Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata ao jantar com um dos homens que ajudou a derrubar Charles Taylor

Alexandre Guerra, 15.04.09

 

Silas Siakor numa base da ONU em Monróvia

 

Durante um jantar na Segunda-feira à noite que o autor destas linhas teve com um dos homens que ajudou a derrubar o regime de Charles Taylor na Libéria, foi possível perceber claramente a diferença de conceitos e de perspectivas na abordagem aos diferentes problemas dos Estados.

 

Para Siakor termos como "sustentabilidade" ou "corporate social responsability" pouco sentido fazem num país como a Libéria, com estruturas políticas débeis e onde os cidadãos esperam ver satisfeitas as necessidades mais básicas.  É por isso que acima de tudo, nações como a Libéria necessitam de "boa governança". 

 

Silas Siakor, activista e defensor dos direitos humanos, é internacionalmente reconhecido pelo trabalho que tem desenvolvido nos últimos anos na defesa dos direitos mais fundamentais das comunidades locais daquele país africano.

 

Siakor tem centrado parte dos seus esforços na defesa da grande mancha de floresta virgem que atravessa toda a África Ocidental e que ocupa uma considerável parte do território liberiano. A protecção dos recursos naturais e o seu melhor uso em prol da população tem sido a mensagem que Siakor tem tentado passar para os seus conterrâneos.

 

Obviamente que tal missão implicou inúmeros conflitos com o poder instituído e com as grandes empresas madeireiras que não se coibem de destruir a floresta sem que os autóctones tenham qualquer tipo de possibilidade de gerir tais recursos. 

 

Silas Siakor fotografa madeira ilegal

 

O seu trabalho começou nos anos 90, em plena guerra civil, que o mesmo descreveu como algo de brutal, onde a morte fazia parte do quotidiano e podia surgir em qualquer esquina. Esta foi a vida de Siakor e de outros milhares de liberianos que, dramaticamente, acabaram por se habituar a uma realidade sangrenta.

 

Relembre-se que a guerra civil liberiana teve início entre 1989 e 1990 quando a National Patriotic Front of Liberia (NPFL) de Charles Taylor tomou conta de parte do território, acabando por assumir o controlo da capital Monróvia e tirar do poder Sergeant Samuel Doe.

 

Em 1995, e depois de um acordo de paz firmado entre as partes que se mantiveram em confronto, Charles Taylor foi eleito Presidente, mas nem por isso aquela região encontrou a paz e a estabilidade.

 

Parte de Monróvia continua sem água e luz públicas 

 

Pelo contrário, este aproveitou-se do seu poder para montar um esquema de fábricas fictícias que empregavam milícias que se dedicavam ao espancamento e roubo de aldeões e à violação de mulheres. Ao mesmo tempo, Taylor exportava ilegalmente madeira para fora do país de modo a que pudesse financiar a guerra.

 

Silas foi o responsável pela descoberta destes esquemas e expô-los junto da ONU, que acabaram por servir de prova em vários julgamentos no tribunal especial de Haia para os crimes da Libéria e da Serra Leoa. Além disso, a ONU acabou por impor um embargo (entretanto levantado) à exportação de madeira da Libéria.

 

Actualmente, confessou ao Diplomata, que olha para trás e apercebe-se da loucura que na altura cometeu, arriscando a própria vida, porém era algo que tinha de fazer em prol da sociedade.    

 

Jovens liberianos a jogar à bola

 

Mas, apesar do país estar a viver um clima mais tranquilo com a eleição em 2005 de Ellen Johnson-Sirleaf,  e de haver esperança, a corrupção é endémica, a iliteracia uma praga e a influência de Charles Taylor ainda se faz sentir.

 

O próprio Silas, que testemunhou em Haia num dos julgamentos de uma das madeireiras internacionais, rejeitou, por exemplo, falar contra Taylor por recear represálias políticas contra o seu irmão, que partilha um dos dois cargos de senador de uma região da Libéria, com a mulher do ex-Presidente, sendo esta uma figura de maior influência e peso.

 

Silas Siakor recebe o The Goldman Environmental Prize em São Francisco

 

Seja como for, Silas tem feito inúmeros esforços no desenvolvimento das comunidades locais e na promoçãpo da defesa das terras e dos recursos naturais. Tal actividade valeu-lhe no ano passado a nomeação de "herói do ambiente" pela revista TIME. Já em 2006 tinha ganho o prestigiado prémio The Goldman Environmental Prize.