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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

A virtude do Congresso

Alexandre Guerra, 14.02.18

 

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FBI Director Christopher Wray (from left), CIA Director Mike Pompeo, Director of National Intelligence Dan Coats, Defense Intelligence Agency Director Lt. Gen. Robert Ashley, NSA Director Adm. Michael Rogers and National Geospatial-Intelligence Agency Director Robert Cardillo testify before the Senate intelligence committee on Tuesday. Foto: Chip Somodevilla/Getty Images

 

Aqui está algo que valorizo nos Estados Unidos... Ainda há uma certa reverência por um ideal maior, um certo respeito por uma ideia de poder ao serviço do Povo. Ver os responsáveis máximos de toda a comunidade de "intelligence" dos EUA sentados num comité do Senado para esclarecer a Nação, não deixa de ser também uma homenagem ao que de mais virtuoso emana da Constituição americana. É verdade que o Congresso consegue, por vezes, ser um autêntico fórum bizantino, mas quando alguém lá é chamado para "prestar contas", por mais poder e influências que tenha, sabe que a coisa nunca é para brincadeiras. Tantos "gigantes" que lá tombaram e tantos que sobranceiramente lá entraram e prostrados ficaram. Quando alguém está sentado naquelas cadeiras, não tem apenas que enfrentar os senadores e congressistas, tem que aguentar sobre os seus ombros todo o peso dos seus concidadãos. É precisamente essa a grande força do Congresso americano.  

 

Um voto com compaixão

Alexandre Guerra, 14.01.14

 

Dean Heller, senador pelo estado do Nevada/Foto: Yuri Gripas/Reuters

 

O Daily Beast chama-lhe o último senador conservador com compaixão -- alusão ao conceito celebrizado pelo antigo Presidente George W. Bush, "compassionate conservative" --, depois de Dean Heller, membro republicano no Senado, ter desafiado a disciplina de voto do seu partido em prol dos interesses dos seus eleitores do estado do Nevada.  

 

O episódio aconteceu há uns dias, durante a votação de uma "bill" no Senado, com vista à extensão por mais três meses de subsídios de apoio para desempregados de longa duração. O GOP opôs-se a este medida, mas Heller, juntamente com mais cinco colegas republicanos "dissidentes", apoiou a iniciativa dos democratas. A razão é simples: o estado do Nevada tem a maior taxa de desemprego dos Estados Unidos.

 

Com 9,3 por cento de desempregados no seu estado, Heller não podia ficar indiferente a uma "bill" que pretende atenuar o sofrimento de parte da população do Nevada. Além da responsabilidade política, é acima de tudo uma questão de princípio ético e moral. Sobretudo quando são as guerras intestinas no Congresso que conduziram a esta situação de emergência, ao deixar expirar um programa que tinha sido lançado, ironicamente, por George W. Bush. Chegou-se a um ponto em que os democratas e Heller preferem estender já a ajuda financeira e debater mais tarde a forma como será paga pelos cofres federais.

 

“Helping those in need should not be a partisan issue. Providing a limited social net is one of the responsibilities of the federal government. Unfortunately, instead of planning ahead and figuring the best way to do that, we are now forced to decide whether or not to reinstate these benefits after they’ve expired”, justificou Heller.  

 

Ao contrário do que acontece muitas vezes na política, Heller colocou-se numa posição mais desconfortável dentro do seu partido em defesa dos interesses do círculo eleitoral pelo qual foi eleito. E é isso mesmo que os eleitores esperam dos seus representantes. 

 

O limite da paciência democrata

Alexandre Guerra, 22.11.13

 

Foto: Stephen Crowley/The New York Times


A paciência dos democratas no Senado atingiu o limite. E com alguma razão, já que o Presidente Barack Obama foi o alvo preferencial dos filibusteiros republicanos naquela câmara do Congresso, impedindo a nomeação de altos cargos propostos pela Casa Branca. A partir desta Sexta-feira as regras mudaram no Senado, para contentamento de Harry Reid, líder dos democratas.

 

Um vergonhoso Senado trai americanos

Alexandre Guerra, 19.04.13

 

Obama conforta a mãe de uma vítima do tiroteiro de Newtown após a conferência de imprensa na Casa Branca de Quart-feira/Foto: Doug Mills/The New York Times

 

O Congresso norte-americano tanto é capaz de defender os mais elevados valores que se pretendem para uma sociedade democrática avançada, inspirando povos em todo o mundo, como pode cometer os maiores atentados ao progresso da "polis", gerando as maiores desconfianças e traindo o eleitorado que representa.

 

Quarta-feira, 90 por cento dos americanos (a julgar pelas sondagens), incluindo o Presidente Barack Obama, sentiram-se frustrados e, até mesmo, revoltados com o bloqueio no Senado de uma proposta de "bill" com várias medidas que iria na direcção de controlar o louco e frenético mercado interno de armas.

 

Refira-se que as medidas eram muito "suave", impondo algumas restrições pouco significativas, mas nem assim conseguiu ultrapassar o poderoso lobyy das armas, personificado naquela câmara do Congresso por mais de 50 senadores (a lei precisava de pelo menos 60 votos em 100 senadores para passar), que se opuseram à sua aprovação.

 

Obama, com razão, disse que aquela votação envergonhava "Washington". Mas mais do que isto, aqueles senadores traíram os americanos e fizeram vir ao de cima o pior da política dos corredores do poder: a cedência a uma minoria de americanos radicais na sua abordagem à II Emenda, com a National Rifle Association (NRA) à cabeça.

 

A imprensa americana foi implacável com os senadores que votaram contra a "bill", sobretudo porque esta foi forjada pelo democrata Joe Manchin e pelo republicano Pat Toomey, ambos entusiastas de armas.

 

Apenas quatro meses depois depois da América e os seus políticos terem "chorado" a morte de 20 crianças e seis adultos numa escola em Newtown, Connecticut, o Congresso não correspondeu às expectativas da sociedade, que após as promessas feitas pelos governantes em Dezembro esperavam medidas concretas.

 

Não só o Senado inviabilizou uma proposta de "bill" que fosse nesse sentido, como pretende tirar o tema da agenda. Harry Reid, líder daquela câmara, disse que os legisladores iam agora dedicar-se a outros assuntos e fazer uma "pausa" na matéria do controlo de armas.

 

Entretanto, é certo que mais tragédias vão acontecer nos Estados Unidos com armas de fogo e nesses momentos lá virão, novamente, todos os políticos em uníssono "chorar" os mortos e prometer medidas para combater o controlo de armas. Mas no final, já se sabe, fica tudo na mesma, imperando a hipocrisia e os interesses de minorias poderosas. E assim se vê a política americana no seu pior.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Barack Obama com as atenções viradas para as eleições no Massachusetts

Alexandre Guerra, 19.01.10

 

 

Associated Press

 

A eleição que está ainda a decorrer no estado do Massachusetts para o lugar de senador, deixado vago no Congresso em Washington com a morte de Edward M. Kennedy, em Agosto do ano passado, tornou-se numa batalha política muito interessante e emocionante, já que a poucas horas do encerramento das urnas se regista uma disputa renhida entre a democrata Martha M. Coakley e o republicano Scott P. Brown.

 

O que parecia ser uma vitória garantida há umas semanas da candidata democrata, mantendo-se assim a maioria de 60 lugares no Senado, que evitaria qualquer tentativa de bloqueio legislativo por parte dos republicanos, transformou-se numa autêntica ameaça para a Casa Branca.

 

Se daqui a poucas horas se confirmar a vitória de Scott P. Brown, o Presidente Barack Obama terá razões para ficar bastante preocupado, visto que todo o processo moroso e complexo que levou à aprovação, por parte das duas câmaras do Congresso, da reforma de saúde, poderá ter sido em vão.

 

Caso Brown venha a ocupar o lugar de Edward M. Kennedy, os republicanos poderão tentar impor no Senado o bloqueio do processo legislativo sobre a reforma de saúde, obrigando os democratas a fazerem ainda mais concessões caso queiram ver a "bill" aprovada.

 

A eleição no Massachusetts transformou-se num evento nacional, com Barack Obama certamente a desviar, por umas horas, as atenções do Haiti para o processo que está decorrer naquele estado federado norte-americano.

 

Uma coisa é certa, os eleitores do Massachusetts parecem ter percebido a importância do acto, uma vez que a participação está a ser massiva. 

 

Neste momento, ao Diplomata resta apenas aguardar mais umas horas até ao encerramento das urnas para poder analisar as consequências do acto eleitoral.

  

Senado mete seguro de saúde no "sapatinho" de Obama e de 30 milhões de americanos

Alexandre Guerra, 24.12.09

 

Presidente Barack Obama e o seu Vice, Joseph Biden, hoje, na Casa Branca Luke Sharrett/NYT

 

Em véspera de Natal, Barack Obama não poderia ter uma melhor prenda do que aquela que o Senado hoje lhe deu, ao votar favoravelmente a importante "bill", sobre a reformulação do sistema nacional de saúde, uma das principais promessas eleitorais feitas pelo Presidente americano. 

 

A votação de 60 contra 39 finaliza um longo processo de 25 dias de intensas discussões nas duas câmaras do Congresso sobre uma proposta que, entre outras coisas, permitirá alargar os seguros de saúde a cerca de 30 milhões de americanos que actualmente não têm qualquer cobertura médica.  

 

Após a aprovação da Câmara dos Representantes no mês passado e a votação de hoje no Senado, o próximo passo no Congresso é juntar as duas propostas de lei e torná-las num documento único. Este deverá ser um processo burocrático que não deverá levantar grandes problemas.

 

Quando a "bill" se tornar lei representará uma autêntica revolução no sistema nacional de saúde dos Estados Unidos e terá impacto na vida de todos os americanos, já que proposta prevê reduzir substancialmente os custos astronómicos que o Governo federal tem na quela área e que todos os anos fazem aumentar o défice americano.

 

Em termos genéricos, a nova lei vai estabelecer que todos os americanos (legalizados) tenham seguro de saúde, através de um modelo de responsabilização partilhada entre o Governo e as empresas. Este novo modelo vai imputar mais responsabilidades às autoridades federais, no entanto, permitirá ao mesmo tempo aliviar os custos da administração. Segundo o Congressional Budget Office, a lei irá custar 870 mil milhões de dólares nos próximos 10 anos.   

 

A votação de hoje no Senado coloca os Estados Unidos a um passo de fazer História, algo que tinha sido tentado infrutiferamente ao longo das últimas décadas . Em tempos mais recentes, sob a administração de Bill Clinton, Hillary ainda tentou avançar com um projecto, porém, sem grande sucesso. 

 

Politicamente, esta sempre foi uma batalha dos democratas, que comparam o actual momento à criação da Segurança Social em 1935 ou do Medicare em 1965. Exemplo disso, é o facto de nenhum republicano ter votado favoravelmente hoje no Senado e apenas um o ter feito na Câmara dos Representantes no mês passado.