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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Spicer, entrou e saiu como propagandista

Alexandre Guerra, 24.07.17

 

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Sean Spicer aguentou cerca de seis meses enquanto “press secretary” da Casa Branca. Foi um feito. Logo nos primeiros dias a seguir à tomada de posse de Donald Trump, tive oportunidade de acompanhar nos EUA as primeiras intervenções do porta-voz da Casa Branca. Foi um exercício penoso de se ver. Na altura, no “briefing room”, chegou mesmo a ser interrogado por um dos jornalistas se acreditava mesmo naquilo que estava a dizer. Eu nem queria acreditar. Como era possível que os jornalistas questionassem a palavra do porta-voz do Presidente logo nos primeiros dias de mandato?

 

Era um facto que a sua reputação e credibilidade ficaram logo à partida arrasadas junto dos jornalistas. Não era visto como um verdadeiro porta-voz, mas sim como um propagandista. E também se percebeu que Spicer caminhava para o abismo. E por isso o comparei àquele ministro iraquiano da Informação, que foi o porta-voz de Saddam Hussein durante a invasão americana em 2003, e que ficou célebre pela sua propaganda tola (e que divertiu muita gente, incluindo o Presidente George W. Bush), ao repetir convictamente que o Exército iraquiano iria vencer aquela batalha, quando a realidade mostrava os soldados americanos já às portas de Bagdade. Loucura à parte, a verdade é que a partir daí Mohammed Saeed al-Sahaf se tornou uma estrela à escala global até com direito a clube de fãs. E, por isso, na altura escrevi: “Pode ser que Spicer tenha a mesma ‘sorte’.” E não é que teve mesmo... Sai totalmente descredibilizado junto dos jornalistas, mas com uma notoriedade invejável para quem gosta dessas coisas.

 

Sean Spicer, um porta-voz à medida do seu líder

Alexandre Guerra, 31.01.17

 

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Depois de Donald Trump ter dado, na Quarta-feira passada, a primeira entrevista em sinal aberto ao canal ABC, no dia a seguir reparei que um dos apresentadores da FOX News não deixou de atirar uma "boca" ao Presidente por ter escolhido a concorrência para tão importante momento televisivo. De facto, nessa altura, só faltava mesmo a "insuspeita" FOX News juntar-se ao coro de críticas que vinham dos media americanos. Trump foi literalmente arrasado durante a primeira semana de mandato, com os principais canais noticiosos americanos a dissecarem até ao tutano os vários disparates que se iam sucedendo. Tive o privilégio de assistir a essa primeira semana da presidência de Trump nos EUA, mas a questão é de que não me recordo de qualquer outro mandato ter começado de forma tão atribulada e polémica. Primeiro, foi a argumentação patética de Trump por causa da assistência que esteve na cerimónia do "inauguration day" em Washington, depois veio a polémica do muro e a questão do imposto de 20 por cento sobre produtos mexicanos. Trump lançou ainda a "bomba" da possível fraude eleitoral, algo que terá passado despercebido nos media europeus, mas que os jornalistas americanos consideraram uma acusação de proporções monumentais, questionando o Presidente por que razão então não concretizava essa acusação e pedia uma investigação federal. E, finalmente, a "immigration order". Muita coisa para apenas uma semana e meia de trabalho. E em todas estas frentes de combate mediático, Trump tem contado basicamente apenas com uma pessoa ao seu lado: Sean Spicer, o seu assessor de imprensa. Nestes quatro casos, Spicer, tal e qual como se estivesse frente a um pelotão de fuzilamento, surgiu perante os jornalistas num exercício penoso e que o próprio um dia deverá recordar como momentos bastante humilhantes na sua carreira.

 

Spicer, num dos briefings da Casa Branca, chegou mesmo a ser interregoado por um dos jornalistas se acreditava mesmo naquilo que estava a dizer. Uma pergunta que eu nem queria acreditar estar a ouvir logo na primeira semana de trabalho de uma presidência. Como era possível que os jornalistas questionassem a palavra do assessor de imprensa do Presidente logo nos primeiros dias de mantado? Mas a verdade é que Spicer tem sido o único porta-voz das trapalhadas de Trump e isso certamente terá custos na sua reputação e credibilidade junto dos jornalistas. Nem mesmo outras figuras republicanas se têm atravessado pelas medidas que o Presidente tem adoptado. Na verdade, as figuras de topo do Partido Republicano ou estão caladas ou as que têm aparecido é para criticarem.

 

Reconheça-se que, apesar dos erros e dos disparates, coragem é coisa que parece não faltar a Spicer porque, mesmo caminhando para o abismo, ele segue em frente. Ou, por outro lado, também pode ser apenas loucura. Lembro-me sempre daquele ministro iraquiano da Informação e que foi o porta-voz de Saddam Hussein durante a invasão americana em 2003, que ficou célebre pela sua propaganda tola (e que divertiu muita gente, incluindo o Presidente George W. Bush), ao repetir convictamente que o Exército iraquiano iria vencer aquela batalha, quando a realidade mostrava os soldados americanos já às portas de Bagdade. Loucura à parte, a verdade é que a partir daí Mohammed Saeed al-Sahaf se tornou uma estrela à escala global até com direito a clube de fãs. Pode ser que Spicer tenha a mesma sorte.

 

Publicado originalmente no Delito de Opinião.