"Boiling point", a questão jordana
O gigantesco campo de refugiados Al Zaatari, na Jordânia, que acolhe refugiados sírios
Nas últimas semanas, o Diplomata viu duas entrevistas do Rei Abdallah da Jordânia (uma na Euronews e outra na BBC News) a alertar para o problema que o seu país está enfrentar com o fluxo massivo de refugiados sírios, começando a provocar uma sobrecarga excessiva nos sistemas de saúde e educacional do país, já para não falar dos problemas acrescidos de segurança e integração. Mais do que um alerta, o monarca hachemita estava a fazer um sério aviso às potências com responsabilidades directas na procura de uma solução para o conflito sírio e para a questão dos migrantes. Ontem, à margem da conferência de dadores que se está a realizar em Londres, Abdallah teceu novas declarações, indo agora um pouco mais longe para dizer que o Jordânia está num "boiling point". Ou seja, o país está prestes a "rebentar".
Vejam-se os números: actualmente a Jordânia acolhe 600 mil sírios do total de 4,6 milhões que estão registados pela ONU. No entanto, o Governo jordano diz que existe mais de um milhão de refugiados sírios no país que não estão registados. Algo que não é muito difícil de acreditar. Tudo isto num país que tem uma população e área semelhantes à de Portugal. Além destes dados, é importante não esquecer que na composição de toda a sua população se encontram cerca de dois milhões de palestinianos com o estatuto de refugiado da UNWRA. Durante décadas, a Jordânia tem sido uma espécie de "segunda casa" para os palestinianos, num processo que, naturalmente, foi evoluindo e estabilizando ao longo dos anos. Ou seja, a questão dos palestinianos na Jordânia normalizou-se e deixou de ser um "issue" particularmente preocupante. O mesmo já não se pode dizer do que está a acontecer com a chegada de milhares de sírios à Jordânia num curto espaço de tempo, colocando novos problemas e ameaças ao reino hachemita.
Um desses problemas tem a ver com a ameaça à segurança, porque é importante lembrar que a Jordânia tem sido um dos poucos (senão o único) países do Médio Oriente que tem conseguido garantir estabilidade interna e apresentar-se como uma referência moderada na região. Tem sido um interlocutor de confiança com Washington, tem um tratado de paz com Israel, ao mesmo tempo que faz a ponte com vários estados árabes e, naturalmente, com a Palestina. A isto acresce o facto do Rei Adballah ter o seu território perfeitamente controlado no que diz respeito a grupos terroristas. Pelo menos até agora. E é esse um dos principais pontos de preocupação do Rei jordano, perante a chegada descontrolada de milhares de sírios ao seu país, uma realidade que pode comprometer o seu actual quadro de referência e estabilidade.
Abdallah já percebeu o potencial problema e daí os vários alertas que tem lançado às potências internacionais: ou estas começam a olhar com atenção para a questão jordana ou então corre-se o risco daquele país ficar numa situação fragilizada e propícia à emergência de focos terroristas. O aviso está feito.