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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Llosa escreve sobre o Perú dos anos 50, mas influenciado pelo massacre de Uchuraccay

Alexandre Guerra, 22.07.12

 

Willy Retto, Eduardo de la Piniella, Pedro Sánchez e Félix Gavilano, quatro dos oito jornalistas prestes a serem assassinados na aldeia de Uchuraccay a 26 de Janeiro de 1983

 

Uma das melhores formas de se ir conhecendo as sociedades nos seus diferentes períodos históricos é através dos romances. Por vezes relegando os factos para um plano secundário (esse papel cabe aos historiadores), os escritores compensam com a riqueza literária para descrever as nuances sociais, tão importantes para caracterizar diferentes épocas, regimes e sistemas de Governo.

 

Três livros lidos recentemente levaram o autor destas linhas para diferentes épocas e países.

 

O primeiro livro aqui referido é “Quem Matou Palomino Molero?” (1986) de Mario Vargas Llosa. Longe de ser uma das suas obras maiores, o livro é muito interessante, porque parte do enredo à volta de um assassinato brutal numa localidade peruana nos anos 50 para analisar as relações de então entre a sociedade civil e o Exército.

 

Através das palavras de Llosa consegue-se perceber até que ponto o Exército era uma instituição fechada sobre si própria, mas presente de forma veemente no quotidiano das pessoas e facilmente orientada por interesses, por vezes, mais autoritários do poder político.

 

Este livro surge três anos depois de Llosa ter participado numa polémica comissão de investigação para apurar os contornos do massacre de Uchuraccay, aldeia onde forças governamentais e paramilitares combateram os guerrilheiros do movimento Sendero Luminoso. No meio destes combates morreram oito jornalistas a 26 de Janeiro de 1983 em circunstâncias que nunca ficaram totalmente esclarecidas. Também 135 aldeões perderam a vida.

 

No relatório entregue por Llosa os responsáveis do massacre foram identificados como sendo alguns camponeses, que mais tarde viriam a ser condenados e, provavelmente, com ligações ao Sendero Luminoso. No entanto, houve quem considerasse o relatório de Llosa uma tentativa de encobrir as acções das forças governamentais em Uchuraccay.

 

Uma coisa é certa, ao ler-se "Quem Matou Palomino Molero?" percebe-se que, de uma maneira mais ou menos directa, Llosa aproveitou alguma da sua experiência vivida durante os trabalhos na comissão para se inspirar para o seu livro.