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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Só mesmo no México é que se rouba às autoridades o corpo do fundador de um cartel

Alexandre Guerra, 09.10.12

 

O Diplomata escreveu há uns dias um texto sobre o problema da droga no México, destacando o papel violento de alguns cartéis, nomeadamente o do Los Zetas, tendo o caracterizado como um "dos maiores cartéis do México, sendo conhecido pela sua violência, dizendo-se que costuma desmembrar as suas vítimas quando ainda estão vivas. Foi fundado por ex-soldados e além da droga, dedica-se à extorsão, raptos e tráfico humano".

 

Nesse mesmo texto o autor destas linhas sublinhava a violência que assola algumas regiões do México por causa da guerra declarada pelas autoridades e por causa dos conflitos entre os cartéis rivais.

 

No âmbito dessa sangrenta guerra governamental aos cartéis, elementos da marinha mexicana abateram mortalmente o fundador dos Los Zetas, Heriberto Lazcano, no Domingo, tendo a sua identidade sido confirmada esta Terça-feira. Mas a situação chegou a tal ponto que horas depois foram as próprias autoridades mexicanas a anunciar que o corpo de Lazcano tinha sido foi roubado por um bando armado.  

 

A guerra da droga no "backyard" americano

Alexandre Guerra, 15.09.12

 

 

Poucas pessoas deverão ter essa noção, mas até Janeiro deste ano já tinham morrido quase 48 mil pessoas no México em violência relacionada com o tráfico de droga, desde 2006, altura em que o então Presidente Filipe Calderón iniciou uma campanha militar contra os vários cartéis, mal tomou posse.

 

Depois da guerra ao narcotráfico levada cabo na Colômbia durante, sobretudo, a década de 90, e que resultou no enfraquecimento dos cartéis de Cali e de Medellín, o México tornou-se na principal plataforma de produção e distribuição de droga para os Estados Unidos. A Ciudad Juárez, na fronteira com o Texas, tem sido nos últimos anos o símbolo mais evidente dessa realidade, marcada por violência, seja entre cartéis rivais ou entre estes e as forças de segurança.

 

Actualmente, existem vários cartéis a operar no México com diferentes características e dimensões. Ficam aqui os mais importantes.

 

Sinaloa é actualmente o mais poderoso cartel, assente numa estrutura tradicional, liderado por Joaquín “El Chapo” Guzmán Loera. Los Zetas, mais pequeno em dimensão do que o Sinaloa, é o outro dos maiores cartéis do México, sendo conhecido pela sua violência, dizendo-se que costuma desmembrar as suas vítimas quando ainda estão vivas. Foi fundado por ex-soldados e além da droga, dedica-se à extorsão, raptos e tráfico humano.

 

 

Existe também o cartel do Golfo, bem armado e um dos mais poderosos dos últimos anos, embora se diga que tenha andado a perder força. Já o cartel de Juárez continua a ser importante pela área que controla, visto ser um “corredor” para a passagem de droga para os Estados Unidos. Por outro lado, o cartel de Tijuana está hoje longe de ser a organização poderosa que foi nos anos 90.

 

Há ainda o cartel de Beltrán Leyva que resulta de uma cisão da organização de Sinaloa, composto por vários grupos de assassinos que conseguem através da intimidação e da violência infiltrar “fontes” nas estruturas políticas e policiais.

 

Quando em Dezembro de 2006 Filipe Calderón iniciou a sua guerra aos cartéis da droga recorreu a milhares de soldados do Exército, mas contou igualmente com a ajuda norte-americana, nomeadamente através da Merida Initiative, lançada no tempo de George W. Bush, com um orçamento de 1,4 mil milhões de dólares. Anos mais tarde, já sob o mandato do Presidente Barack Obama, procedeu-se a um reajustamento do modelo de cooperação entre os dois países, mantendo-se no entanto, muitos dos projectos da Merida Initiative.

 

Uma das novidades passou a ser a utilização, no ano passado, por parte do Pentágono de drones a alta altitude para recolher “intelligence” em território mexicano e depois ser transmitida às autoridades daquele país.  

 

 

Uma das grandes dúvidas que se coloca é saber qual a estratégia que o novo Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, irá adoptar na guerra ao narcotráfico. Provavelmente, não irá alterar a estratégia em curso, até porque os estudos de opinião revelam que cerca de 70 por cento das pessoas exigem “mão pesada” contra os “narcos” e a pena de morte como sentença.

 

O que não deixa margem para dúvidas é o desafio que Nieto terá pela frente para “limpar” a corrupção das estruturas do Estado e do Governo.

Note-se que um dos grandes problemas com que as autoridades mexicanas se têm defrontado é a corrupção enraizada nas estruturas de Governo e do Estado. Seja a um nível mais inferior, como polícia ou poder político local, seja num grau mais elevado da hierarquia. Por exemplo, no passado mês de Maio, o Governo anunciou a detenção de três generais de alta patente, sendo que um deles chegou mesmo a ser o número dois no Ministério da Defesa.

 

Estes generais estavam ao serviço dos cartéis de droga, tendo como missão facilitar o tráfico, ou seja, o transporte da mercadoria para fora do país, e ao mesmo tempo filtrar e desviar toda a informação vinda das autoridades americanas, nomeadamente do DEA, que pudesse pôr em causa os esforços dos narcotraficantes.

 

Josefina traz uma certa dose de excitação às presidenciais mexicanas

Alexandre Guerra, 06.02.12

 

Josefina Vázquez Mota/Edgard Garrido - Reuters

 

A presença das mulheres na alta esfera política parece ser uma tendência cada vez mais acentuada. E se nalguns casos o seu protagonismo na cena política resulta de um processo evolutivo, reflectindo a dinâmica das respectivas sociedades, noutras situações está-se perante autênticas rupturas nos sistemas político-partidários.

 

O México, um país politicamente conservador, dominado durante mais de 70 anos pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), vê agora surgir uma mulher para candidata às presidenciais de 1 de Julho pelo Partido de Acção Nacional (PAN), partido que nos últimos anos ocupou a presidência com Felipe Calderón.

 

Josefina Vázquez Mota, antiga ministra da Educação, bateu nas primárias o seu companheiro de partido e ex-titular da pasta das Finanças, Ernesto Cordero.

 

Josefina Vázquez Mota terá pela frente o candidato do PRI, Enrique Pena Neto, neste momento mais bem colocado nas sondagens.

 

À esquerda concorre Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), que há seis anos tinha perdido as eleições para Calderon.

 

É a primeira vez na história do México que é nomeada uma mulher para concorrer ao mais alto cargo do Estado. Citado pela revista Time, Eric Olson, do Woodrow Wilson Center’s Mexico Institute, dizia que esta candidatura “injecta uma certa dose de incerteza (no bom sentido)". “Acrescenta o elemento histórico e talvez alguma excitação.”

 

Era uma questão de tempo até morrerem jovens americanos na Ciudad Juarez

Alexandre Guerra, 09.02.11

 

Em Junho do ano passado, o Diplomata escreveu um texto sobre a guerra do narcotráfico no México e as consequências que se faziam sentir nos Estados Unidos. Tendo em conta a extrema violência que assola cidades como Ciudad Juarez e a sua proximidade com a fronteira dos Estados Unidos, atraindo sempre muitos jovens estudantes americanos, era uma questão de tempo até surgir uma notícia como esta.

 

Estados Unidos e México envolvidos numa "guerra" sem fim à vista

Alexandre Guerra, 11.06.10

 

Agentes da Border Patrol examinam uma carga de marijuana na fronteira com o México/AFP

 

Vinte e duas mil pessoas perderam a vida no México desde 2006, a maioria devido a actividades relacionadas com a produção e tráfico de droga. Números impressionantes e que o Diplomata desconhecia, apesar de ter uma ideia da violência que assola aquele país no âmbito da problemática do narcotráfico.

 

Este assunto e a imigração ilegal são as duas grandes preocupações transfronteiriças entre o México e os Estados Unidos. E naturalmente são também os dois grandes eixos de cooperação entre as autoridades mexicanas e norte-americanas. E exemplo disso foi o Project Deliverance, uma gigantesca operação conjunta levada a cabo nos últimos 22 meses e que culminou esta Quarta-feira com a detenção de mais de 400 pessoas em 16 estados americanos e a apreensão de 150 milhões de dólares, 2,2 toneladas de cocaína, 62 toneladas de marijuana e 500 armas. Durante estes quase dois anos foram detidas ao todo mais de 2 200 pessoas.

 

O Procurador-Geral americano, Eric Holder, classificou com sucesso a operação e adiantou que foi um duro golpe para os cartéis no México, no entanto, alertou para o facto de tratar-se apenas de uma batalha ganha numa longa guerra que ainda está para durar. Uma das preocupações neste momento da DEA (Drug Enforcement Administration) é desmantelar todos os canais de distribuição nos Estados Unidos. O Project Deliverance foi implementado de acordo com esses objectivos.

 

Apesar dos esforços em curso, a situação no México, sobretudo nalguns estados mexicanos, parece estar a deteriorar-se, tendo o Presidente Felipe Calderón admitido recentemente junto do seu homólogo norte-americano, Barack Obama, necessitar da ajuda dos Estados Unidos para combater o flagelo do narcotráfico e do crime organizado. Os cerca de 50 mil soldados mexicanos mobilizados para este “combate” não estão a ter os resultados esperados.

 

A declaração de Calderon está em consonância com aquilo que pensam alguns responsáveis mexicanos, que acusam Washington de não estar a envidar os esforços necessários. Até ao momento, os Estados Unidos contribuíram com 1,3 mil milhões de dólares ao abrigo do pacote Merida Initiative.

 

O próprio Eric Holder admitiu que o Governo americano poderia estar a fazer mais, estando por isso a aguardar que o Congresso aprove uma ajuda extra de 500 milhões de dólares. O Presidente Obama está a ponderar ainda mobilizar 1200 efectivos da Guarda Nacional para a zona fronteiriça, com o objectivo de reforçar a vigilância e o controlo efectuado pela Border Patrol.

 

Efectivamente, é do interesse de Washington envolver-se ainda mais no combate ao narcotráfico no México já que, de acordo com um relatório recente do Departamento de Justiça do Estados Unidos, os grupos de crime organizado mexicanos estão a expandir a sua actividade para solo norte-americano. Além disso, a produção de heroína duplicou desde 2008, assim como o aumento de outras substâncias.

 

Kevin L. Perkins, director assistente da Divisão de Investigação Criminal do FBI, disse que o narcotráfico ao longo da fronteira com o México tem contribuído para o agravamento do consumo de droga nos grandes centros urbanos e para o aumento de violência nas zonas transfronteiriças, de raptos, de extorsão e de tráfico humano.

 

Estes factores têm provocado tensão entre os Estados Unidos e o México, sendo a recente lei aprovada no Arizona um bom exemplo. Através do novo mecanismo legal, as forças policiais daquele estado vão ter que obrigatoriamente confirmar o estatuto de imigração de qualquer pessoa suspeita de estar ilegal no país. Esta lei está a provocar uma forte reacção negativa por parte do México, compreensível uma vez que estima-se que ¾ dos 12 milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos sejam mexicanos.

 

Também na Segunda-feira passada, o México indignou-se com a morte de um jovem mexicano, atingido mortalmente pela Border Patrol, na fronteira em El Paso, sendo o segundo incidente fatal do género em duas semanas. Holder informou de que está um inquérito em curso.

 

Leituras

Alexandre Guerra, 07.08.09

 

O México tem vivido dias particularmente conturbados no âmbito da problemática da produção e tráfico de droga. Mexico's war on civil rights, publicado hoje no Los Angeles Times, de Denise Dresser, colunista no jornal mexicano Reforma e professora no Autonomous Technological Institute of Mexico, oferece uma perspectiva na temática dos Direitos Humanos.

 

Um artigo interessante sobre a realidade mexicana, publicado a poucas horas da deslocação do Presidente Barack Obama a Guadalajara para uma importante cimeira com os seus homólogos da América do Norte.