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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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O realismo de Paulo Portas no "caso Snowden"

Alexandre Guerra, 10.07.13

 

Paulo Portas, ainda como chefe da diplomacia portuguesa, esteve ontem na Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros para explicar a polémica em torno da suposta recusa do Governo português ao sobrevoo do avião em que seguia o Presidente boliviano, Evo Morales, sobre território nacional.

 

Portas veio desmentir essa tese, sublinhando que o Governo português deu autorização "atempadamente" para que o Falcon de Morales pudesse passar no espaço aéreo nacional. Aquilo que Portas agora revela é o facto das autoridades portuguesas não terem autorizado a realização de uma escala técnica em Portugal, já que existiam suspeitas de que a bordo do Falcon viesse Edward Snowden. 

 

Portas, numa lógica realista e cínica (virtudes das relações internacionais), acabou por assumir que não pretendia "importar" um problema diplomático para Portugal, o que de certa forma se compreende.

 

Suponha-se que Snowden iria de facto naquele avião, e que este aterrava em Lisboa para uma escala técnica, era bem provável que Washington instasse as autoridades portuguesas a deterem o antigo consultor da CIA e da NSA. Lisboa ficaria com pouco espaço de manobra para recusar qualquer pedido americano nestas circunstâncias. Ao mesmo tempo afrontava o Presidente da Bolívia, levantando questões de soberania sensíveis, podendo criar um grave incidente diplomático com aquele país da América Latina, que se poderia alastrar a outros Estados da região.

 

Ora, se há pessoa que é sensível aos interesses de Portugal naquela região, é Paulo Portas, que ainda recentemente esteve na Venezuela para estreitar relações entre os dois países. Aliás, Portas fez questão de sublinhar que a Bolívia é um "país amigo" de Portugal.

 

Um bom exemplo

Alexandre Guerra, 19.06.13

 

Nicolás Maduro na conferência de imprensa com Passos Coelho

 

Foi de apenas seis horas a duração da visita do recentemente eleito Presidente da Venezuela a Portugal. Mas foram seis horas que valeram cerca de 6 mil milhões de euros em perspectivas de contratos em várias áreas entre os dois países, cimentando-se, assim, uma relação que começou a ser delineada em 2008 pelo falecido Presidente Hugo Chávez e pelo ex-primeiro-ministro português, José Sócrates.

 

Hoje, é Nicolás Maduro quem ocupa o Palácio de Miraflores e, na linha de pensamento do seu antecessor e mentor, fez questão de manifestar, ainda nos primeiros meses do seu mandato, o compromisso no estreitamente das relações entre a Venezuela e Portugal. De louvar igualmente a posição do Governo português, agora de centro-direita, liderado por Passos Coelho, que não caiu na tentação ideológica de "deitar por terra" todo o trabalho diplomático já feito.

 

Aliás, nesse espírito construtivo, já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, tinha estado recentemente na Venezuela com uma delegação considerável de empresários.

 

Este é um bom exemplo do cumprimento de políticas estratégicas transversais a diferentes governos, reflectindo-se positivamente nos resultados económicos, com Portugal a inverter a balança comercial com a Venezuela em poucos anos, a intensificar negócios em curso e a perspectivar outros tantos.

 

Texto publicado originalmenteno Forte Apache.