrar em guerra com o Norte, depois do povo sudanês ter posto cobro em 2005 a uma guerra de 22 anos que ceifou um milhão e meio de vidas.

 

Seja como for, analistas e observadores internacionais, assim como o Diplomata, receiam que Abyei possa ser o rastilho para um conflito civil que oponha a vasta população maioritariamente cristã animista do Sul contra os sudaneses muçulmanos a Norte liderados pelo Presidente al-Bashir.

 

Neste momento, já surgem várias notícias que dão conta de populações deslocadas, da fuga de trabalhadores humanitários e de eventuais “crimes de guerra” em Abyei.

 

É ainda difícil confirmar com exactidão o que se está a passar naquele território, mas uma coisa é certa, existem razões para preocupações, devendo a ONU e a União Africana (UA) estarem particularmente atentas nestas semanas que antecedem a proclamação formal da independência do Sul do Sudão.

 

A Somália e a caminhada pelo reino da anarquia

Alexandre Guerra, 18.05.09

 

 

Membros do al-Shabab em actividade na Somália/EPA

 

A Somália continua a viver o seu quotidiano num autêntico ambiente de anarquia. Através de alguns meios internacionais, o autor destas linhas ficou a saber que alguns dos islamistas radicais, que em Janeiro de 2007 tinham sido derrotados por uma coligação de forças governamentais somalis e etíopes, voltaram a ocupar uma cidade naquele país.

 

O grupo al-Shabab -- um dos herdeiros da União dos Tribunais Islâmicos (UIC), que em Junho de 2006 tomaram Mogadishu, alastrando a sua conquista a grande parte do território da Somália até serem derrotados há pouco mais de dois anos -- conquistou Jowar, uma importante cidade a norte da capital somali.

 

Há várias semanas que os combates se intensificaram, obrigando as forças governamentais a recuarem novamente, confinando o controlo político a um pequeno espaço de Mogadishu e à cidade fronteiriça de El Berde . Com a saída dos soldados etíopes o Governo conta apenas com o apoio dos soldados da União Africana (UA).

 

Não é por isso de estranhar, embora seja um pedido invulgar aos olhos de qualquer cidadão de um país minimamente estável, que o ministro do Interior da Somália, Farhan Mohamoud, citado pela al-Jazeera, tenha exortado a comunidade de Jowar a ripostar contra os "invasores".

 

A cidade de Jowar é de extrema importância estratégica, sobretudo nesta altura de chuvas, já que é a única passagem para o centro da Somália para quem vem de Mogadishu. Além disso, esta cidade tem um valor simbólico, porque albergou o Governo transitório em 2005 e é a terra natal do Presidente Sheikh Sharif Sheikh Ahmed.

 

Além de ter conquistado Jowar, o grupo al-Shabab, ao qual o Diplomata já tinha feito referência em Agosto do ano passado, tem feito violentos ataques de morteiro em Mogadishu. Quanto ao resto do território continua controlado por milícias de "senhores da guerra", alguns deles aliados do Governo.

 

Os mais recententes acontecimentos apenas confirmam a tristemente distinção atribuída à Somália no ano passado, de Estado mais instável do mundo. Por este andar, será um galardão a repetir em 2009.

 

A propósito da acusação do Tribunal Penal Internacional contra Omar al-Bashir....

Alexandre Guerra, 06.03.09

 

Nicholas D. Kristof/The New York Times

 

A criança nesta fotografia chama-se Bakit Musa e tem oito anos. Vive no Chade junto ao inferno de Darfur. Nicholas D. Kristof, do New York Times, conheceu Bakit recentemente, e na sua habitual coluna de opinião do jornal nova-iorquino escrevia o seguinte: "When the International Criminal Court issued its arrest warrant for Sudan’s president on Wednesday, an 8-year-old boy named Bakit Musa would have clapped — if only he still had hands."

 

As mãos de Bakit Musa não se foram num infeliz acidente ou por causa de doença ou de uma deficiência de nascença, mas sim porque rebentaram literalmente quando ele e um amigo brincavam com um granada encontrada na região do Chade onde vive.

 

Uma granada trazida do Darfur para o Chade durante uma das incursões das forças sudanesas naquele país. Este é apenas um dos muitos crimes de guerra e contra a humanidade pelos quais o Presidente sudanês Omar al-Bashir é agora acusado pelo Tribunal Penal Internacional.

 

A estes crimes o Presidente sudanês prepara-se para juntar outros tantos, tendo ontem ordenado a expulsão de todas as organizações humanitárias do Darfur, naquilo que Kristof classificou como mais um crime contra a humanidade. Sem o apoio daquelas organizações, o povo do Darfur estará condenado a morrer.

 

Perante a decisão do TPI, e apoiada pela chamada comunidade internacional, será agora interesssante vislumbrar a reacção das grandes potências, nomeadamente dos Estados Unidos e da União Europeia face à deterioração anunciada das condições já precárias das milhares de pessoas que vão morrendo nas areias do Darfur. 

 

O secretário-geral das Nações Ban Ki-moon apelou ao regime de Cartum para recuar na sua decisão, alegando que a mesma terá consequências irreparáveis nos esforços humanitários que têm sido feitos na região. 

 

Omar al-Bashir pouco importância dará às palavras de Ban Ki-moon, indo certamente explorar as divergências de alguns Estados face ao estatuto do TPI. A Liga Árabe e a União Africana, por exemplo, já pediram à ONU para adiar durante um ano o mandado de captura do Presidente do Sudão, referindo que tal processo poderá colocar em causa as tentativas de trazer estabilidade àquela região.