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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

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1989-1991: Três anos em que os ventos de mudança sopraram muito forte

Alexandre Guerra, 19.01.14

 

 

São poucas as músicas que conseguem captar tão fielmente o espírito de uma determinada época, como o fez "Wind of Change" dos Scorpions ao descrever o fim da Guerra Fria e da União Soviética.

 

Inspirada na Perestroika e na Glasnost levadas a cabo pelo líder soviético, Mikhail Gorbachev, na segunda metade dos anos 80, "Wind of Change", integrada no álbum Crazy World, viria a tornar-se um sucesso comercial no Verão de 1991, logo após o golpe falhado perpetrado pela ala mais conservadora do Partido Comunista na ainda União Soviética.

 

Esse movimento tentou aproveitar a ausência de Gorbachev de Moscovo (que passava férias na Crimeia) para repor uma liderança anti-reformas. O golpe acabaria por falhar e a 25 de Dezembro desse ano Gorbachev anunciava formalmente o fim da União Soviética. Terminava assim um período de ventos de grandes mudanças na História da Europa, que tinha começado com a Queda do Muro de Berlim, a 9 de Novembro, e com o consequente desmoronamento do Bloco Soviético.

 

"1999", o protesto de Prince contra a política nuclear de Ronald Reagan

Alexandre Guerra, 17.06.12

 

Música "1999" do álbum homónimo de Outubro de 1982

 

Quando em Outubro de 1982 Prince lançou o seu quinto álbum, “1999”, o então Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, que ainda nem sequer tinha chegado a metade do seu primeiro mandato, já tinha marcado bem o seu estilo de governação, elegendo a América como o farol da moralidade e da virtude no mundo ao mesmo tempo que via na União Soviética a concretização de um sistema perverso e maléfico.

 

Faltavam ainda quatro anos para a célebre cimeira de Reiquiavique, realizada a 11 e 12 de Outubro de 1986 entre Reagan e Mikhail Gorbachev, então Secretário Geral do Partido Comunista. Este seria o primeiro passo dado por aqueles dois dirigentes para abordarem a problemática do “controlo de armamentos”, nomeadamente, a questão dos arsenais nucleares das duas super potências.

 

O fantasma de um conflito nuclear mundial pairava nas sociedades ocidentais com particular insistência no início dos anos 80, sobretudo com a Guerra Fria a “aquecer” durante este período, para depois voltar a “desanuviar” a partir da segunda metade da década de 80.

 

Foi aliás para fazer face a esta ameaça que Reagan anuncia a intenção de lançar um projecto defensivo contra mísseis balísticos soviéticos chamado Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE), mas que ficou vulgarmente conhecido como “Guerra das Estrelas”.

 

A opinião pública pressionava os governos da Europa e de Washington para que tomassem medidas concretas de modo a afastar o espectro de um conflito nuclear à escala global.

 

E é com este espírito de protesto, mas também de receio por uma guerra nuclear, que Prince compôs a música “1999” do álbum homónimo. Esta música foi o primeiro single a ser lançado. Em 1998 a música seria regravada, desta vez, com a banda The New Power Generation.

 

Quanto ao álbum, o primeiro que Prince fez com a banda Revolution, tornou-se no quinto mais vendido nos Estados Unidos em 1983, sendo um trabalho inspirador na forma como são utilizados os sintetizadores na mistura de estilos musicais como o R&B, o Funk, o Soul e até mesmo o Pop.

 

“1999” foi merecedor de inúmeras menções, tendo a revista Rolling Stone colocando-o na posição 163 dos 500 melhores álbuns de todos os tempos.

 

Recordações de Verão

Alexandre Guerra, 21.08.11

 

Russos a celebrarem a tentativa de golpe de Estado, a 21 de Agosto de 1991, junto à Casa Branca (sede do parlamento) em Moscovo/Vladimir Filonov/The Moscow Times

 

Uma das recordações de Verão do Diplomata remonta há 20 anos, precisamente por estes dias no ano de 1991, quando estava a desfrutar férias num parque de campismo em São Pedro Moel com um grupo de amigos, todos ainda jovens adolescentes na casa dos 15.

 

Ainda sem uma percepção política apurada, mas com um gosto claro para os temas internacionais, o autor destas linhas associou para sempre esses dias de férias ao golpe de Estado fracassado na ainda União Soviética.

 

Na altura, entre praia, saídas nocturnas e outros interesses menos produtivos, as atenções não estavam naturalmente focadas para o que se passava em Moscovo, mas percebia-se, entre os noticiários das oito da noite ouvidos aos soluços através das televisões espalhadas pelas tendas, roulottes e auto-caravanas ao longo do parque, que algo de histórico estava a acontecer na Rússia.

 

Com mais calma, e já regressado de férias, foi possível ao autor destas linhas perceber os contornos das movimentações turbulentas em Moscovo, que acabaram por se revelar infrutíferas (naquele momento) e permitir o regresso do então Presidente Mikhail Gorbachev a Moscovo, no dia 22 de Agosto, depois de ter estado durante vários dias em prisão domiciliária na sua casa de férias na Crimeia.  

 

Esta Segunda-feira assinalam-se 20 anos sobre aquele regresso ao Kremlin, que, como se viria a constatar pouco tempo depois, seria de curta duração. A 25 de Dezembro de 1991 Gorbachev anunciava a demissão do cargo de Presidente da URSS e enterrava definitivamente o império soviético.

 

Lições de história que Obama e Cameron devem ter bem presentes

Alexandre Guerra, 15.11.10

 

 

Estava-se no dia 13 de Novembro de 1986 quando o então Presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, traçou um cenário pessimista relativo à intervenção militar do seu país no Afeganistão. “Estamos a lutar há anos e se não mudarmos de estratégia estaremos aqui mais 20 ou 30”, disse o líder durante uma reunião do Politburo.

 

Corria então o sétimo ano de guerra e os 110 mil soldados soviéticos continuavam sem conseguir derrotar os mujahedin. Oito mil homens do Exército Vermelho já tinham morrido e 50 mil ficado feridos. Do lado afegão os mortos contavam-se às centenas de milhar.

 

Perante este cenário, Gorbachev acrescentou ainda: “Nós não estamos a conseguir aprender a forma de travar a guerra. Nós tínhamos definido um objectivo: promover um regime amistoso no Afeganistão. Mas, agora, temos que acabar com este processo o mais rápido que conseguirmos.”

 

Palavras que, de certa forma, se assemelham àquilo que o Presidente americano Barack Obama e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, disseram recentemente sobre o actual conflito no Afeganistão.

 

O Diplomata não gosta de comparações entre diferentes realidades históricas, no entanto, já ilações devem ser tiradas do envolvimento soviético no Afeganistão durante os anos 80.

 

O historiador Victor Sebestyen aconselha mesmo, num artigo de opinião na edição de Novembro da revista Prospect, que os actuais líderes americano e britânico analisem com atenção os mais recentes documentos disponibilizados por Moscovo a investigadores russos e americanos sobre os últimos anos da era soviética e o seu envolvimento no Afeganistão.

 

É certo que os contornos são diferentes e qualquer comparação arrisca-se a ser um exercício desvirtuado. Porém, há algo em comum entre estes dois conflitos no que respeita às motivações e dilemas das lideranças políticas.

 

Então, tal como hoje, Gorbachev era um líder recém-chegado ao poder e herdava nas mãos um conflito prolongado, oneroso e sem fim à vista, tal como aconteceu com Obama e Cameron.

 

Quando em Março de 1985 ocupou o Kremlin, Gorbachev disse de forma convicta que a retirada do Afeganistão seria a sua prioridade. Uma declaração feita numa perspectiva política e dirigida à opinião pública, mas desligada da verdadeira realidade do conflito. Gorbachev rapidamente percebeu que a tarefa a que se propôs era praticamente impossível de concretizar sem que com isso a União Soviética “perdesse a face”.

 

Um dilema com o qual Obama e Cameron se viram confrontados mal chegaram aos seus gabinetes, obrigando-os a refrear os ímpetos de debandada do Afeganistão.

 

A retirada soviética do Afeganistão sem qualquer ganho no terreno teria sempre consequências desastrosas para o império. Quando em Fevereiro de 1989 os últimos soldados soviéticos abandonam o Afeganistão deixavam para trás 15 mil camaradas mortos.

 

Política ou estrategicamente a União Soviética nada ganhara com a intervenção no Afeganistão, tendo pelo contrário, sido humilhada e ferida de morte na projecção da sua imagem enquanto super potência militar.

 

Dois anos depois e algumas revoluções pelo meio dava-se a implosão do império soviético e o desmembramento da URSS. O desastre no Afeganistão não foi a única causa do fim da Guerra Fria, mas foi certamente o catalisador que precipitou a derrocada do Pacto de Varsóvia e da URSS.