A 9 de Fevereiro, Goodluck Jonathan, ao bom e velho estilo africano, assumiu sem qualquer constrangimento a liderança da Nigéria, embora num processo relativamente tranquilo e devidamente validado pela Assembleia Nacional.
Desta vez, o derramamento de sangue foi contornado pelo facto de Jonathan estar supostamente a servir os mais altos interesses de nação ao substituir o então chefe de Estado em funções, Umaru Yar’Adua, a braços com problemas de saúde que o têm afastado da presidência do país.
Mas, rapidamente se percebeu que as intenções de Jonathan eram mais ambiciosas, não se ficando apenas pela substituição temporária do actual Presidente até novas eleições. O novo líder está empenhado em vincar a sua autoridade e a tomar todas as medidas necessárias para afirmar o seu poder.
Esta Quarta-feira, foi anunciada a dissolução do Governo, no qual muitos ministros tinham sido nomeados por Yar’Adua. Não foi avançada qualquer razão para esta medida, no entanto, os vários correspondentes estrangeiros no país referem que Jonathan teve como objectivo afastar possíveis aliados de Yar’Adua.
Os novos nomes do Governo serão apresentados em breve à Assembleia Nacional, mas nem por isso alguns críticos acusam Jonathan de ter violado as normas constitucionais.
Perante este cenário, não é exagero afirmar que Jonathan terá promovido uma espécie de golpe palaciano, ao afastar pessoas associadas a Umaru Yar’Adua e, provavelmente, a colocar no seu lugar homens da sua confiança.
Desde Novembro que Yar'Adua se encontra na Arábia Saudita, tendo regressado recentemente à Nigéria, numa viagem algo misteriosa, não tendo sequer sido visto em público, o que certamente não seria do interesse de Jonathan.
Entretanto, têm-se registado violentos confrontos entre muçulmanos e cristãos perto da cidade de Jos, supostamente por causa de direitos petrolíferos no Delta do Níger. No entanto, também é possível que esta onda de violência esteja a ser alimentada com a chegada de Jonathan ao poder, já que este é um cristão e Umaru Yar’Adu um muçulmano.
Segundo a tradição do Partido Popular Democrático, ao qual ambos pertencem, têm sido apresentados candidatos de diferentes religiões. Yar’Adua tinha sido eleito em 2007, enquanto que o seu antecessor foi o cristão Olusegun Obasanjo, que esteve no cargo oito anos. O propório partido já anunciou que o candidato presidencial do próximo ano terá que ser um muçulmano, excluindo automaticamente Jonathan.
Perante isto surgem duas grandes questões: qual será a reacção que o novo homem forte da Nigéria terá em relação a estes conflitos religiosos? E como irá Jonathan acatar a decisão do seu partido em propor um outro candidato para a presidência do país?