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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Portugal deve estar muito atento ao que se passa na Líbia

Alexandre Guerra, 13.05.13

 

Há sensivelmente duas semanas, o Diplomata dava conta neste espaço de um artigo do The Guardian sobre a emergência de novas milícias islamitas na Líbia "empurradas" do Mali por causa da intervenção francesa neste país. Hoje, um atentado bombista perto de um hospital em Benghazi provocou a morte de nove pessoas e ferimentos noutras 17.

 

A situação na Líbia tem-se deteriorado nos últimos meses, levando mesmo a que Londres tenha reduzido todo o seu "staff" diplomático. A instabilidade política na Líbia, resultante da queda de Muammar Khadafi e, posteriormente, da intervenção francesa no Mali, deve ser contida quanto antes, por modo a não alastrar à Argélia e a Marrocos.  Mas, para isso, é importante que a União Europeia, nomeadamente os países do Sul, desenvolvam uma estratégia preventiva de "containment", até porque, cada vez mais, se jogam interesses vitais para Portugal nalguns Estados do Magrebe, com Argélia à cabeça.

 

As "primaveras" árabes (3)

Alexandre Guerra, 10.06.11

 

Campo de refugiados sírio em Yayladag, Turquia/Foto: Daniel Etter/The New York Times

 

A “Primavera” árabe em curso nalguns países do Médio Oriente suscitou, há dias, uma interessante e acesa conversa entre o autor destas linhas e uma jornalista, com experiência recente no terreno num daqueles cenários de revolta.

 

Basicamente estavam em confronto (pacífico) duas perspectivas sobre a tão proclamada e aclamada “Primavera” árabe. Não eram necessariamente inconciliáveis, mas pressuponham diferentes enquadramentos doutrinários em relação à forma de se ler as revoluções de rua que eclodiram ao longo dos últimos meses na Tunísia, no Egipto, na Líbia, no Iémen, no Bahrein e na Síria.

 

A interlocutora do Diplomata, entusiasta destes movimentos de insurreição, vê neles uma expressão legítima e sincera de emancipação popular, de libertação dos povos oprimidos face aos seus regimes despóticos.

 

Uma perspectiva válida de quem em plena praça Tahrir “sentiu” e “auscultou” as emoções, os dramas, a resistência pacífica das gentes, os cordões humanos de solidariedade e de protecção dos camaradas de luta. É por isso que, conta quem viu, foi algo especial.

 

Esta foi aliás uma ideia em que a imprensa internacional e a opinião pública embarcaram, a de uma “Primavera” revolucionária pacífica e ordeira, fruto da vontade comum e do interesse geral, que se fez sentir na Tunísia e no Egipto. Ora, na opinião do Diplomata esta é uma leitura enublada da realidade.

 

Veja-se o seguinte: Parece que aos olhos do mundo, nas revoluções destes dois países só há a lamentar a violação da repórter norte-americana da CBS, Lara Logan (uma lamentável situação que, na verdade, resulta da lógica de multidão em fúria que poderia acontecer em qualquer parte do mundo). Não fosse este episódio de drama, a Tunísia e o Egipto teriam vivido revoluções “limpas”, “arrumadinhas”, como a opinião pública internacional gosta hoje de olhar para este tipo de movimentos, esquecendo-se que, normalmente, estes fenómenos contam sempre com dinâmicas reaccionárias.

 

O Diplomata, mais perverso na sua análise, lembra que as revoluções implicam quase sempre rupturas, choques, e com isso a violência, o derrame de sangue e os mortos. O que se passou na Tunísia e no Egipto não fugiu a esta lógica, apesar do deslumbramento primaveril com que líderes políticos e comunidade internacional olharam para aquelas revoluções.

 

De acordo com um relatório das Nações Unidas, a revolução da Tunísia provocou 219 mortos e 510 feridos. Números pouco lembrados pela imprensa internacional e praticamente desconhecidos pela opinião pública. Também no Egipto, poucos citaram o relatório divulgado em Abril por uma comissão daquele país, no qual se falam em quase 900 mortos e cerca de 6500 feridos durante a “Primavera” egípcia.

 

O entusiasmo da opinião pública internacional e a ingenuidade dos líderes políticos ao acolherem imprudentemente as revoluções na Tunísia e no Egipto, sem pensarem realisticamente nas suas consequências internas e no sistema internacional, passou rapidamente ao embaraço quando as coisas começaram a correr mal na Líbia, no Iémen e na Síria.

 

As "primaveras" árabes (1)

 

As "primaveras" árabes (2)

 

As "primaveras" árabes (2)

Alexandre Guerra, 06.06.11

 

Rebeldes líbios na cidade de Yafran/Foto: Youssef Boudlal/Reuters

 

Quando a Europa revolucionária fervilhava em 1848, também o Médio Oriente era assolado por uma vaga de revoltas, provocando autênticos terramotos políticos, relembra na última edição da Foreign Affairs, Jack A. Goldstone, professor na George Mason University’s School of Public Policy.

 

As razões por detrás destas revoluções não eram exactamente as mesmas das europeias, sendo que em países como Marrocos e Oman, o elevado preço dos alimentos ou as altas taxas de desemprego levaram as pessoas para a rua. Na Europa, as motivações foram sobretudo políticas e ideológicas.

 

Seja como for, é interessante constatar que existe algum paralelismo entre as revoltas que nos últimos meses se abateram sobre alguns Estados do Médio Oriente (e que muitos analistas e jornalistas insistem em classificar de inéditas) e aquilo que aconteceu em 1848 na mesma região.

 

No entanto, Jack Goldstone identifica uma diferença importante. Diferença que não tem a ver com os factores que espoletaram as revoluções, mas antes com os alvos a quem se dirigiam.

 

Em 1848, os povos de alguns países do Médio Oriente insurgiram-se contra as monarquias tradicionais, porque era essa a natureza dos seus regimes.

 

Ora, em 2011 os alvos da contestação são sobretudo “’sultanistic’ dictatorships”, regimes que assentam na figura de uma só pessoa, empenhada na concentração de poderes e de riqueza, na criação de uma rede dependente de interesses, na despolitização e empobrecimento da sociedade e na sua perpetuação na liderança.

 

Como já aqui ficou demonstrado, as revoltas de rua do Médio Oriente dos últimos meses não são uma realidade inédita. Porém, é inegável que pela primeira vez o povo ousou desafiar o poder do regime dos “sultões”, nalguns casos encontrando pouca resistência, como aconteceu na Tunísia ou no Egipto, noutros, deparando-se com movimentos reaccionários violentos, como se está a verificar na Líbia e na Síria.

 

As "primaveras árabes" (1)

 

As "primaveras" árabes (1)

Alexandre Guerra, 02.06.11

 

 

Corria o ano de 1919, depois da Grande Guerra, e os povos agarravam com entusiasmo o pacifismo de Woodrow Wilson, materializado nos seus Catorze Pontos.

 

Obviamente que o contágio dessa corrente pacifista não contou com o "empurrão" da televisão e muito menos das redes sociais, mas com a ajuda do telégrafo, a retórica daquele Presidente americano propagou-se a várias regiões do Mundo, nomeadamente, ao Médio Oriente e ajudou a inflamar os ânimos, imagine-se, nas ruas do Egipto, da Tunísia e da Líbia.

 

Na altura, tal como agora, os povos vieram para rua em diferentes circunstâncias e contextos. Como observa Lisa Anderson, presidente da Universidade Americana no Cairo, as motivações na Tunísia, no Egipto e na Líbia eram diversas, consequência, dos diferentes estádios de desenvolvimento de cada um desses mesmos Estados.

 

É por isso que quem olhar para a actual “Primavera” como uma onda de revolta inédita nas ruas árabes, é o mesmo que estar a ignorar a História e todos os movimentos de desobediência civil alimentandos pelas redes nacionalistas nos anos a seguir ao fim da I GM.

 

Na última edição da Foreign Affairs, Anderson chama a atenção para este facto e considera que as revoltas dos últimos meses na Tunísia, no Egipto e na Líbia, além de não serem novidade, não são necessariamente resultado da globalização ou dos fenómenos das redes sociais.

 

Como foi logo referido no início deste texto, há sensivelmente 90 anos os povos daqueles Estados vieram para as ruas para se manifestarem sobre problemáticas igualmente importantes para o futuro das suas sociedades. Por exemplo, os tunisinos manifestavam-se pela restauração da constituição, entretanto suspensa.

 

Já os egípcios revoltaram-se para exigirem a queda do Governo e a libertação nacionalista face ao império britânico. E na Líbia, os vários líderes tribais e provinciais batiam-se contra a presença italiana naquele país.

 

Tudo isto foi feito sem Internet ou redes sociais, embora (e ninguém seja ingénuo) estes movimentos não tenham nascido por combustão espontânea.

 

As “networks” nacionalistas árabes, com uma base doutrinária sólida e bem organizadas nas estruturas, desempenharam um papel preponderante. Apesar disso, na altura, tal como agora, não se podia falar numa vaga homogénea árabe.

 

Aliás, a tentação de se falar em “Primavera” árabe como se o Sol brilhasse da mesma maneira para todos não corresponde à realidade e acaba por toldar toda a análise dos fenómenos sociais e políticos que se verificam no terreno.

 

Uma "Primavera" cada vez mais sangrenta

Alexandre Guerra, 15.05.11

 

 

Os líderes ocidentais, numa euforia cega e desmedida, abraçaram aquilo que consideravam ser uma espécie de "Primavera" árabe, esquecendo-se do realismo político e ignorando todos os ensinamentos da História dos povos.

 

De uma forma ingénua, a opinião pública na Europa e nos Estados Unidos foi atrás e pensou que tudo ia ser como na Tunísia, com as pessoas a virem pacificamente para a rua a exigir a queda dos seus "ditadores", e a clamarem, entusiasticamente, por democracia ao som de cânticos e de "vivas" ao Exército. 

 

Uma história bonita, mas longe da dura realidade do Médio Oriente e do Magrebe. A verdade é que no Egipto já tinham surgido alguns sinais preocupantes de que esta "febre" revolucionária repentina podia acabar mal para alguém.

 

É então na Líbia que estala um verdadeiro processo revolucionário e reaccionário e com tudo o que isso acarreta. Para quem ainda não tenha reparado, a NATO está com um verdadeiro problema em mãos e não sabe como resolvê-lo. Na Síria, os contornos ameaçam ser ainda mais sangrentos, começando a vislumbrar-se situações aterradoras.

 

Na Sexta-feira à noite, o Diplomata via na CNN estas imagens brutais. Imagens, essas, que devem fazer reflectir todos aqueles que irresponsavelmente apoiam e embarcam em aventuras revolucionárias sem tentar perceber quais são os melhores meios para atingir determinados fins. 

 

A morte de dois fotojornalistas na Líbia vem lembrar que aquilo é uma guerra a sério

Alexandre Guerra, 22.04.11

 

 

A morte de dois fotojornalistas de guerra e o ferimento de outros dois é um sinal de alerta para a comunidade internacional de que o que se passa na Líbia é mesmo a sério, e que se está entrar num processo de escalada que começa a ter contornos muito preocupantes.

 

Tim Hetherington, colaborador britânico da revista Vanity Fair, tendo também trabalhado com a CNN, e o americano Chris Hondros, da agência Getty, foram atingidos na terça-feira por tiros de  morteiro no centro de Misrata, cidade do oeste líbio.

 

Ambos tinham uma vasta experiência em cenários de conflito. Hetherington cobriu numerosos conflitos nos últimos dez anos e recebeu muitos prêmios, entre eles o World Press Photo Award, em 2007, pelas suas fotos de soldados americanos no Afeganistão. Foi também neste país que, em parceria com o colega de profissão Sebastian Junger, produziu o documentário "Restrepo", premiado no Festival Sundance em 2010 e nomeado para o Óscar. O documentário foi filmado durante dez meses no vale afegão de Korengal, um feudo talibã próximo da fronteira com o Paquistão.

 

O jornal i traz hoje um artigo interessante sobre Hetherington, citando umas declarações suas após as filmagens do Restrepo em que dizia que já não queria voltar a cobrir conflitos. Mas, a verdade é que não resistiu à tentação de mais uma guerra. 

 

Chris Hondros cobriu os conflitos de Kosovo, Angola, Serra Leoa, Afeganistão e Iraque. Ganhou em 2006 a medalha de ouro Robert Capa pela sua "coragem e iniciativa excepcionais" no Iraque.

 

Guy Martin, da agência Panos, e Michael Brown, freelancer, foram os outros dois fotojornalistas que ficaram feridos.

 

Portugal contraria Washington no fornecimento de armas aos rebeldes líbios

Alexandre Guerra, 28.03.11

 

Nos últimos dias muito se tem falado na possibilidade dos países aliados fornecerem armas aos rebeldes líbios, para que possam fazer frente ao poder de fogo das forças governamentais ao serviço do líder líbio, Muammar Khadafi.

 

Esta possibilidade não é consensual entre as chancelarias, porque é uma decisão política que pressupõe a intervenção directa num conflito interno e a tomada de partido por um dos lados. Além disso, coloca em causa o embargo imposto a 26 de Fevereiro à Líbia, pela Resolução 1970 do Conselho de Segurança.

 

Este Domingo, o secretário de Defesa britânico, Liam Fox, disse que Londres não vai aprovar qualquer estratégia de fornecimento de armas aos rebeldes, alegando precisamente com o facto de haver um embargo que é preciso respeitar.

 

No entanto, Washington e Paris não parecem estar tão certos desta limitação, alegando que a Resolução 1973 aprovada a 17 de Março e que impôs a "No-fly zone" permite excepções ao embargo, desde que sejam aprovadas pelo Comité de Sanções do Conselho de Segurança que, por acaso, e para desconhecimento de muitos, é presidido por Portugal, na pessoa do embaixador português nas Nações Unidas, José Filipe Moraes Cabral.

 

Face ao interesse de Washington em fornecer armas aos rebeldes, o embaixador português foi veemente na passada Sexta-feira, ao considerar que no actual enquadramento legal do conflito na Líbia não via grandes hipóteses de tal acontecer. José Filipe Moraes Cabral admite que o texto da resolução 1973, nomeadamente o artigo 4º, possa dar espaço a várias interpretações, mas a sua não ia nesse sentido.

 

Os primeiros ataques dos aliados na Líbia vistos através da lente de Goran Tomasevic

Alexandre Guerra, 20.03.11

 

O fotógrafo da Reuters, Goran Tomasevic, é um dos poucos que está no cenário de conflito da Líbia, registando as primeiras horas de ataques das forças aliadas.

 

O rebentamento de uma bomba lançada pela aviação aliada numa autoestrada perto de Benghazi este Domingo.

 

Rebeldes assistem à destruição de veículos das forças governamentais.

 

Ataque aéreos das forças aliadas sobre forças governamentais este Domingo a sul de Benghazi.

 

Estrada com camiões e veículos em chamas.

 

Rebeldes festejam um ataque aéreo das forças aliadas.

 

Mais uma história de "interesses" sob a lógica do realismo político

Alexandre Guerra, 07.09.09

 

Foto PA

 

O acordo celebrado entre os governos da Escócia e da Líbia para a transferência do prisioneiro Adbelbaset Ali al Megrahi, o único a cumprir pena de prisão pelo atentado de Lockerbie ao voo da Pan AM em 1988, e do qual resultaram 270 mortos, está a revelar-se um verdadeiro embaraço para algumas figuras políticas britânicas. 

 

Inicialmente, havia uma versão oficial, na qual a decisão do Governo escocês assentara exclusivamente numa base de cariz humanitário, já que o prisioneiro, supostamente, se encontra num estado terminal de doença que não se deverá prolongar além dos três meses de vida

 

Por isso, não é de estranhar que num primeiro momento, após o conhecimento público do acordo, os contornos específicos do mesmo não tenham suscitado grande celeuma.  A situação altera-se radicalmente após a recepção apoteótica de al Megrahi em Tripoli, espoletando reacções de repulsa em diferentes sectores britânicos.

 

Além do argumento humanitário, começaram a surgir notícias que davam conta de um acordo secreto previamente negociado em 2007, inserido numa lógica alargada de aproximar a Líbia ao sistema internacional e de melhoramento das relações comerciais entre o Reino Unido e aquele país.

 

No âmbito desse acordo terá estado um negócio de 550 milhões de libras em favor dos britânicos, nomeadamente para a petrolífera BP se instalar na Líbia em condições mais vantajosas. 

 

Foto PA

 

O primeiro-ministro inglês Gordon Brown reiterou esta semana que não houve qualquer encobrimento de um acordo secreto. Efectivamente, o Executivo britânico já tinha libertado documentos que demonstravam a vontade do secretário de Justiça inglês, Jack Straw, excluir al Megrahi de qualquer acordo de transferência de prisioneiros. No entanto, em Dezembro de 2007 terá mudado de ideias. 

 

Uma posição agora confirmada pelo próprio em entrevista ao Daily Telegrah. Jack Straw admitiu que afinal não estavam apenas em jogos razões humanitárias, mas também objectivos comerciaise políticos, numa tentativa de estreitar relações entre a Líbia e especificamente o Reino Unido: "Libya was a rogue stat. We wanted to bring it back into the fold. And yes, that included trade because trade is an essential part of it and subsequently there was the BP deal."

 

 

No meio disto tudo, o Governo escocês mantém a sua versão de que a libertação de al Megrahi não foi inserida em qualquer acordo secreto de transferência e que não houve qualquer negociação com Londres. O próprio Straw tinha evitado compromoter esta posição, porém, revelou ao Daily Telegrah que em Julho de 2007 esteve reunido com o secretário de Justiça e o primeiro-ministro escoceses para discutirem  o acordo (nesta altura, todos defendiam a exclusão de al Megrahi de qualquer acordo).

  

Mais tarde, Straw escreveu ao secretário de Justiça escocês, Kenny MacAskill, a informá-lo de que afinal al Megrahi teria que se incluído num acordo de transferência, sob o argumento de estarem em jogo "interesses avassaladores para o Reino Unido".

 

 

Straw estava claramente a mover-se numa lógica de realismo político, aproveitando a oportunidade de transferência de al Megrahi para defender os interesses do Reino Unido. Tratava-se de uma janela de oportunidade política e comercial que Straw considerou não estar em condições de recusar, sobretudo quando se está a lidar com um país que tem tanto para "oferecer" ao Ocidente, segundo alguns analistas citados pela AP. 

 

E, efectivamente, Straw acabou por alcançar os objectivos, ao conseguir estreitar as relações políticas com a Líbia, ao ponto do porta-voz daquele regime, Abdul Majeed al Dursi, ter tecido fortes elogios ao Reino Unido:  “This is a brave and courageous decision by the British, which shows its understanding of Libyan culture by allowing a sick man to be at home when he dies. It showed the relations between Britain and Libya are strong and deep. We in Libya appreciate this and Britain will find it is rewarded.”

 

Também em termos económicos, a BP nos últimos anos já contabiliza um investimento de mil milhões de dólares em projectos de exploração na Líbia.

 

O problema é que toda a estratégia desenvolvida por Straw tornou-se pública, criando um embaraço político para o Executivo britânico. Apesar de Straw ter revelado que Brown não teria conhecimento deste processo, a oposição está a instrumentalizar o assunto para atacar o primeiro-ministro. Também o Governo escocês acaba por ser associado ao assunto, já que terá alinhado com os intentos de Straw.  

 

O paradigma do realismo político assenta numa lógica de segredo e de discrição, por vezes longe da opinião pública, no qual os interesses do Estados se sobrepõem a outros factores igualmente meritórios, mas politicamente alvo de outras interpretações quanto à sua importância estratégica para o Estado.

 

Straw acabou por fazer aquilo que outros dirigentes teriam feito, ao perceber que podia potenciar uma oportunidade em favor de "interesses avassaladores". No entanto, os riscos políticos inerentes a estratégias deste género são muito altos, sobretudo quanto o assunto passa para o domínio público.