Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

A importância do segredo

Alexandre Guerra, 16.10.18

 

Para os saudosos da Guerra Fria, os tempos que se vivem actualmente no sistema internacional são de anarquia total ao nível da comunidade de intelligence militar e paramilitar, mergulhada numa lógica de far west, onde se dispara primeiro e se pergunta depois, mesmo que em plena luz do dia, à vista de todos. A arte do segredo está a perder-se, porque, para se defender os interesses do Estado, já não é preciso fazer o “trabalho sujo” no obscurantismo das relações internacionais. Não se temem as consequências e tudo pode ser feita às claras ou com um grau de displicência que envergonharia qualquer agente da "velha guarda" do KGB ou da CIA. Como referia Ferreira Fernandes na sua última crónica no DN de Domingo, “o mais interessante é a generalização dessa linguagem de mata e esfola”, protagonizada por alguns líderes mundiais, nomeadamente por aqueles que estão à frente da Rússia e dos EUA, as duas super-potências que outrora dividiram os desígnios do mundo.

 

Este tipo de discurso irresponsável e inconsciente, conivente com práticas imorais e ilegais que são concretizadas quase sob os holofotes da opinião pública, contribui para um sentimento de impunidade no seio das comunidades das “secretas” mundiais. Retomando as palavras de Ferreira Fernandes, “peguemos no caso dos dois espiões russos que foram a Inglaterra matar um ex-colega que se passara para o outro lado. Foram a casa dele em Salisbury, envenenaram o que tinham para envenenar e regressaram a casa. Não se importaram de deixar pistas. Suspeitos, aparecem na televisão russa oficial com historietas despudoradas de terem ido a Salisbury invocando dados turísticos que vinham na Wikipédia. Tão descuidados, deixaram que os seus nomes reais aparecessem: são agentes da inteligência militar russa (GRU). Entretanto, outros espiões russos são apanhados em Haia, Holanda. Com sofisticação dos aparelhos faziam pirataria informática a partir de um carro estacionado frente à OIAC, organização que combateu as armas químicas. Fora a OIAC que provara a origem russa do veneno usado em Salisbury. Ora, os espiões russos de Haia eram um livro aberto: até faturas de táxis eles tinham de corridas apanhadas à porta da sede moscovita do GRU”.

 

Esta passagem da crónica de Ferreira Fernandes é elucidativa do que se passa hoje em dia no sistema internacional, onde as “covert operations” deram lugar a acções semi-clandestinas, sem que haja particular preocupação de se evitar embaraços político-diplomáticos. As estas duas histórias, outras tantas podíamos aqui referir que foram identificadas nos últimos tempos, sendo que a mais recente é de tal maneira inverosímil pelo seu grau de descuido e de incompetência, que custa a acreditar que tenha acontecido como tem sido noticiado. Caso se confirmem as notícias que têm vindo a público e a tese avançada pelo Governo de Ancara, o assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista crítico do regime de Raide, dentro do consulado árabe na capital turca, sob o ponto de vista realista e maquiavélico, é um dos maiores desastres da história dos serviços de intelligence. Por um lado, além da óbvia questão moral, colocará um problema muito complicado a Washington e, por outro, expõe o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (e líder “de facto”) ao julgamento público de ter “ido longe demais” no silenciamento dos seus opositores.

 

No sistema bipolar de Guerra Fria, as regras vigentes no sistema internacional eram claras e seguidas à risca pelos diferentes actores estatais. Dificilmente haveria espaço para “rogue killers” actuarem por sua conta e risco. Ninguém aprovaria uma operação com impacto sistémico sem que Moscovo ou Washington soubessem. Era impensável que serviços secretos de um qualquer país ousassem dar luz verde a uma “covert operation” sem que estivesse enquadrada nos interesses do “tabuleiro” sistémico bipolar (Israel foi sempre uma excepção na arquitectura da espionagem internacional).

 

Esse secretismo contribuiu para um equilíbrio sistémico que, com mais ou menos desanuviamento, com mais ou menos crise regional, evitou um novo conflito mundial. Na defesa dos seus interesses, Washington e Moscovo agiram, muitas vezes, à margem do quadro legal internacional e dos princípios éticos e morais, refugiando-se no obscuro mundo da espionagem. Essas operações e acções ficaram longe dos olhares da opinião pública, a quem o que interessava mais era a manutenção dos estilos de vida das suas sociedades.

 

Tal como nas relações sociais entre pessoas, também nas dinâmicas entre Estados, se, por um lado, nem tudo deve ficar no secretismo, também não se deve (e pode) meter tudo às claras, correndo-se o risco de se fomentarem crises político-diplomáticas, e até mesmo militares, que comprometam o status quo e, em última instância, a paz e segurança das pessoas. É por isso que a gestão do segredo continua a ser um factor fundamental na estabilidade das relações internacionais, porque, a partir do momento em que se instala nas sociedades a percepção de que tudo vale, de que ninguém respeita uma certa ordem tácita, a sensação de insegurança aumenta, abrindo caminho para a penetração de ideias políticas que sustentem a chegado ao poder de lideranças mais musculadas e autoritárias. Ou seja, será a altura em que os cidadãos das democracias preferirão sacrificar as suas liberdades e garantias em prol da segurança.

 

O saber é aquilo que não se esquece

Alexandre Guerra, 30.01.18

 

É com bastante entusiasmo que estou a ler o último livro de Jaime Nogueira Pinto, Bárbaros e Iluminados (D. Quixote). Algumas das passagens relembram-me as aulas dadas pelo autor numa das cadeiras do meu curso de Relações Internacionais, na segunda metade dos anos 90. Ao contrário de muitos dos meus colegas da altura – mais interessados em fazer “ditados” do que era dito –, provavelmente, eu era dos poucos que via naquelas aulas uma fonte de verdadeiro conhecimento, o saber que não esquecemos e que nos ajuda a perceber as forças dinâmicas da História e a antecipar algumas das imprevisibilidades do sistema internacional. Jaime Nogueira Pinto nunca foi do estilo professoral e dizia sempre, para aqueles que estavam mais obcecados em fazer “sebentas”, que datas e conteúdos factuais podiam ser encontrados num qualquer manual. O importante era perceber as motivações dos actores da História e saber interpretar as consequências das suas acções. Neste aspecto, Jaime Nogueira Pinto preferia ter como ponto de partida as histórias e estórias da História para depois lhes dar o devido enquadramento político e ideológico.

 

Foi nestas aulas que comecei a interessar-me seriamente pela relação íntima entre a dimensão literária de Dostoievsky (e outros) e o movimento histórico subsequente. Comecei a entender a obra deste escritor de outra maneira, vendo nela uma amostra sociológica de uma Rússia aburguesada e intelectual asfixiada pelo regime czarista e ansiosa por um admirável mundo novo. Escreve Jaime Nogueira Pinto que “não era de estranhar que as novas gerações intelectuais e técnicas, oriundas das classes médias e da burocracia estatal […]” se atirariam para os “braços dos grupos revolucionários”. Em romances como O IdiotaOs Irmãos Karamazov ou Os Demónios, “Dostoievsky antevira o tipo de pessoas em que [esses burgueses] se transformariam”. Apesar dessa ânsia de mudança, Dostoievsky nunca teve dúvidas quanto aos “riscos do moralismo e do construtivismo utópicos dos intelectuais, fundamentados numa versão optimista da condição humana”. Pelo contrário, toda a literatura de Dostoivesky é marcada pela imperfeição humana, pelo conflito, pela injustiça. O mundo idílico dos utopistas para uma nova Rússia não cabia na visão de Dostoievsky e, para mim, depois daquelas aulas, isso passou a ser tão evidente nos textos daquele escritor.

 

Neste processo revolucionário, Jaime Nogueira Pinto volta ao incontornável Yevgeny Zamyatin, um autor de que ouvi falar pela primeira vez precisamente nas suas aulas. Desde então tornou-se uma espécie de referência bibliográfica em livros ou textos que escrevo. Talvez pela irreverência própria da juventude, Zamyatin tinha o sonho de mudar a sociedade russa, à semelhança de qualquer revolucionário que se prezasse, no entanto, o seu “ímpeto foi decrescendo à medida que crescia a propensão autoritária e controladora do Partido Comunista e a censura das Letras e das Artes”. De eufórico revolucionário, Zamyatin passou a um dos mais críticos do regime de Estaline, tendo sido preso e, mais tarde, com a ajuda dos bons ofícios de Gorky junto de Estaline, conseguiu exilar-se em França. Sem ilusões quanto ao carácter virtuoso da nova sociedade e do “novo homem” soviético, em 1920 publica “a primeira obra utópica, depois da implantação da utopia”. Nós é um livro fascinante, que conta a história, num futuro muito distante, de uma sociedade perfeita, orientada por um Estado único, onde tudo é eficaz e as pessoas vivem felizes. O único problema é que esse poder organizativo é totalitário e tudo assenta numa aparente ilusão e numa “alteração forçada da condição humana”, tal como aconteceu com o bolchevismo nos primeiros anos.

 

Desde as aulas de Jaime Nogueira Pinto, nunca mais esqueci a importância de Zamyatin na tradição literária da “distopia política” do século XX. E, sobretudo, aprendi a olhar para algumas obras, não apenas como ferramentas de enquandramento social e político de fenómenos do sistema internacional, mas também como elementos prospectivos daquilo que possa estar para vir.

 

Texto publicado originalmente no Delito de Opinião

 

Não é preciso uma bola de cristal

Alexandre Guerra, 18.04.17

 

Há quem tenha jeito para antecipar crises na bolsa, choques petrolíferos, oscilações nos mercados, se vai ser rapaz ou rapariga, se o Benfica vai ganhar o campeonato ou até se vai chover ou fazer sol no dia seguinte. Nos Estados Unidos, na localidade de Punxsutawney, na Pensilvânia, até há uma marmota que consegue prever o fim do Inverno e o início da Primavera. Reconheço que não tenho qualquer desses dons premonitórios, mas sempre tive algum jeito para antecipar movimentações ou acontecimentos internacionais. Nunca tive acesso a informação particularmente privilegiada e, muito menos, qualquer inspiração divina ou bola de cristal em casa (embora sempre quisesse ter uma daquelas com raios de electricidade). A receita é simples: alguma informação de background; ver com atenção as notícias e asseverar a credibilidade das suas fontes; ir acompanhando os assuntos ao longo dos anos; e alguma perspicácia na análise. Recordo que foi assim que dei uma manchete ao extinto SEMANÁRIO, com a chegada das forças especiais norte-americanas ao Afeganistão, semanas depois do 11 de Setembro, no mesmo dia em que a imprensa americana dava a notícia. Ou, quando fiz outra manchete com a notícia de um golpe de Estado iminiente na Guiné Bissau (aqui, com a ajuda de algumas fontes), o que veio acontecer meses depois, apesar dos protestos de Bissau àquela notícia.

 

Nos útimas semanas, verificaram-se três acontecimentos cuja sua previsão não era assim tão difícil e aos quais fiz referência ainda antes de acontecerem perante um silêncio quase absoluto sobre os mesmos. A 6 de Março, depois da Coreia do Norte ter testado mais quatro mísseis e de ainda ninguém estar minimamente preocupado com o assunto, escrevia que a "comunidade internacional parece estar bastante permissiva perante esta ameaça, dando muito mais atenção a outros assuntos (importantes, é certo), mas que não têm a gravidade do que se está a passar" naquele país. E mais à frente falava na possibilidade de acções "preemptivas" e "preventivas" contra Pyongyang. Duas semanas depois, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, admitia que essa hipótese estava em "cima da mesa". A partir daí, o tema rapidamente escalou para o topo da agenda internacional, como se tem constatado. O mesmo aconteceu com o referendo turco, que rebentou com estrondo na Europa, apesar de há muito as "cartas" estarem todas em cima da mesa. E a 28 de Março sublinhava precisamente que o que era "preocupante é que no seio das elites políticas e dos iluminados comentadores que por aí andam, instalou-se um histerismo colectivo em relação a alguns senhores e senhoras 'populistas' que têm ido (e vão) a votos nalguns países europeus, mas sobre o que está em jogo no referendo da Turquia, com muitas perspectivas de ver o 'sim' ganhar, nem uma palavra". Mais, já a 9 de Janeiro dizia que Erdogan ia "caminho da entronização". Por fim, esta Terça-feira, Theresa May anunciou "surpreendentemente" eleições antecipadas no Reino Unido. Ora, mas a surpresa seria assim tanta? A 5 de Setembro do ano passado, em jeito de sugestão à senhora May, propunha isto: "Vislumbra-se uma saída para toda esta questão e que, por um lado, permitiria legitimar popularmente o poder de May e, por outro, abrir uma oportunidade democrática para que o processo [Brexit] pudesse parar. E que via seria essa? Simples, a de eleições antecipadas."

 

O exercício que aqui fiz serve apenas para mostar que os acontecimentos internacionais, regra geral, não surgem do nada, numa espécie de combustão espontânea, para grande espanto de todos. Pelo contrário, há sinais, evidências, um processo, um histórico que nos permite prever ou antecipar determinados cenários ou realidades. Se é verdade que não se exige ao comum dos cidadãos que acompanhe estes assuntos com particular empenho, já os políticos e decisores têm a obrigação de andarem um pouco mais atentos, para depois não serem apanhados de surpresa.

 

A cultura do desporto e o poder dos Estados

Alexandre Guerra, 07.08.12

 

Zho Lulu, atleta chinesa a bater um recorde mundial/Foto: Oficial/London2012

 

Que ninguém se iluda, em Portugal não existe uma cultura desportiva na sociedade e muito menos uma abordagem política ao desporto enquanto factor de poder de um Estado (tal como também não existe para a língua ou para a cultura).

 

E quando se menciona desporto convém referir que não se está a falar de passeatas de Domingo no paredão da marginal ou de algumas futeboladas entre amigos de semana a semana.

 

O desporto, que aqui interessa, é aquele que se insere numa lógica competitiva, que pressupõe a superação diária de dificuldades, um espírito de autossacrifício e a ambição pela perfeição e pelos resultados. O desporto, assim, glorifica os seus intervenientes e prestigia as suas bandeiras.

 

Muitas das vezes, os Estados tentam reflectir nos feitos desportivos (tal como noutras áreas) um certo modelo de sociedade, evoluída e sofisticada. Na verdade, um pouco à imagem do pensamento “platónico”, a integração do desporto no quotidiano dos cidadãos representa um estádio evolutivo da "cidade".

 

Todas as nações com ambições nas Relações Internacionais utilizam o desporto como forma de prestígio e de ascensão mundial. Muitas das vezes de forma perversa, como aconteceu na Alemanha do III Reich, no regime Soviético durante a Guerra Fria ou na China emergente no início dos anos 90. Nestes casos não se podia falar numa verdadeira cultura social pelo desporto, mas antes numa política autoritária/totalitária governamental de “produção” de campeões. Um modelo que, à semelhança do paradigma que regia as suas sociedades, era insustentável e tendia a desabar, como veio a acontecer. A própria China, em plena globalização, foi obrigada a repensar a sua política desportiva, caso quisesse integrar o “concerto” das nações "respeitadas" no sistema internacional.

 

Entre os países mais desenvolvidos o desporto também foi sempre visto como um factor de poder, altamente valorizado, no entanto, o seu enquadramento na sociedade foi feito de forma “democrática” e sustentável.

 

Os Estados Unidos, goste-se ou não, serão o expoente máximo dessa homenagem ao desporto. Paradoxalmente, é um país que cultiva o sedentarismo e o facilitismo, mas ao mesmo tempo existe um entusiasmo genuíno pelo desporto.

 

Um entusiasmo que nasce nas comunidades familiares ou de bairro e que depois amadurece no âmbito do desporto escolar (levado a sério e não como uma brincadeira como acontece em Portugal). Depois é nas universidades que se fazem os campeões.

 

Se nos Estados Unidos a valorização do desporto e das suas várias modalidades é uma realidade intrinsecamente ligada às grandes políticas governamentais, também países como o Reino Unido, a Espanha ou a China são sensíveis a esta matéria.

 

Embora com poucas medalhas nestes Jogos Olímpicos, a Espanha é um caso muito interessante pela forma como tem utilizado o desporto (mas também a sua língua e cultura) para se afirmar no mundo. Mas será a China o melhor exemplo dessa relação do desporto com a imagem do Estado, com os actuais Jogos Olímpicos a espelharem fielmente o poderio emergente do Império do Meio no sistema internacional.

 

Outros exemplos há. Veja-se o Cazaquistão. Herdeiro da predisposição soviética para a valorização do desporto, os seus líderes têm procurado potenciar determinadas modalidades como forma de afirmação daquele país, sobretudo num contexto regional. A sua equipa de ciclismo, a Astana (capital), será o expoente máximo dessa estratégia, com Alexandre Vinokurov à cabeça e que venceu a medalha de outro na prova de estrada destes Olímpicos.

 

Também países como o Quénia ou a Etiópia, com os seus inúmeros campeões de atletismo nas disciplinas de fundo e meio fundo, ou ainda a Jamaica, com os seus velocistas, assumem-se com um alto perfil na cena internacional no que diz respeito ao desporto.

 

O mais interessante nestes Estados é que parece haver uma orientação para os resultados nas disciplinas potencialmente vencedoras, numa estratégia em que os Governos e as respectivas federações nacionais desempenham um papel muito importante.

 

Um dos pontos comuns entre estes países menos avançados e nações como os Estados Unidos ou a Espanha é a focagem concertada e estratégica que passa por uma cultura colectiva permanente de respeito e de gosto pelo desporto e pelas modalidades que são mais acarinhadas nas sociedades.

 

Ora, em Portugal, à semelhança do que tem acontecido com a língua e a cultura, não se pensa o desporto como recurso nacional. À falta de cultura desportiva dos cidadãos, associa-se a ausência de um pensamento estratégico sobre a política do desporto.

 

Os portugueses lá despertam para o “desporto” de quatro em quatro anos. Pelo meio, é futebol, futebol e futebol. Na verdade, Portugal é dos poucos países desenvolvidos onde uma modalidade se sobrepõe de forma tão desequilibrada sobre as outras.

 

Os cidadãos, pouco cultos (desportivamente falando, claro está), não têm predisposição para, regularmente, irem acompanhando o mundo do desporto (com excepção do futebol). E muito menos sensibilidade têm para passar e incutir aos seus filhos os valores do desporto.

 

Dos líderes políticos não se ouve uma palavra sobre o assunto e a imprensa só revela ignorância (com uma ou outra excepção). Veja-se a pobreza do discurso no sequência da falta de medalhas da comitiva portuguesa nos Jogos... Lá veio a mais que previsível discussão sobre as bolsas dadas aos atletas. Hoje, infelizmente, tudo se parece resumir a contas de merceeiro.

 

Mas o problema é que o tema dos apoios só faz sentido ser discutido se primeiro forem feitas as perguntas certas, tais como: “Que desporto Portugal quer ter?”; “Faz sentido levar mais de 70 atletas aos Olímpicos, quando alguns deles não têm argumentos competitivos aceitáveis?”; “Quais são os atletas que estiveram em consonância com as suas marcas do ano e aqueles que estiveram muito abaixo?”; “Que tipo de projecto olímpico faz sentido para Portugal?”.

 

Nem uma destas perguntas foi feita pela imprensa ou pelos decisores. Mais, são poucos os que têm tido a perspicácia de analisar os resultados nacionais verdadeiramente inéditos e importantes que se têm estado a alcançar nestes Jogos Olímpicos. Resultados, esses, (nomeadamente, com algumas meias-finais e finais), que são sustentáveis no tempo e que resultam de um esforço continuado ao longo dos últimos anos.

 

O problema é que à nossa sociedade portuguesa falta-lhe a tal cultura do desporto, inviabilizando qualquer debate profícuo e sério sobre o assunto, assim como a criação de bases sólidas para uma abordagem estruturada ao desporto. O que se vê é antes uma psicose contemporânea obsessiva pelo “saudável” (onde impera a lógica dos ginásios, do “light”, das dietas) que nada tem a ver com desporto nem com os seus valores. 

 

Numa declaração de interesses, o autor destas linhas confessa-se um apaixonado e desde sempre um praticante de desporto. Começou cedo e muito jovem já tinha três a quatro treinos por semana. Antigo competidor de judo nos escalões de infantil, juvenil e de júnior, chegou a ser internacional, com um segundo lugar em França. Para um jovem, são momentos que nunca mais se esquecem e que ajudam a moldar o carácter e a forma de estar em sociedade.

 

Desde então que o desporto é parte integrante da vida. Hoje, e de há 15 a 20 anos a esta parte, o prazer de correr ou de pedalar em BTT (seja em Cross Country ou Enduro/Freeride) faz parte do quotidiano.

 

Para este autor, a paixão pelo desporto não surge de quatro em quatro anos, ela está lá diariamente e faz parte da sua vida. De quatro em quatro anos é, sim, a hora da festa olímpica e da glorificação daqueles semideuses. 

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Ocidente Subjectivo

Alexandre Guerra, 05.11.11

 

Ocidente Subjectivo é o novo blogue criado por um grupo de estudantes de Relações Internacionais do ISCSP, que pretende abordar aquela área de estudo, com incidência nas temáticas das Informações e da Segurança. O Diplomata não podia deixar de saudar esta chegada à blogosfera, que será, certamente, mais um contributo para o debate e para a análise das questões sistémicas e dos desafios que o mundo enfrenta.

 

Uma perspectiva mais artística sobre as relações internacionais

Alexandre Guerra, 09.01.11

 

No seguimento de alguns textos que já vêm sendo aqui colocados, o Diplomata vai criar uma nova rubrica e todos os Domingos será trazida a este espaço uma forma de expressão artística (música, cinema, literatura, pintura, etc) que, de uma maneira ou de outra, esteja associada a temáticas que se discutem habitualmente nestas linhas.

 

Desde sempre que os artistas procuram inspiração ou se deixam influenciar pelos fenómenos políticos, sociais e económicos que os rodeiam. Por outro lado, também a expressão artística e os artistas têm servido de inspiração aos povos e governantes, marcando, por vezes, tendências e épocas.

 

Com este novo contributo, o Diplomata pretender proporcionar uma perspectiva diferente sobre as relações internacionais.