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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Coisa rara...

Alexandre Guerra, 01.04.15

 

Quem diria que da Nigéria,um país com 170 milhões de habitantes, retalhado em dezenas de etnias, dividido entre cristãos e muçulmanos, e com mais de 500 línguas e dialectos, nos chegassem boas notícias quanto ao desfecho de umas eleições presidenciais. Então não é que o ainda presidente Goodluck Jonathan, reconheceu de imediato a derrota, merecendo os elogios do seu adversário e vitorioso Muhammadu Buhari. Eis uma transição pacífica de poder em África. Coisa rara...

 

Boko Haram volta a lançar as "sementes" para uma guerra civil

Alexandre Guerra, 22.01.12

 

Um dos sobreviventes dos atentados de Sexta-feira na cidade de Kano/Foto: Reuters

 

O Boko Haram, ao qual o Diplomata já fez referência, voltou a atacar na Nigéria na passada Sexta-feira, naquela que terá sido a sua mais violenta acção, desde que o movimento foi criado em 2002. Os atentados ocorreram na cidade de Kano, tendo as autoridades até ao momento já confirmados mais de 160 mortos.

 

Aquele grupo, que tem ligações ao ramo da al Qaeda no norte de África, está a cumprir as ameaças que tinha feito, de que iria lançar a violência na Nigéria até que o Governo cedesse na libertação de alguns militantes islâmicos, que foram presos em 2009, numa operação que as autoridades levaram a cabo para tentar destruir aquele grupo. A verdade é que o Governo não apenas falhou nesse propósito como, desde então, o Boko Haram tem intensificado a sua actividade. 

 

Ainda no dia de Natal, vários atentados perpetrados por militantes do Boko Haram nos arredores de Abuja provocaram mais de 40 mortos. 

 

A situação é de tal forma preocupante que o Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, já disse que o País atravessa um momento mais complicado do que aquele que se viveu durante a guerra civil entre 1967 e 1970. Entretanto, já anunciou algumas detenções, embora dificilmente consiga travar o clima de tensão e de violência que se faz sentir na Nigéria.

 

Boko Haram está cada vez mais próximo da al Qaeda e traz a morte ao Natal nigeriano

Alexandre Guerra, 25.12.11

 

Destruição nas imediações da Igreja de Santa Teresa em Madalla, Suleja, nos arredores de Abuja/Foto: Solabi Sotunde - Reuters

 

Como já vem sendo hábito na Nigéria, a comunidade cristã voltou a ser atacada por grupos terroristas islâmicos. Foi um dia de Natal sangrento naquele país, com vários ataques bombistas a provocarem mais de 40 mortos. 

 

Os atentados foram perpetrados pelos militantes do Boko Haram, um grupo criado em 2002 e que se suspeita ter ligações à al Qaeda através dos grupos islâmicos do Norte de Àfrica.

 

O Boko Haram, que quer dizer "educação ocidental é proibida", pretende, à semelhança de outros grupos islâmicos em África, impor a "sharia" na Nigéria, inspirando-se no regime dos taliban no Afeganistão. 

 

Apesar de já ter alguns anos desde a sua formação, foi só a partir de 2009 que a sua acção começou a manifestar-se de forma mais violenta.

 

O Governo nigeriano tem tido uma grande dificuldade em combater o Boko Haram. Ironicamente, a situação piorou precisamente quando as autoridades nigerianas em 2009 tentaram destruir o grupo, tendo inclusive capturado e morto o seu líder de então. Também o quartel general da organização, em Maiduguri, capital da região de Borno, fora destruído.

 

 

Nessa operação morreram centenas de militantes do Boko Haram e desde então tem sido a guerra total entre aquele grupo e o Governo. As técnicas e tácticas dos militantes islâmicos estão a evoluir e as autoridades nigerianas demonstram alguma impotência para travar a escalada de violência.  

 

Relembre-se que a Nigéria é uma autêntica manta de retalhos étnica e linguística, sendo o Norte maioritariamente islâmico, enquanto o Sul tem uma elevada predominânica de cristãos (entre os quais animistas) 

 

A Nigéria é o país mais populoso de África com 160 milhões de habitantes, a maioria dos quais vive na probreza ou perto dela, apesar de ser o maior produtor de petróleo naquele Continente.

 

O Diplomata bem avisou que o Goodluck Jonathan ia arranjar problemas na Nigéria

Alexandre Guerra, 24.04.11

 

A propósito do que se passa na Nigéria e dessa figura da política africana, chamada Goodluck Jonathan, que acabou de vencer as eleições presidenciais daquele país, o Diplomata escrevia isto em Março do ano passado e dois meses depois escrevia isto.

 

Era previsível que Goodluck Jonathan, um cristão do Sul, se iria tornar num foco de conflito, num país abraços com profundas divisões religiosas e étnicas (mais de 250 grupos). E de acordo com aquilo que o Diplomata já tinha escrito, também não é de estranhar que os muçulmanos do Norte, supostamente liderados pelo candidato derrotado, o general Muhammadu Buhari, estejam a pegar em armas e se mostrem pouco disponíveis para aceitar os resultados eleitorais.

 

A organização nigeriana de direitos humanos, Civil Rights Congress (CRC), fala em mais de 500 mortos e em cerca de 40 mil deslocados.

 

 

Goodluck formaliza presidência da Nigéria e potencia tensão entre muçulmanos e cristãos

Alexandre Guerra, 06.05.10

 

O Diplomata dava conta neste espaço em Março de um golpe palaciano que estava a decorrer na Nigéria, embora num registo bastante tranquilo e devidamente validado pela Assembleia Nacional. Aproveitando a ausência do então Presidente de jure Umaru Yar'Adua, devido a doença, Goodluck Jonathan tinha assumido a presidência de facto do país a 9 de Fevereiro, tendo um mês depois dissolvido o Governo, para colocar homens da sua confiança nas posições ministeriais.

 

Hoje, Goodluck foi empossado formalmente Presidente da Nigéria depois da morte de Umaru Yar’Adua ontem à noite, garantindo que se manterá em funções até às eleições presidenciais do próximo ano. Entretanto, as suas principais mensagens foram de comprometimento numa reforma eleitoral e no combate à corrupção.  

 

Apesar das suas intenções aparentemente saudadas pela população, os analistas acreditam que Goodluck Jonathan irá criar todas as condições para que possa ser eleito Presidente nas eleições de 2011.

 

No entanto, caso isto venha a acontecer, pressupõe uma alteração nos estatutos do Partido Popular Democrático, ao qual Goodluck pertence assim como os últimos presidentes da Nigéria. A tradição do partido impõe que se vá alternando a religião de cada candidato presidencial, por modo a criar um equilíbrio entre as várias sensibilidades religiosas da Nigéria.

 

Aliás, o afastamento em Março dos ministros de Umaru Yar'Adua e a forma como Goodluck se impôs no poder está a gerar muita tensão entre os apoioantes do Presidente falecido, muçulmanos do Norte, e os seguidores do novo chefe de Estado, cristãos do Sul.

 

De acordo com a lógica do Partido, o próximo candidato deverá ser muçulmano, o que teoricamente afasta qualquer hipótese de Goodluck, mas certamente que este não irá aceitar passivamente este princípio. 

 

Mais uma história africana

Alexandre Guerra, 18.03.10

 

 

A 9 de Fevereiro, Goodluck Jonathan, ao bom e velho estilo africano, assumiu sem qualquer constrangimento a liderança da Nigéria, embora num processo relativamente tranquilo e devidamente validado pela Assembleia Nacional.

 
Desta vez, o derramamento de sangue foi contornado pelo facto de Jonathan estar supostamente a servir os mais altos interesses de nação ao substituir o então chefe de Estado em funções, Umaru Yar’Adua, a braços com problemas de saúde que o têm afastado da presidência do país.
 
Mas, rapidamente se percebeu que as intenções de Jonathan eram mais ambiciosas, não se ficando apenas pela substituição temporária do actual Presidente até novas eleições. O novo líder está empenhado em vincar a sua autoridade e a tomar todas as medidas necessárias para afirmar o seu poder.
 
Esta Quarta-feira, foi anunciada a dissolução do Governo, no qual muitos ministros tinham sido nomeados por Yar’Adua. Não foi avançada qualquer razão para esta medida, no entanto, os vários correspondentes estrangeiros no país referem que Jonathan teve como objectivo afastar possíveis aliados de Yar’Adua.
 
Os novos nomes do Governo serão apresentados em breve à Assembleia Nacional, mas nem por isso alguns críticos acusam Jonathan de ter violado as normas constitucionais.  
 
Perante este cenário, não é exagero afirmar que Jonathan terá promovido uma espécie de golpe palaciano, ao afastar pessoas associadas a Umaru Yar’Adua e, provavelmente, a colocar no seu lugar homens da sua confiança.
 
Desde Novembro que Yar'Adua se encontra na Arábia Saudita, tendo regressado recentemente à Nigéria, numa viagem algo misteriosa, não tendo sequer sido visto em público, o que certamente não seria do interesse de Jonathan.
 
Entretanto, têm-se registado violentos confrontos entre muçulmanos e cristãos perto da cidade de Jos, supostamente por causa de direitos petrolíferos no Delta do Níger. No entanto, também é possível que esta onda de violência esteja a ser alimentada com a chegada de Jonathan ao poder, já que este é um cristão e Umaru Yar’Adu um muçulmano.
 
Segundo a tradição do Partido Popular Democrático, ao qual ambos pertencem, têm sido apresentados candidatos de diferentes religiões. Yar’Adua tinha sido eleito em 2007, enquanto que o seu antecessor foi o cristão Olusegun Obasanjo, que esteve no cargo oito anos. O propório partido já anunciou que o candidato presidencial do próximo ano terá que ser um muçulmano, excluindo automaticamente Jonathan.
 
Perante isto surgem duas grandes questões: qual será a reacção que o novo homem forte da Nigéria terá em relação a estes conflitos religiosos? E como irá Jonathan acatar a decisão do seu partido em propor um outro candidato para a presidência do país?