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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Nem um ano passou e o Presidente do Sudão do Sul já diz que está em guerra

Alexandre Guerra, 24.04.12

 

Soldado do Sudão do Sul junto a um mercado em Rubkona, perto de Bentiu, alegadamente destruído por uma bomba lançada ontem por aviões do Sudão/Foto:Reuters/Goran Tomasevic  

 

Nem um ano de existência tem e o mais recente Estado do mundo já está em guerra, pelo menos a julgar pelas palavras do seu Presidente, Salva Kiir. Segundo este, o Sudão do Sul, que se tornou independente em Julho do ano passado, está a ser alvo de uma "declaração de guerra" por parte do regime de Cartum. 

 

Apesar do Sudão não ter feito formalmente qualquer declaração nesse sentido, analistas citados pela BBC News consideram que é o próprio Salva Kiir a fomentar uma escalada de palavras. Seja como for, fontes oficiais militares do Sudão do Sul disseram esta Terça-feira que Cartum lançou oito bombas sobre o seu território na noite passada, o que levou Salva Kiir a classificar este acto como uma autêntica "declaração de guerra". 

 

Há várias semanas que os confrontos fronteiriços entre as tropas do Sudão do Sul e do Sudão se têm intensificado em áreas de exploração petrolífera. As acusações têm sido mútuas e neste momento não se vislumbra qualquer possibilidade de diálogo entre os dois países vizinhos.

 

Quando em Janeiro do ano passado, por altura do referendo da independência do Sul do Sudão, o Diplomata se questionava quanto à possibilidade de mais uma guerra civil em África, estava precisamente a prever um caminho sinuoso nas relações entre os dois países.

 

Na altura, o Diplomata desconfiou de imediato das palavras do Presidente sudanês, Omar al-Bashir, que disse que iria acatar o resultado do referendo, fosse ele qual fosse. O passado sangrento e violento de al-Bashir, seja em relação às populações do Sul ou da região de Darfur, perspectivavam tudo menos um desfecho pacífico e tranquilo deste processo de independência.

 

Mas, neste momento, é preciso também contar com o carácter provocatório e belicista do Presidente do Sul do Sudão, que está a dar mostras de não estar muito disponível para uma via mais diplomática.

 

Um "cowboy africano" que dificilmente tranquilizará alguém no Sudão e arredores

Alexandre Guerra, 26.05.11

 

 

Salva Kiir, líder do Sudão do Sul

 

O Sul do Sudão está a poucas semanas de se tornar no mais recente Estado independente do mundo, quando em Julho proclamar formalmente, e sob a anuência da ONU, a sua secessão do restante território sudanês.

 

Sobre este assunto, o Diplomata já escreveu dois textos, nomeadamente, alertando para a possibilidade de, à boa e velha maneira africana, tudo isto resultar em mais um conflito opondo diferentes religiões e etnias.

 

Mas, para tranquilidade de todos (ou talvez não), Salva Kiir, uma personagem digna de um filme, mas que na verdade é o líder dos sudaneses do Sul, vem agora dizer que não vai entrar em guerra com o Norte por causa da região de Abyei. Um território rico em petróleo mas que desde Janeiro, altura em que se realizou o referendo da separação, está em disputa entre o Norte e o Sul porque não foi contemplado em que parte ficaria.

 

Tanto Kiir, antigo membro do círculo de poder próximo do defunto e carismático líder John Garang, como o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, reclamam aquela região, tendo este, inclusive, enviado tropas para o local, apesar da condenação da ONU.

 

Kiir acusa o regime de Cartum de ter exagerado, no entanto, rejeita a ideia de entrar em guerra com o Norte, depois do povo sudanês ter posto cobro em 2005 a uma guerra de 22 anos que ceifou um milhão e meio de vidas.

 

Seja como for, analistas e observadores internacionais, assim como o Diplomata, receiam que Abyei possa ser o rastilho para um conflito civil que oponha a vasta população maioritariamente cristã animista do Sul contra os sudaneses muçulmanos a Norte liderados pelo Presidente al-Bashir.

 

Neste momento, já surgem várias notícias que dão conta de populações deslocadas, da fuga de trabalhadores humanitários e de eventuais “crimes de guerra” em Abyei.

 

É ainda difícil confirmar com exactidão o que se está a passar naquele território, mas uma coisa é certa, existem razões para preocupações, devendo a ONU e a União Africana (UA) estarem particularmente atentas nestas semanas que antecedem a proclamação formal da independência do Sul do Sudão.

 

Tribos sudanesas lutam por região com petróleo provocando 20 mortos em dois dias

Alexandre Guerra, 28.02.11

 

 

Quando no início do ano, os sudaneses do Sul manifestaram em referendo a vontade de se separarem do Norte do país, maioritariamente muçulmano, o Diplomata não partilhou o entusiasmo da população, alertando na altura para a possibilidade de se estar perante uma guerra civil iminente.

 

Apesar de o Presidente Omar al-Bashir ter dito que respeitaria o resultado do referendo, fosse ele qual fosse, a CNN relembrava que na longa tradição africana de conflitos internos, o resultado do referendo ou instituía o mais recente Estado da comunidade internacional ou acabava em guerra civil. Atendendo ao historial do Sudão e ao comportamento da sua cúpula político-militar nos últimos anos, o Diplomata só podia concordar com aquela observação.

 

Além do mais, o passado sangrento e violento de al-Bashir, seja em relação às populações do Sul, maioritariamente cristãs e animistas, ou da região de Darfur, perspectivava tudo menos um desfecho pacífico e tranquilo daquela consulta popular.

 

Outro factor desestabilizador impossível de ignorar prendia-se com as reservas de petróleo que estão no Sul, cerca de 80 por cento do total do Sudão.

 

Ora, nos últimos dois dias já morreram pelo menos 20 pessoas na sequência de confrontos na região fronteiriça de Abyei, entre o Sul e o Norte do país. Abyei é rica em petróleo e não realizou o referendo do passado mês, um acto que será efectivado, mas ainda sem data marcada.

 

Os confrontos opuseram milícias da tribo nómada árabe Misseriya e membros da tribo Dinka Ngok. Os primeiros, identificados com o Norte muçulmano, consideram que Abyei deve ficar naquela parte do país, enquanto os Dinka Ngok acham que aquela região deve integrar a nova nação do Sul.

 

Abyei tem vivido momentos de grande tensão, tendo a missão das Nações Unidas, UNMIS, reforçado o seu contingente naquela região.

 

Relembre-se que a consulta popular realizada no início do ano resulta de um longo processo político e militar, que culminou nos acordos de paz de 2005, colocando o fim a duas décadas de conflito, e definiram várias linhas orientadoras estratégicas sobre o futuro do país, nomeadamente, partilha de governo, distribuição de receitas petrolíferas e o estabelecimento de um referendo sobre a autodeterminação do Sul do Sudão. 

 

É importante sublinhar que o Sudão, o maior país africano, tem profundas divisões entre o Norte, maioritariamente muçulmano e próximo da cúpula política, e o Sul, cristão e animista e rico em petróleo, o terceiro produtor da África subsariana. 

 

Estas clivagens traduziram-se em violência ao longo das últimas duas décadas e discriminação, na maior parte dos casos imposta pelo regime de Cartum, resultando na morte de 1,5 milhão de pessoas, em muitos dos casos devido a fome e a doença.

 

A realidade do Sudão vista pela BBC NEWS

 

Map showing infant Mortality in Sudan, source: Sudan household health survey 2006

The health inequalities in Sudan are illustrated by infant mortality rates. In Southern Sudan, one in 10 children die before their first birthday. Whereas in the more developed northern states, such as Gezira and White Nile, half of those children would be expected to survive.

 

Map showing percentage of households using improved water and sanitation in Sudan, source: Sudan household health survey 2006

The gulf in water resources between north and south is stark. In Khartoum, River Nile, and Gezira states, two-thirds of people have access to piped drinking water and pit latrines. In the south, boreholes and unprotected wells are the main drinking sources. More than 80% of southerners have no toilet facilities whatsoever.

 

Map showing percentage of who complete primary school education in Sudan, source: Sudan household health survey 2006

Throughout Sudan, access to primary school education is strongly linked to household earnings. In the poorest parts of the south, less than 1% of children finish primary school. Whereas in the wealthier north, up to 50% of children complete primary level education.

 

Map showing percentage of households with poor food consumption in Sudan, source: Sudan household health survey 2006

Conflict and poverty are the main causes of food insecurity in Sudan. The residents of war-affected Darfur and Southern Sudan are still greatly dependent on food aid. Far more than in northern states, which tend to be wealthier, more urbanised and less reliant on agriculture.

 

Map showing position of oilfileds in Sudan, source: Drilling info international

Sudan exports billions of dollars of oil per year. Southern states produce more than 80% of it, but receive only 50% of the revenue, exacerbating tensions with the north. The oil-rich border region of Abyei is to hold a separate vote on whether to join the north or the south.

 

Mais uma guerra civil iminente em África?

Alexandre Guerra, 05.01.11

 

 

 

Estará África na iminência de uma nova guerra civil? Os observadores internacionais no terreno, como o senador John Kerry, presidente do comité dos Negócios Estrangeiros do Senado dos Estados Unidos, acreditam que não. Estão confiantes que o referendo que se realiza no próximo Domingo no Sudão, e que irá decidir se o Sul daquele país se tornará numa nação independente, não terá consequências gravosas, estando neste momento todo o processo a decorrer sem problemas.

 

A CNN, no entanto, e inspirada na longa tradição africana de conflitos internos, colocava as coisas de uma forma mais prática ao dizer que o resultado deste referendo ou institui o mais recente Estado da comunidade internacional ou acaba em guerra civil. Atendendo ao historial do Sudão e ao comportamento da sua cúpula político-militar nos últimos anos, o Diplomata só pode concordar com aquela observação.

 

Apesar do Presidente sudanês, Omar al-Bashir, ter ontem reiterado que irá acatar o resultado do referendo, seja ele qual for, o Diplomata tem muitas dúvidas quanto à solidez destas palavras perante um cenário de secessão do Sul do território. O passado sangrento e violento de al-Bashir, seja em relação às populações do Sul ou da região de Darfur, perspectivam tudo menos um desfecho pacífico e tranquilo deste referendo.

 

Relembre-se que esta consulta popular resulta de um longo processo político e militar, que culminou nos acordos de paz de 2005, colocando o fim a duas décadas de conflito, e definiram várias linhas orientadoras estratégicas sobre o futuro do país, nomeadamente, partilha de governo, distribuição de receitas petrolíferas e o estabelecimento de um referendo sobre a autodeterminação do Sul do Sudão.

 

É importante sublinhar que o Sudão, o maior país africano, tem profundas divisões entre o Norte, maioritariamente muçulmano e próximo da cúpula política, e o Sul, cristão e animista e rico em petróleo, o terceiro produtor da África subsariana.

 

Estas clivagens traduziram-se em violência ao longo das últimas duas décadas e discriminação, na maior parte dos casos imposta pelo regime de Cartum, resultando na morte de duas milhões de pessoas, em muitos dos casos devido a fome e a doença.  

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 30.03.09

 

Foto AP

 

Desafiando o mandado internacional de captura emitido pelo TPI, o Presidente sudanês Omar al-Bashir deslocou-se hoje a Doha, capital do Qatar, para participar na cimeira anual da Liga Árabe. E se a discórdia reinou neste encontro, houve um ponto em que todos os líderes árabes estiveram de acordo: o apoio a al-Bashir. O Presidente sudanês foi, aliás, recebido no aeroporto de Doha com um tapete vermelho e um abraço caloroso do emir do Qatar, o sheik Hamad bin Khalifa al-Thani.