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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Vai começar no Afeganistão a época da "ofensiva anual da Primavera"

Alexandre Guerra, 22.04.15

 

À semelhança do início da época de caça, também no Afeganistão os taliban anunciaram o começo da época da "ofensiva anual da Primavera", agendado para a próxima Sexta-feira. Prometeram ataques sangrentos em todo o país, numa altura em que a presença americana no terreno está reduzida a menos de 10 mil homens, com tarefas, sobretudo, de apoio e de formação.

 

Quando um toque de telemóvel se torna num "salvo-conduto"

Alexandre Guerra, 01.04.12

 

 

Conta a BBC News que os taliban estão a utilizar a rede de telemóveis para disseminar propaganda e intimidar os afegãos para não apoiarem o Governo ou aderirem às forças de segurança do país.

 

Além de mensagens de texto, os taliban estão também a enviar vídeos com imagens de atentados suicidas e explosões à beira da estrada, numa tentativa de intimidar a população para os perigos que existem caso decidam apoiar o Governo.

 

Talvez, por isso, não seja de estranhar que são cada vez mais os afegãos a fazer “uploads” de toques de telemóvel com cânticos religiosos ou sons identificados com os insurrectos, como uma espécie de "salvo-conduto" em regiões com forte presença taliban.

 

Morte de Hussein há 1300 anos é pretexto para xiitas e sunitas alimentarem divisões

Alexandre Guerra, 08.12.11

 

Imã Hussein na Batalha de Karbala (680) numa luta desigual, acabando por perecer nas mãos dos inimigos/Brookly Museum 

 

O Ashura, celebrado na passada Terça-feira nalguns países muçulmanos, trouxe à luz do dia o conflito crónico entre os dois principais ramos do Islão, xiita e sunita. Em apenas um dia, foram emitidos vários sinais, em diferentes locais e por diferentes intervenientes, que agudizaram o estado de animosidade histórica entre xiitas e sunitas.

 

No Afeganistão, vários atentados suicidas coordenados em Cabul, Kandahar e Mazar-i-Sharif provocaram a morte de pelo menos 59 crentes xiitas que celebravam o Ashura. Uma data importante para aquele ramo do Islão, porque assinala a morte de Hussein, neto de Maomé e considerado pelos xiitas o sucessor do profeta.

 

Apesar da extrema violência que tem assolado o território afegão, é a primeira vez que ocorre um atentado sectário deste género. Embora a minoria xiita tenha estado sob pressão durante o regime taliban, nunca tinha sido alvo de actos violentos direccionados.

 

E, de facto, os taliban rejeitaram de imediato qualquer responsabilidade nos atentados, o que se confirmou na Quarta-feira, com a reivindicação do ataque por parte de um pequeno grupo terrorista baseado no Paquistão. O Lashkar-e-Jhangvi (LeJ) tem ligações fortes à al-Qaeda, de base sunita, e também aos taliban.

 

Não são ainda claras as razões que levaram aquele grupo a atacar a comunidade xiita no Afeganistão, mas alguns observadores falam na possibilidade de se estar a incitar o sectarismo no País, eventualmente, com o objectivo de fragilizar a actual liderança política do Presidente Hamid Karzai e o modelo de governação daquele Estado.

 

O jornal paquistanês Dawn interrogava-se precisamente sobre essa possibilidade e referia que as autoridades afegãs acreditam que estes atentados tinham como objectivo reforçar a insurreição que se prolonga já há dez anos, altura em que os Estados Unidos decidiram invadir o Afeganistão.

 

Uma coisa é certa, sublinhava o mesmo Dawn, os atentados de Terça-feira importaram do Iraque e do Paquistão um estilo de violência sectária até então inexistente no Afeganistão.

 

Ainda nesta lógica de guerra intestina islâmica entre xiitas e sunitas, da Síria vieram sinais reveladores de que os tempos vindouros poderão trazer ainda mais violência sectária. Dominada há décadas pela minoria alauita (xiitas), a Síria é um país predominantemente sunita, embora, por razões óbvias, tenha mantido relações estreitas com o regime xiita do Irão e partilhe com este o apoio a movimentos como o Hezbollah ou o Hamas.

 

Curiosamente, também na Terça-feira, um dos líderes sunitas da oposição ao regime de Bashar al-Assad veio cavar ainda mais as trincheiras.  Burhan Ghaliun, líder do recém criado Conselho Nacional Sírio, avisou que se a Síria vier a ser liderada por si cortará as relações com o Irão, com o Hezbollah e com o Hamas.

 

Reagindo a estas palavras, e também por ocasião da celebração do Ashura, mas desta vez no Líbano, o líder xiita do Hezbollah, Hassan Nasrallah, veio manifestar o seu apoio a Bashar al-Assad. Numa rara aparição pública e falando para milhares de pessoas num bairro a sul de Beirute, um bastião xiita, Nasrallah aproveitou ainda para atacar Ghaliun.

 

"Drones" voltam a atacar nas zonas tribais do Paquistão

Alexandre Guerra, 27.10.11

 

 

Apesar do seu enquadramento legal ser duvidoso, a verdade é que os veículos militares americanos não tripulados continuam a fazer baixas no Paquistão. Hoje, um "drone" do Exército americano eliminou cinco comandantes talibans pertencentes à facção de Maulvi Nazir (incluindo o próprio) nas zonas tribais do Paquistão.

  

Mais um ataque de muçulmanos contra muçulmanos no Paquistão

Alexandre Guerra, 28.05.10

 

 

Comandos paquistaneses tentam controlar uma das duas mesquistas atacadas hoje em Lahore/Arif Ali/Agence France-Press/Getty Images

 

Ataques simultâneos em duas mesquistas na cidade paquistanesa de Lahore provocaram hoje mais de 80 mortos. Aproveitando o dia de descanço muçulmano, vários homens armados lançaram granadas e dispararam tiros sobre as pessoas que se encontravam naqueles recintos para as suas orações.

 

As vítimas destes ataques pertenciam a uma seita minoritária islâmica, os Ahmadis, e terão sido alvo, segundo algumas informações, de uma acção terrorista levada a cabo pelos taliban paquistaneses, também eles muçulmanos.

 

Tal como o Diplomataaqui abordou várias vezes, este ataque é revelador da explosiva situação que se vive no Paquistão. Ali Dayan Hassan, da Human Rights Watch, disse à BBC News que estas pessoas eram "alvos fáceis" para os sunitas radicais taliban, que consideram os Ahmadis uns infiéis.

 

A violência sectária no Paquistão tem sido uma constante nos últimos tempos, sobretudo a partir do momento em que os taliban paquistaneses começaram a ganhar preponderância e autonomia nalgumas regiões tribais e fronteiriças com o Afeganistão. Mas, o problema coloca-se também ao nível do Estado central paquistanês, já que o Exército e outras forças de segurança têm, por vezes, uma posição dúbia em relação aos taliban paquistaneses.

 

Estes ataques já foram condenados pelas autoridades regionais e nacionais, no entanto, desde há muito que Islamabad tem sido acusado por Washington, muitas vezes de forma informal, de não ter uma política coerente no combate ao radicalismo islâmico no país.

  

Declarações preocupantes, mas não surpreendentes

Alexandre Guerra, 09.05.10

 

Declarações preocupantes, mas não surpreendentes. É pelo menos esta a leitura que o Diplomata faz das revelações do Procurador-Geral dos Estados Unidos, Eric Holder, ao confirmar que as autoridades têm provas de que por detrás do atentado falhado na Times Square no passado dia 1 estiveram talibans paquistaneses.

 

Holder informou que militantes terão participado activamente na preparação do atentado, assim como no financiamento à operação. As autoridades americanas já detiveram um cidadão paquistanês nascido nos Estados Unidos, que terá colaborado e conduzido à informação agora revelada pelo Procurador-Geral.

 

Faisal Shazhad, de 30 anos, terá revelado aos investigadores que foi apoiado no Paquistão, mais concretamente na região do Waziristão Norte, um forte bastião dos talibans paquistaneses.

 

Esta revelação é muito importante, já que é a primeira vez, pelo menos que haja conhecimento, que os talibans paquistaneses prepararam uma operação terrorista nos Estados Unidos e, aparentemente, autónoma da hierarquia dos talibans afegãos.

 

O anúncio de Holder é também uma forma da administração do Presidente Barack Obama pressionar o regime de Islamabad para actuar com mais agressividade nas zonas tribais do Paquistão. Washington está cada vez mais preocupado com a situação vivida naquele país.

 

No início de Abril, o Diplomata escrevia aqui que o Paquistão vivia uma autêntica insurreição islâmica, mas que poucos queriam admitir. No entanto, a ligação entre a tentativa de atentado na Times Square e as estruturas terroristas no Paquistão começam a deixar pouca margem ao regime paquistanês para continuar com uma atitude dúbia em relação à postura do seu Exército face aos talibans.

  

Será a captura de Mullah Baradar o início de uma estratégia silenciosa da Casa Branca?

Alexandre Guerra, 16.02.10

 

NYT/David Guttenfelder/Associated Press

 

O New York Times, citando fontes governamentais, noticiou que o mais alto comando militar taliban foi detido no Paquistão há alguns dias. O comandante Mullah Abdul Ghani Baradar terá sido capturado em Karachi, depois dos serviços de “intelligence” paquistaneses, ISI, terem efectuado um raid numa Madrassa daquela cidade no passado dia 8 de Fevereiro. É ainda pouco claro se a CIA terá tido envolvimento directo na operação, mas é quase certo que terá havido, pelo menos, uma coordenação e troca de informação prévia entre as duas agências.

 
Embora ainda não tenha sido oficialmente confirmada por Islamabad ou Washington, várias fontes americanas citadas por vários meios de comunicação social americanos sublinham a importância desta captura, tendo, inclusive, responsáveis governamentais dito ao New York Times que se trata da detenção mais importante desde o início da guerra do Afeganistão em 2001.
 
Baradar, sobre quem pesa um mandado internacional de captura, é tido como o principal mentor do planeamento estratégico-militar da insurreição taliban no sul do Afeganistão, sendo em termos tácticos responsável pela introdução dos temíveis dispositivos explosivos improvisados (IEDs). De acordo com os relatos, é o número dois na hierarquia daquele movimento, imediatamente a seguir ao líder espiritual, Mullah Omar.
 
A grande questão é perceber até que ponto é que esta detenção, caso se confirme oficialmente, influenciará a estratégia militar da NATO e das forças americanas no Afeganistão. Numa primeira análise poder-se-á identificar duas implicações directas no lado taliban: “militares” e “morais”.
 
Partindo do princípio que o comandante Mullah Abdul Baradar era de facto um líder incontornável no planeamento estratégico-militar no sul do Afeganistão, os serviços de “intelligence” (leia-se sobretudo CIA) terão aqui uma oportunidade para identificar potenciais sucessores e, desde logo, “marcá-los” como alvos, retirando qualquer espaço de manobra para que os mesmos possam estabelecer as suas redes de confiança e hierárquicas. Ao mesmo tempo, as forças militares da NATO no terreno poderão aproveitar alguma desorientação táctica e estratégica no seio taliban.
 
Em termos morais, a captura de uma referência tão importante como a de Mullah Abdul Baradar poderá ter efeitos negativos nas trincheiras taliban, no entanto, é bastante difícil asseverar com certeza até onde iria a influência espiritual exercida por aquele líder junto dos seus homens.   
 
Do lado das forças americanas, existe claramente uma oportunidade para que a CIA consiga recolher o máximo de “intelligence” possível ao comandante taliban. Aliás, este já se encontra detido há vários dias e fontes militares americanas citadas pelo New York Times informaram que Mullah Baradar poderá conduzir a outros altos responsáveis taliban.
 
A captura daquela figura poderá, no entanto, ter tido outros propósitos, inseridos na lógica negocial com líderes taliban moderados, que há já algum tempo tem vindo a ser colocada em cima da mesa por Washington, admitindo que só desta forma se conseguirá alcançar uma solução estável no terreno.
 
Ora, diz-se que Mullah Baradar é favorável à negociação com os americanos, tendo a sua detenção sido uma estratégia previamente concertada para se criar um canal de comunicação sem que aquele comandante taliban ficasse fragilizado aos olhos dos seus homens.  
 
Embora mais conspirativa, esta possibilidade não deixa de fazer sentido à luz do novo posicionamento da administração americana liderada por Barack Obama, claramente empenhada em encontrar uma via que lhe permita começar a retirar, o mais cedo possível, soldados do Afeganistão. 
 
Apesar de Obama ter reforçado o contingente naquele país, o Presidente tem a noção clara de ser o fôlego derradeiro para a prossecução de uma solução que permita aos Estados Unidos deixar o Afeganistão numa situação minimamente estável.

 

Uma vez que a via militar tem-se revelado infrutífera, têm sido cada vez mais as vozes a defenderem uma abordagem de "engagement" com os líderes taliban moderados ou disponíveis para negociar. Ora, a detenção de Mullah Baradar poderá ser o primeiro passo de uma estratégia silenciosa desenvolvida pela Casa Branca, com o objectivo de compromoter negocialmente vários líderes afegãos.

 

Washington terá que apoiar líderes corruptos para afastar talibans dos centros de poder

Alexandre Guerra, 30.10.09

 

Milícias tribais em Kanju, 5 de Outubro de 2009/Foto Alex Rodriguez/Los Angeles Times

 

A propósito da onda de ataques terroristas que têm assolado o Paquistão com particular intensidade neste mês de Outubro e face aos desenvolvimentos militares no Afeganistão, Max Hastings, colunista do Financial Times, questionava num artigo de opinião esta Quinta-feira se os interesses estratégicos do Ocidente na região são vitais.

 

Para Hastings, esta é uma pergunta para a qual a Casa Branca anda à procura de resposta, e que à luz das dificuldades crescentes faz cada vez mais sentido reflectir sobre a mesma.

 

Na opinião do famoso jornalista e escritor paquistanês, Ahmed Rashid, os Estados Unidos devem manter o seu empenho e o seu compromisso militar e político na região. Caso contrário, existe um risco real de “talibanização” de toda a região da Ásia Central, alastrando a países remotos como o Tajiquistão, o Turquemenistão, o Uzbequistão ou Quirguistão.

 

Porque apesar das dificuldades que os soldados americanos têm encontrado no terreno afegão e que as forças da CIA têm enfrentado no Paquistão, todo este envolvimento militar e político serve, de certa forma, como “travão” a uma constante pressão de “talibanização” não só no Afeganistão, mas em várias regiões no Paquistão e noutros países da Ásia Central. O Afeganistão, aliás, é um bom exemplo dessa realidade, quando nos anos 90 se tornou um autêntico “playground” de terroristas, a partir do qual saíram os estrategos e os autores dos atentados de 11 de Setembro.

 

Polícia paquistanês observa refugiados do Waziristão em Paharpur, 22 de Outubro de 2009/Foto B.K.Bangash)

 

É reconhecido por todos que o combate ao movimento taliban está cada vez mais difícil no Afeganistão e no Paquistão, sobretudo nalgumas zonas rurais, sendo que um dos grandes objectivos neste momento passa pelo afastamento dos radicais islâmicos dos grandes centros de poder. 

 

É por isso que o pensamento de Rashid assenta numa lógica algo cruel, mas simples e realista: é preferível ter líderes corruptos nos países da Ásia Central do que governantes fundamentalistas islâmicos, cuja sua missão é impor a sharia da forma mais conservadora possível e combater o estilo de vida ímpio de todos aqueles que não seguem a orientação rigorosa e estrita dos preceitos do Corão.

 

Quanto mais fracos e debilitados forem os governos (e refira-se que naquela região são quase todos, incluindo o de Islamabad), mais tentados pela conquista de poder surgem os movimentos associados aos taliban. Perante este cenário, o apoio político por parte dos Estados Unidos e da Europa a esses mesmos governos assume-se como vital para a sua sobrevivência e resistência aos ataques taliban.

 

Peshawar, 28 de Outubro de 2009/Foto Mohammad Sajjad/Associated Press

 

Para já, e a julgar pelos mais recentes sinais enviados pela liderança de Washington, os Estados Unidos parecem continuar empenhados politicamente no Paquistão, tendo a secretário de Estado norte-americana, Hillary Clinton, manifestado apoio ao Paquistão perante o ataque bombista de Peshawar, na Quarta-feira, que fez mais de 100 mortos.

 

Porém, concomitantemente, Clinton encostou o Governo paquistanês à parede, exigindo explicações pelo falhanço na captura de alguns altos membros da al-Qaeda. Clinton admitiu que desde 2002 que o Paquistão é um “paraíso” para aquela rede.