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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Um voto com compaixão

Alexandre Guerra, 14.01.14

 

Dean Heller, senador pelo estado do Nevada/Foto: Yuri Gripas/Reuters

 

O Daily Beast chama-lhe o último senador conservador com compaixão -- alusão ao conceito celebrizado pelo antigo Presidente George W. Bush, "compassionate conservative" --, depois de Dean Heller, membro republicano no Senado, ter desafiado a disciplina de voto do seu partido em prol dos interesses dos seus eleitores do estado do Nevada.  

 

O episódio aconteceu há uns dias, durante a votação de uma "bill" no Senado, com vista à extensão por mais três meses de subsídios de apoio para desempregados de longa duração. O GOP opôs-se a este medida, mas Heller, juntamente com mais cinco colegas republicanos "dissidentes", apoiou a iniciativa dos democratas. A razão é simples: o estado do Nevada tem a maior taxa de desemprego dos Estados Unidos.

 

Com 9,3 por cento de desempregados no seu estado, Heller não podia ficar indiferente a uma "bill" que pretende atenuar o sofrimento de parte da população do Nevada. Além da responsabilidade política, é acima de tudo uma questão de princípio ético e moral. Sobretudo quando são as guerras intestinas no Congresso que conduziram a esta situação de emergência, ao deixar expirar um programa que tinha sido lançado, ironicamente, por George W. Bush. Chegou-se a um ponto em que os democratas e Heller preferem estender já a ajuda financeira e debater mais tarde a forma como será paga pelos cofres federais.

 

“Helping those in need should not be a partisan issue. Providing a limited social net is one of the responsibilities of the federal government. Unfortunately, instead of planning ahead and figuring the best way to do that, we are now forced to decide whether or not to reinstate these benefits after they’ve expired”, justificou Heller.  

 

Ao contrário do que acontece muitas vezes na política, Heller colocou-se numa posição mais desconfortável dentro do seu partido em defesa dos interesses do círculo eleitoral pelo qual foi eleito. E é isso mesmo que os eleitores esperam dos seus representantes. 

 

Obama já percebeu a importância do voto hispânico, mas os republicanos nem por isso

Alexandre Guerra, 21.06.11

 

 

Obama almoçava no passado dia 14 com o senador porto-riquenho, Alexandro Garcia Padilla, num restaurante perto de San Juan, Porto Rico/Foto: White House/Pete Souza

 

Barack Obama realizou no passado dia 14 uma visita de cinco horas à ilha de Porto Rico, sendo o primeiro Presidente americano a fazê-lo de forma oficial em 50 anos, desde que Joseph F. Kennedy ali tinha estado. Uma visita que é, sobretudo, um sintoma da metamorfose na geografia política e do voto nos Estados Unidos, evidenciada com os resultados dos censos de 2010.

 

Assim, numa altura em que as hostes republicanas se agitam na demanda pelo seu candidato à Casa Branca, Obama, em vantagem nesta corrida, foi a Porto Rico, um Estado Livre Associado dos Estados Unidos, para fazer campanha pura e dura.

 

Porém, uma campanha não direccionada para os eleitores daquela ilha, irrelevantes para a contenda eleitoral de 2012, mas focada nos 4,6 milhões de

eleitores porto-riquenhos a viver em território americano.

 

Alguns analistas, sustentados nos factos numéricos, não têm dúvidas ao afirmar que os porto-riquenhos são hoje uma força política em ascensão no sistema eleitoral americano, comparada à emergência do papel dos cubanos há uns 20 anos.

 

Esta ilação não deixa de fazer um certo sentido, não apenas pelo número significativo de porto-riquenhos, mas sobretudo pela forma como estão distribuídos geograficamente por alguns estados norte-americanos.

 

Por exemplo, cerca de 850 mil eleitores porto-riquenhos residem na Florida, sendo que a sua maioria está concentrada na área metropolitana de Orlando. Ora, a Florida é historicamente um “swing state” e todos os votos são importantes na hora da contagem.

 

O voto hispânico foi determinante para Obama na sua vitória naquele estado em 2008, tendo, por exemplo, sido o primeiro Presidente democrata, em 40 anos, a vencer em Orlando.

 

Tal como em 2008, também nesta campanha presidencial Obama já demonstrou que vai dar muita atenção não apenas aos porto-riquenhos, mas ao voto hispânico em geral. Uma estratégia lógica tendo em conta os censos de 2010, que revelam uma nova realidade, para a qual os republicanos parecem ainda não ter interiorizado.

 

Actualmente vivem sensivelmente 50 milhões de hispânicos nos Estados Unidos, um aumento de 46 por cento em relação há uma década, de acordo com os censos de 2010.

 

Por outro lado, o Pew Hispanic Center revela que os hispânicos representaram 6,9 por cento do total dos eleitores nas últimas eleições intercalares, uma subida significativa em relação aos 5,6 por cento de 2006. 

 

Outra informação importante para o “staff” de Obama é o facto de 60 por cento dos eleitores hispânicos terem votado nos democratas nas eleições de Novembro.

 

Apesar da importância crescente do voto hispânico, à qual os democratas estão atentos, o USA Today chamava a atenção para a ausência de uma estratégia dos candidatos republicanos para cativar aqueles eleitores. Além dos seus discursos não manifestarem particulares atenções para os hispânicos, aquele jornal salientava a título de exemplo que nenhum dos principais candidatos do GOP tinha uma versão em língua espanhola dos seus sites da campanha.

 

Do criacionismo à masturbação, passando pela feitiçaria, O'Donnell é má demais

Alexandre Guerra, 14.10.10

 

Christine O'Donnell no primeiro debate com o seu rival, Chris Coons/Jacquelyn Martin/AP

 

Christine O'Donnell, que saltou para a ribalta depois de ter vencido surpreendentemente as primárias do Partido Republicano no Delaware para a corrida ao lugar do Senado em disputa para aquele estado nas eleições de Novembro, participou ontem no primeiro debate televisivo com o seu rival democrata, Chris Coons.

 

O resultado não podia ter sido mais desastroso para O'Donnell, uma das "estrelas" em ascensão do Tea Party, uma corrente ultraconservadora dentro do Grand Old Party. Ramón Lobo, no seu blogue Aguas Internacionales do El País, e com a ajuda do The Daily Beast, faz uma síntese da prestação de O'Donnell que, nalguns momentos, chega a ser embaraçosa e angustiante, devido à ignorância e falta de preparação da candidata. Ramón Lobo recupera ainda algumas "pérolas" antigas de O'Donnell.

 

O péssimo desempenho de O'Donnell, na forma e na substância, vem assim dar razão aos analistas que aquando da sua vitória nas primárias consideraram que teria poucas possibilidades de conquistar o assento no Senado.

 

Também no seio do GOP se ouviram algumas vozes críticas, tendo a de Karl Rove, estratego do ex-Presidente George W. Bush, sido a mais audível, acusando O'Donnell de não ter qualificações para assumir um eventual lugar de senadora.

 

O'Donnell é a mulher que se segue no Tea Party, mas não deverá chegar ao Senado

Alexandre Guerra, 15.09.10

 

Christine O'Donnell a celebrar a vitória em Dover, Delaware/Foto:Jessica Kourkounis/NYT

 

É a nova sensação da cena política americana. Christine O’Donnell venceu ontem as primárias no Estado de Delaware, fazendo cair por terra o candidato do Partido Republicano, Michael N. Castle, que pretendia renovar o seu lugar no Senado americano nas eleições intercalares do próximo dia 2 de Novembro.

 

Até aqui tudo poderia parecer uma normal contenda intestina eleitoral entre candidatos republicanos, mas a verdade é que O’Donnell apresentou-se às urnas como representante do Tea Party e não pelo Partido Republicano.

 

O Tea Party é considerado um movimento ideologicamente mais conservador no campo republicano, e que tem como principal figura Sarah Palin, candidata à vice-presidência dos Estados Unidos no “ticket” com John McCain nas eleições de 2008.

 

As declarações proferidas por O’Donnell imediatamente a seguir à sua vitória demonstram bem o distanciamento que o Tea Party quer vincar em relação ao aparelho republicano, ao dizer que terá todo o gosto em aceitar o apoio do partido, mas deixando o recado de que não precisaria.

 

Com este resultado nas primárias, e contra todas as expectativas, do lado conservador será O’Donnell a enfrentar o candidato democrata no dia 2 de Novembro na corrida ao lugar do Senado.

 

Perante esta e outras vitórias do Tea Party nas primárias de ontem, dentro do aparelho republicano começam a surgir alguns sinais de desconforto e de desorientação.

 

Karl Rove, antigo estratego do ex-Presidente George W. Bush, não viu com bons olhos a vitória de O’Donnell e já veio dizer que esta não tem qualificações para assumir um eventual lugar de senadora. Por outro lado, o comité nacional republicano do Senado deu o seu apoio a todos os candidatos republicanos no Delaware, incluindo a O’Donnell.

 

Para todos os efeitos, os seguidores do Tea Party são formalmente membros do Partido Republicano, embora se assumam cada vez mais como um movimento marginal ao “aparelho” do Grand Old Party.

 

Mas, as considerações de Rove poderão fazer algum sentido, já que segundo alguns analistas, a vitória de O’Donnell poderá ter afastado as hipóteses de uma vitória sobre o Partido Democrata na disputa pelo lugar no Senado no dia 2 de Novembro, o que a acontecer poderá comprometer a estratégia republicana de voltar a ganhar a maioria naquela câmara.