Cartagena, Colômbia, provavelmente a cidade que inspirou Gabriel García Márquez para o cenário do romance entre Florentino e Firmina.
Há uns dias o Diplomata escrevia que “uma das melhores formas de se ir conhecendo as sociedades nos seus diferentes períodos históricos é através dos romances. Por vezes relegando os factos para um plano secundário (esse papel cabe aos historiadores), os escritores compensam com a riqueza literária para descrever as nuances sociais, tão importantes para caracterizar diferentes épocas, regimes e sistemas de Governo”.
O autor destas linhas tinha então mencionado três romances lidos recentemente e que se enquadravam naquela lógica. O primeiro já foi aqui referido: “Quem Matou Palomino Molero?” de Mario Vargas Llosa.
Outro dos livros lidos foi o “O Amor nos Tempos de Cólera” (1985), de Gabriel García Márquez. Uma obra que retrata, de forma sublime, os costumes da vida privada de uma certa elite das sociedades latino-americanas em finais do século XIX. Mas não só.
A história da devoção amorosa de Florentino Ariza por Firmina Daza, que se prolonga por mais de 50 anos e entre pelo século XX, é o fio condutor de um retrato realista do modelo de sociedade numa cidade algures próxima do Mar das Caraíbas, que nunca é identificada, embora muitos considerem ser Cartagena, onde García Márquez estudou.
Refira-se que o escritor colombiano se inspirou na história de amor verídica dos seus pais para o enredo do seu livro.
Além da sua intensidade literária, “O Amor nos Tempos de Cólera” é particularmente revelador pela forma como dá a conhecer uma sociedade a precipitar-se para a modernidade, mas ainda amarrada aos seus preconceitos, aos seus hábitos conservadores, ao seu provincianismo, ao seu atraso civilizacional.
Uma sociedade que, apesar de estar a espreitar o progresso, ainda está muito afastada daquilo que é idealizado pelos personagens de Márquez como o expoente máximo da civilização: a Europa, nomeadamente, Paris.