Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O político em 2015

Alexandre Guerra, 29.12.14

 

Como alguém constatou na antiguidade clássica, se os homens fossem anjos, então não seriam precisos políticos para os governar. Os séculos passaram e os políticos (além do Povo) continuam a ser os principais agentes dessa invenção ateniense, a Democracia. É verdade que o conceito do político tem mudado ao longo dos tempos, fruto das suas circunstâncias, mas há um traço que tem permanecido inalterado: a desconfiança do povo em relação aos seus governantes. Seja como for, com mais ou menos desconfiança e, por vezes, ódio à mistura, o político acabou por ser aceite como um "mal menor" no edifício da democracia, que, embora não sendo perfeito, seria, segundo Churchill, o menos mau entre todos os outros modelos propostos para governar os homens. 

 

As sociedades, entretanto, foram transformando-se e hoje há quem diga que se vivem tempos novos na história da democracia Ocidental. Talvez, pela primeira vez, tenha chegada a hora do  "anti-político", um sentimento nas opiniões públicas de que os seus governantes são irrelevantes na organização das sociedades do século XXI. Há, claramente, um défice do político (não necessariamente da política) que é preciso contrariar.

 

Há uns dias, foi aqui escrito que uma geração mais nova de políticos começava a despontar na Europa e que teria agora oportunidade de mostrar aquilo que valia. Sobretudo, estes políticos mais jovens encontram-se perante o desafio de alterar a dinâmica na relação entre si e o cidadão. Terão que provar, novamente, que o seu papel é útil na governação dos povos e reconquistar, pelo menos, o respeito dos cidadãos. Este será, talvez, o principal desafio que estes novos políticos terão em 2015.  

 

Chegou a hora dos mais novos mostrarem o que valem

Alexandre Guerra, 12.12.14

 

Quando o jovem Matteo Renzi ascendeu à chefia do Governo italiano, em Fevereiro deste ano, muitos viram nele uma tendência de mudança na forma de fazer política nos Estados do Velho Continente. Ao fim e ao cabo, com 39 anos, tornava-se no primeiro-ministro mais jovem de sempre em Itália, num país em que o actual Presidente, Giorgio Napolitano, tem 89 anos. 

 

A política tem sido, tradicionalmente, uma coisa de gente com idade mais avançada, cinzenta e pouco apelativa para os mais novos. E mesmo aqueles jovens que enveredam pelo mundo da política, os chamados "jotinhas", têm uma postura de tal maneira entediante e pouco imaginativa, que mais parecem clones dos seus ídolos partidários mais "crescidos". Naturalmente que há excepções. 

 

Ex-"jotinha" ou não, a chegada de Renzi ao poder representou uma viragem na forma como a sociedade passou a olhar para os seus decisores, ou seja, a idade mais avançada deixou de ser condição para se chegar à cúpula do poder. Talvez as pessoas tenham optado por sacrificar a experiência e a sabedoria, que vêm com a idade, pela irreverência e dinamismo, características de idades mais jovens.

 

Mas se é verdade que a "experiência" e a "sabedoria" dos políticos mais velhos de pouco tem valido para tirar esta Europa cansada do estado letárgico em que vive, a questão agora é saber se esta corrente de políticos mais jovens, tais como o novo ministro da Economia francês, Emmanuel Macron (36 anos), ou o líder do PSOE,  Pedro Sánchez (42 anos), conseguirá ter outros argumentos para dar a volta ao figurino. 

 

Para já, de pouco tem servido a Renzi a sua juventude, já que hoje, tal como tantos antecessores seus, enfrenta a sua primeira greve geral, contra as políticas laborais do Governo. Seja como for, os cidadãos parecem estar a libertar-se de algumas ideias preconcebidas, ou até mesmo preconceitos, quanto à idade daqueles que os governam. Não quer dizer necessariamente que os mais jovens façam um trabalho melhor que os mais velhos, mas tal como estes tiveram o seu momento, também agora políticos como Renzi, Macron ou Sánchez merecem uma oportunidade para mostrar o que valem.