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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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O problema da teoria de Hersh: ninguém consegue guardar segredo em Islamabad

Alexandre Guerra, 11.05.15

 

Embora se saiba que os governos em geral, e o americano em particular, caem, por vezes, na tentação de camuflar factos, reescrever alguns acontecimentos e, até mesmo, ficcionar a realidade, o Diplomata está com alguma relutância em aceitar a versão do conceituado jornalista, Seymour M. Hersh, sobre os contornos em ocorreu a operação que conduziu à morte de Osama bin Laden, e que coloca em causa a posição oficial da Casa Branca .

 

A nova teoria de Hersh foi publicada esta Segunda-feira no London Review of Books e, entre outras coisas, é referido que, ao contrário do que Washington sempre disse, os chefes dos serviços secretos (ISI) e do Exército paquistaneses teriam conhecimento prévio da operação militar norte-americana para capturar bin Laden. 

  

Ora, além de não identificar qualquer fonte concreta, limitando-se a classificações genéricas, a versão de Hersh admite que as autoridades paquistanesas teriam mesmo bin Laden à sua guarda e que foram informadas por Washington do que estaria prestes a acontecer. Mas é aqui que a questão levanta mais dúvidas ao Diplomata. Conhecendo-se os alinhamentos próximos que existiam nalguns sectores das forças armadas e das secretas paquistanesas com bin Laden, dificilmente não chegaria ao seu conhecimento a informação de que estaria um ataque iminente à residência fortificada de Abbotabad. Porque, a verdade é que um dos grandes problemas de Islamabad no combate ao terrorismo foi a inconsistência e a divisão das suas cúpulas no que ao empenhamento na "caça" a bin Laden dizia respeito.  

 

O Diplomata acredita que se alguém do Exército ou do ISI soubesse que Washington iria desenvolver uma operação militar para capturar ou eliminar bin Laden, seguramente que aquele que era o inimigo número 1 dos Estados Unidos não estaria na noite de 1 para 2 de Maio naquele casa fortificada em Abbotabad.

 

O processo de decisão e a complexidade das probabilidades

Alexandre Guerra, 04.05.13

 

Obama, na Situation Room, no dia 2 de Maio de 2011, a acompanhar via teleconferência a operação dos Navy Seals para a captura de bin Laden/Foto: Souza/Casa Branca 

 

É muito interessante analisar-se todo o processo de decisão que sustentou a ordem presidencial de Barack Obama para a operação dos Navy Seals que culminou na eliminação de Osama bin Laden, a 2 de Maio de 2011, na cidade paquistanesa de Abbottabad, a poucos quilómetros de Islamabad.

 

Num esclarecedor documentário Panorama BBC, o último emitido esta semana na SIC N, são os próprios intervenientes, incluindo Obama, a explicar todos os passos do processo político que antecedeu a operação militar.

 

Uma das revelações mais interessantes tem a ver com a contratação de uma equipa de consultores externos, especialistas em análise de informação sensível, por modo a providenciar um olhar mais neutro sobre todo o processo de "intelligence" que a CIA e outras agências levaram a cabo.

 

Para a administração Obama era importante ter uma análise crítica de alguém que não tivesse estado envolvido no processo de recolha de informação, nomeadamente, aquela que colocou bin Laden num complexo em Abbottabad, numa determinada hora no dia 2 de Maio de 2011.

 

Perante a ausência de certezas, Obama teve que basear a sua decisão em probabilidades e, num último momento, no seu "feeling" político.  Perante um impasse, já que os assessores da Casa Branca davam mais de 60  por cento de probabilidades de bin Laden se encontrar no complexo identificado pela CIA,  e os consultores externos ficavam-se no máximo pelos 40 por cento, o Presidente recorreu à aritmética pura. 

 

Obama chegou à conclusão que fazendo a média existiam 50 por cento de probabilidades de bin Laden estar, ou não estar, naquele complexo. Ou seja, havia 50 por cento de possibilidade do Presidente tomar uma decisão acertada ou uma decisão desastrosa. Com este cenário qualquer opção seria racionalmente válida, no entanto, uma decisão errada teria custos enormes. Uma escolha acertada traria um novo fôlego político ao Presidente.

 

Com uma decisão dessas para tomar, e sem indicadores peremptórios que apontem num ou noutro sentido, é aqui que entra o "feeling político". Obama disse mesmo aos seus conselheiros, depois de colocados todos os cenários em cima da mesa, que "ia dormir sobre o assunto" e na "manhã seguinte" teria uma decisão. E assim foi. A ordem foi dada e tornou-se numa das operações de forças especiais mais bem sucedidas da história militar dos Estados Unidos. 

 

Obama, esse, pode orgulhar-se de ter sido o responsável pela eliminação de um fantasma que há uma década pairava sobre os Estados Unidos.

 

Washington e Londres voltam a focar atenções na sucursal saudita da al-Qaeda

Alexandre Guerra, 02.01.10

 

Hurayrah Qasim al-Rimi, Said al-Shihri, Nasser al-Wuhayshi e Mohammed al-Awfi (Janeiro de 2009)

 

O "atentado falhado" no dia de Natal durante um voo da Delta Airlines ao chegar a Detroit vindo de Amesterdão foi reivindicado pelo grupo al-Qaeda na Península Arábica (AQAP), até então desconhecido, visto ter sido formado apenas no início de 2009, com a união de alguns elementos terroristas saudidas e iemenitas, muitos deles com ligações directas à al-Qaeda, que, para todos os efeitos, já está em território saudita há vários anos.

 

A BBC News traça um perfil do AQAP, revelando que o  mesmo é encabeçado por um antigo colaborador de Osama bin Laden, e relembra as iniciativas terroristas levadas a cabo pelos operacionais da al-Qaeda na Arábia Saudita desde 2003.