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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Acima do comum dos mortais

Alexandre Guerra, 01.12.15

 

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François Hollande, Barack Obama e a presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, foram ontem ao Bataclan, o local mais mortífero dos atentados do passado dia 13, para prestar homenagem às vítimas. Mas o que chamou a atenção do Diplomata nesta fotografia é o facto de Obama, numa noite parisiense certamente fria, ser o único a apresentar-se só de fato, dispensando o conforto do sobretudo, transmitindo,assim, uma imagem de vitalidade e de resistência inalcançável aos comuns mortais que o acompanhavam. De certa maneira, faz lembrar John F. Kennedy, que raramente aparecia de sobretudo, mesmo nos dias mais frios de Inverno, e ostentava sempre uma boa imagem, como se de um semi-deus tratasse.

 

Da emoção à razão

Alexandre Guerra, 11.01.15

 

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Manifestação em Paris este Domingo/Foto: Le Monde 

 

Por razões compreensíveis, a emoção levou para a rua milhares de pessoas em várias cidades europeias, num gesto simbólico contra o terrorismo e em defesa dos pilares fundamentais das sociedades ocidentais, mas quando chegar a hora da razão, a pergunta que se impõe é a seguinte: até onde estarão estas mesmas pessoas dispostas a ir quando forem confrontadas com a necessidade de mudarem comportamentos e de o Estado assegurar mais recursos logísticos e financeiros para a luta anti-terrorista e para as operações de "intelligence"?

 

Quando a Europa era o "farol" da modernidade para as elites latino-americanas

Alexandre Guerra, 10.08.12

 

Cartagena, Colômbia, provavelmente a cidade que inspirou Gabriel García Márquez para o cenário do romance entre Florentino e Firmina.

 

Há uns dias o Diplomata escrevia que “uma das melhores formas de se ir conhecendo as sociedades nos seus diferentes períodos históricos é através dos romances. Por vezes relegando os factos para um plano secundário (esse papel cabe aos historiadores), os escritores compensam com a riqueza literária para descrever as nuances sociais, tão importantes para caracterizar diferentes épocas, regimes e sistemas de Governo”.

 

O autor destas linhas tinha então mencionado três romances lidos recentemente e que se enquadravam naquela lógica. O primeiro já foi aqui referido: “Quem Matou Palomino Molero?” de Mario Vargas Llosa.

 

Outro dos livros lidos foi o “O Amor nos Tempos de Cólera” (1985), de Gabriel García Márquez. Uma obra que retrata, de forma sublime, os costumes da vida privada de uma certa elite das sociedades latino-americanas em finais do século XIX. Mas não só.

 

A história da devoção amorosa de Florentino Ariza por Firmina Daza, que se prolonga por mais de 50 anos e entre pelo século XX, é o fio condutor de um retrato realista do modelo de sociedade numa cidade algures próxima do Mar das Caraíbas, que nunca é identificada, embora muitos considerem ser Cartagena, onde García Márquez estudou.

 

Refira-se que o escritor colombiano se inspirou na história de amor verídica dos seus pais para o enredo do seu livro.

 

Além da sua intensidade literária, “O Amor nos Tempos de Cólera” é particularmente revelador pela forma como dá a conhecer uma sociedade a precipitar-se para a modernidade, mas ainda amarrada aos seus preconceitos, aos seus hábitos conservadores, ao seu provincianismo, ao seu atraso civilizacional.

 

Uma sociedade que, apesar de estar a espreitar o progresso, ainda está muito afastada daquilo que é idealizado pelos personagens de Márquez como o expoente máximo da civilização: a Europa, nomeadamente, Paris.