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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Mais um "condimento"

Alexandre Guerra, 12.07.16

 

Há uns dias escrevi aqui no Diplomata sobre um tema que há muito acompanho com interesse, que tem a ver com as perigosas "brincadeiras" que vão acontecendo para os lados da Península da Coreia e dos mares do Japão e da China. E disse que "qualquer acidente ou incidente que por ali aconteça (e têm acontecido alguns) pode acender o rastilho para algo de dimensões problemáticas". Hoje, o Tribunal Permanente de Abritragem, em Haia (sem poderes vinculativos), acrescentou mais um "condimento" ao dar razão às reivindicações das Filipinas contra os interesses da China. Pequim já disse que não vai acatar qualquer recomendação ou decisão.

 

Map showing the South China Sea

 

Protestos que não abalam a equação "um país, dois sistemas"

Alexandre Guerra, 30.09.14

 

Foto AFP/BBC NEWS

 

Para já, os protestos que se têm visto nas ruas de Hong Kong nos últimos dias dificilmente põem em causa o famoso modelo "um país, dois sistemas", uma equação de equilíbrio entre os interesses da China e a realidade contrastante de um território que regressava à soberania de Pequim, em 1997. Quase 20 anos passaram e as "liberdades" concedidas pelo regime chinês a Hong Kong parecem já não chegar para agradar a alguns dos seus cidadãos, sobretudo jovens, que exigem agora mais reformas pró-democracia, nomeadamente no que diz respeito à eleição dos seus líderes. Mas, o Diplomata não crê que este movimento consiga ter o impacto que outros do género tiveram noutros locais do mundo.

 

Pequim parece não querer ceder naquilo que ficou definido no acordo de 1984 com o Reino Unido, porque apesar de ter dito que iria permitir eleições directas em 2017 para a chefia do Governo de Hong Kong, acabou por introduzir em Agosto último uma nuance, ao informar que os eleitores só poderão escolher entre dois ou três candidatos que sejam previamente escolhidos por um comité definido por Pequim.

 

Para muitos cidadãos de Hong Kong esta questão é de menor importância e, por isso, não se identificam com os actuais protestos, já que aquele território goza de grande autonomia a vários níveis. Tratando-se de um debate muito político sobre um assunto que, de certa forma, é visto por muitos como pouco relevante para a dinâmica económica do território, é compreensível que as manifestações estejam a ser alimentadas, sobretudo, por uma massa de estudantes universitários. Aliás, muitos dos empresários estão contra estes protestos e um estudo recente realizado pela Universidade de Hong Kong referia que a maioria dos habitantes vêem a ligação à China de forma mais positiva do que negativa.

 

No Mar Oriental da China todos esticam a corda... até ao dia em que partir

Alexandre Guerra, 28.11.13

 

 

Assim, de repente, Pequim anunciou, no passado Sábado, a criação de uma Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) no espaço aéreo em redor das disputadas e polémicas ilhas Senkaku (ou Diayou para os chineses) no Mar Oriental da China. Relembre-se que apesar daquelas ilhas serem actualmente propriedade do Governo nipónico, há muito que a China reivindica para si a sua posse.

 

É por isso que esta recente medida de Pequim não pode deixar de ser vista como mais uma provocação, sobretudo porque implica que todos os países circundantes informem previamente as autoridades chinesas dos planos de voos que por ali passem. Caso contrário, sujeitam-se a "medidas de defesa de emergência", seja lá o que isso for.

 

Como seria de esperar, o Japão e a Coreia do Sul já desafiaram a imposição de Pequim, com o envio de voos para a ADIZ, anunciando, em jeito de provocação, que não houve qualquer "resposta" chinesa. 

 

Também Washington veio dizer que esta medida é mais uma tentativa da China para desestabilizar o "status quo" daquela região e, por isso, enviou dois bombardeiros B-52 na passada Terça-feira para sobrevooar a ADIZ. Mais uma vez, numa lógica de "esticar a corda" para ver até onde vai o "bluff" de Pequim.

 

Até ao momento, ainda nada de grave aconteceu, no entanto, é notório que todas as partes envolvidas estão empenhadas em escalar a tensão, até porque, em última instância, há um confronto de poder entre a China e os Estados Unidos. E neste momento, no complexo tabuleiro geopolítico e geoestratégico das relações internacionais, tanto Pequim como Washington jogam interesses bem maiores do que a propriedade de cinco ilhéus desabitados e três massas rochosas.

 

Empresas americanas evitam acusar Pequim, mas em "off" falam em espionagem industrial

Alexandre Guerra, 03.02.10

 

 

Na sua habitual coluna no New York Times, Thomas Friedman escreve sobre a mais recente disputa entre a Google e a China, para referir que o problema se encontra a um nível muito mais profundo, do que aquele que poderia ser descrito simplesmente como um conflito comercial entre uma empresa e as autoridades do Estado.

 

Embora esta constatação possa parecer uma evidência à luz de toda a informação vinda a público no âmbito da estratégia adoptada pelas autoridades chinesas no que diz respeito ao controlo de empresas estrangeiras, Friedman acrescenta um olhar interessante sobre esta problemática.

 

Citando um CEO de uma empresa americana de tecnologias a operar na China, fica-se a saber que aquela foi “atacada” por ciberpiratas com o objectivo de roubar códigos de segurança, planos de negócio, e “tudo aquilo a que pudessem deitar a mão”. Espionagem industrial pura e dura que, segundo o mesmo CEO, é “a pior que já viu em 25 anos”. Uma afirmação sustentada por um responsável americano, que revelou a Thomas Friedman que este ataque em particular foi “muito extensivo e problemático”.

 

Apesar de nunca o ter afirmado peremptoriamente, tudo inidicia que o problema da Google vá muito além da mera censura de algumas páginas imposta pelas autoridades chineses. Neste momento, as empresas estrangeiras, nomeadamente americanas, enfrentam objectivamente problemas de espionagem industrial.

 

Friedman diz, e bem, que a China está a “brincar com o fogo”. Porque, conclui o Diplomata, se num primeiro momento, Pequim poderá ter uma certa sensação de de controlo da actividade das empresas estrangeiras e de aquisição de "know how", a curto e a médio prazo poderá instalar-se no mercado internacional a desconfiança relativa a todo o material electrónico e software “Made in China”.

 

Afinal de contas, quem quererá comprar um computador com um processador fabricado algures na China, quando existe a noção de que as autoridades daquele país estão a utilizar ciberpiratas para espionagem industrial?

 

Obama aprova venda de material bélico a Taiwan e envia "recado" para Pequim

Alexandre Guerra, 01.02.10

 

 
Será que os mais de 1000 mísseis chineses apontados para Taiwan representam um verdadeiro perigo para aquele ilha? De acordo com muitos analistas internacionais, a resposta é claramente “sim”.
 
Esta pergunta, que de tempos a tempos é colocada quando a tensão aumenta no estreito de Taiwan, volta agora a fazer sentido, numa altura em que as relações entre Washington e Pequim “aquecem” por causa de um negócio de venda de armamento dos Estados Unidos a Taiwan no valor de 6,4 mil milhões de dólares.
 
Apesar da China ter avisado que este negócio representaria um sério revés nas relações político-diplomáticas entre Pequim e Washington, a administração do Presidente Barack Obama aprovou na passada semana a venda do material bélico para o regime de Taipé e fez questão de frisar que o negócio manter-se-á.
 
Perante este cenário, a resposta de Pequim, de acordo com o China Daily, principal jornal inglês controlado pelo aparelho comunista chinês, está a revelar-se a mais dura em três décadas contra Washington no que diz respeito a um negócio de venda de armamento. Pequim anunciou que irá restringir a sua cooperação militar com os Estados Unidos, impor sanções económicas às empresas americanas, assim como adoptar outras medidas a nível bilateral.
 
Analistas citados por aquele jornal, referem que esta crise não deverá pôr em causa o quadro estratégico de aproximação entre as duas potências, no entanto, é muito possível que afecte as parcerias em domínios específicos, como são os casos do dossier iraniano, da guerra no Afeganistão ou do complexo processo negocial da Coreia do Norte. “Certamente, os Estados Unidos têm que pagar um preço muito pesado pelo negócio”, disse Ye Hailin, professor de relações internacionais na Academia Chinesa de Ciências Sociais, citado pelo China Daily. “Temos mais do que uma carta [para jogar]. Nos problemas relacionados com o Afeganistão, a Coreia do Norte e o Irão, Washington precisa da nossa cooperação.”
 
Efectivamente, é provável que Pequim utilize algum destes dossiers para pressionar o Congresso a ratificar a venda. Uma venda que contempla 60 helicópteros Black Hawk, 114 sistemas anti-míssil Patriot, um sistema integrado de comando e controlo, 12 mísseis Harpoon e mais dois navio detectores de minas.
 
Para o Departamento de Estado norte-americano, este material permitirá aumentar a “segurança e a estabilidade” entre a China e Taiwan. Uma visão que Pequim não partilha, ao acusar Washington de estar a ter uma atitude hipócrita, de “dois pesos e duas medidas” no que se refere aos interesses vitais da China.
 
Os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros chineses reagiram duramente contra Washington, e além das medidas que já acima foram mencionadas, outros iniciativas poderão ser tomadas. Um registo que se adequa ao editorial do China Daily, que não se coíbe de caracterizar como arrogante a posição de Washington e de lembrar que este assunto está directamente relacionado com os assuntos internos da China.
 
Por outro lado, o New York Times relembra que no último ano Pequim tem assumido uma posição bastante musculada, tendo agora chegado a altura da administração Obama responder. Além disso, algumas fontes citadas pelo jornal nova-iorquino consideram que a administração Obama está a enviar sinais concretos a Pequim, de que não disposta a sacrificar os interesses estratégicos norte-americanos nem a ceder às suas pressões.  
 
Para Steve Clemons, director dos programas de política externa da New América Foundation, Obama terá percebido que de pouco valeu a Washington ter tido uma atitude bastante permissiva no último ano em relação à China, já que os responsáveis chineses revelaram uma abordagem bastante agressiva, nomeadamente na Cimeira do Clima realizada em Dezembro na cidade de Copenhaga.