Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Todos devem apoiar Trump

Alexandre Guerra, 12.06.18

 

1528782245_343530_1528782376_album_normal.jpg 

No sistema internacional, por vezes, as relações pessoais entre líderes contam muito/Foto: Evan Vucci/AP 

 

Por mais que custe a admitir aos opositores e detractores de Donald Trump, e independentemente do parco conteúdo da declaração conjunta da cimeira de Singapura e do inexistente “road map” a ser seguido nos próximos tempos, ao fim de várias décadas de gelo diplomático entre os EUA e a Coreia do Norte, seria sempre preferível ter um encontro amigável de alto nível, mesmo que inócuo, do que não ter nada e manter-se o clima instável e volátil que se vinha sentindo nos últimos meses entre Washington e Pyongyang. A guerra de palavras entre Trump e Jong-un tinha escalado para níveis nunca dantes vistos nas relações internacionais entre dois chefes de Estado, mas o problema maior tinha a ver com o processo nuclear norte-coreano que, apesar de tudo, foi fazendo o seu caminho, com testes atrás de testes e lançamentos atrás de lançamentos. Se a Coreia do Norte continuasse a seguir este caminho, seria muito provável que viesse a conseguir dotar-se de uma capacidade plena e eficaz nuclear, quer ao nível dos seus vectores de lançamento, quer na miniaturização das respectivas ogivas. Até ao momento, daquilo que se foi sabendo, ainda havia muito trabalho a fazer, mas algum dia esse percurso teria que ser travado… diplomática ou militarmente. Sendo a capacidade nuclear um factor de poder enormíssimo na hierarquia dos Estados no sistema internacional, uma coisa é Washington negociar com Pyongyang nesta fase, outra coisa seria um líder americano sentar-se à mesa com o seu homólogo norte-coreano numa altura em que este país já fizesse parte do exclusivo “clube” das potências nucleares. Aqui, as condições de negociação seriam certamente outras.

 

Trump deslocou-se a Singapura numa altura em que a Coreia do Norte ainda está longe de ser reconhecida como uma potência nuclear, com capacidade para militarizar a tecnologia até agora desenvolvida. Ainda não alcançou o estatuto de países como a Índia, o Paquistão ou Israel. Mas para lá caminha(va). Mais, Trump foi até Singapura com a certeza de que a Coreia do Norte está desesperadamente à procura de recursos financeiros (e outros) para colmatar a “falência” daquele país. Tudo na Coreia do Norte é uma ficção, uma ilusão, excepto a crise humanitária que aflige milhares de pessoas em proporções que, na verdade, não são verdadeiramente conhecidas.

 

Além disso (e isto em política internacional é muito importante), nota-se uma ânsia de diálogo e abertura por parte do líder Kim Jong-un. Não quer dizer necessariamente que seja uma vontade de suavizar o regime ou de “abrir” a sociedade, mas, para quem tem acompanhado com alguma atenção o percurso deste jovem líder, constata que há em si um ímpeto para ir além-fronteiras e estabelecer pontes com outros países e governantes. Às vezes quase que parece uma criança num loja de chocolates quando se confronta com a novidade. Parecem pormenores, mas, num regime unipessoal como é o da Coreia do Norte, estas matérias de personalidade podem fazer toda a diferença nos desígnios de uma nação.

 

Trump poderá estar certo quando diz que sentiu da parte do seu interlocutor vontade genuína para negociar. Resta saber o que será negociado e em que condições. Para já, pouco se sabe, mas presume-se, caso a cimeira tenha sido bem conduzida os seus protagonistas bem assessorados, que tenham sido estabelecidas as metas, os grandes objectivos políticos a serem alcançados. É para isso que servem estes encontros. Depois a forma de como lá se chega, concessão aqui, concessão ali, é um trabalho de bastidores, de muita paciência e, sobretudo, confiança entre as partes.

 

Se for verdade aquilo que Trump tem anunciado nestas últimas horas, então o mundo deve congratular-se pelo facto de aqueles dois líderes terem definido a “desnuclearização da Península da Coreia” como o principal objectivo. Provavelmente, os EUA terão que pagar um preço muito elevado como contrapartida, mas, a médio e a longo prazo, quem sabe se Washington não terá na Coreia do Norte um gigantesco receptor de ajuda financeira, à semelhança do Egipto e da Jordânia, países que, apesar das suas diferenças religiosas, culturais e políticas, se mantiveram sempre como preciosos aliados da Casa Branca.

 

Para já, e por mais disparates e erros que Trump tenha feito nos últimos meses e ódios que suscite, este esforço diplomático merece ser reconhecido e é por isso que ainda esta semana o insuspeito Nicholas Kristof escrevia que os democratas no Congresso não deveriam adoptar a mesma atitude dos republicanos e criticar por criticar a iniciativa do Presidente americano. Porque, neste momento, é do interesse de todos que esta jogada arrojada de Donald Trump se revele certeira.

 

"Brincadeiras" que um dia podem correr muito mal

Alexandre Guerra, 23.06.16

20160623001277_0.jpg

Lançamento na Quarta-feira de um dos dois mísseis de médio alcance Musudan com a presença de Kim Jong-un/Yonhap 

 

Nos últimos anos vai-se tendo cada vez mais a impressão de que, a acontecer qualquer drama militar de dimensões cataclísmicas, começará numa "brincadeira" para os lados da Ásia oriental. Se é na Península da Coreia (que, "by the way", continua formalmente em estado de guerra), no Mar do Japão ou no Mar Oriental ou Sul da China, ainda está para se ver (esperemos que não). Além dos interesses territoriais inconciliáveis entre várias nações que se jogam naquelas paragens, esta região é, no actual contexto geopolítico e geoestratégico, uma espécie de ponto de confluência de várias "placas tectónicas". Porque, além dos actores regionais directamente envolvidos nas disputas territoriais, tais como a China, o Japão, a Coreia do Norte, a Coreia do Sul, a Rússia, o Vietname, as Filipinas, entre outros, o jogo de alianças e de interesses acaba por envolver também os EUA, sobretudo pela sua ligação aos aliados nipónicos e a Taiwan.

 

Qualquer acidente ou incidente que por ali aconteça (e têm acontecido alguns) pode acender o rastilho para algo de dimensões problemáticas. Da disputa das Ilhas Curilhas, entre o Japão e a Rússia, à das Ilhas Spratly, entre Pequim e várias nações, tais como as Filipinas ou o Vietname, passando pelas "escaldantes" Ilhas Senkaku (ou Diayou para os chineses), sob administração japonesa mas reclamadas por Pequim, os factores de ignição são muitos. São recorrentes os episódios militares hostis, sobretudo por parte de Pequim, com Washington, por exemplo, à distância, a ir dizendo que não permitirá qualquer ameaça à integridade territorial do Japão. Isto já para não falar do "dossier" Taiwan. Mas é principalmente de Pyongyong que vem a maior ameaça sistémica. A Coreia do Norte não abdica da sua retórica bélica e provocadora e tem dado claros sinais de que a acompanha com uma escalada militar. Ainda ontem testou mais dois mísseis balísticos de médio alcance, conhecidos no Ocidente como Musudan, tendo o primeiro falhado, mas o segundo alcançado os objectivos. E trata-se de informação já confirmada pela Coreia do Sul e EUA.

 

Se ainda estou recordado das aulas de Problemática e Controlo de Armamentos, um míssil balístico de médio alcance (MRBM/IRBM) poderá ter um raio de acção entre os 500 quilómetros e os 5000. A partir daí estamos a falar de mísses Intercontinentais (ICBM). Este míssil norte-coreano terá voado 400 quilómetros, o que, segundo os especialistas, representa uma melhoria em relação ao teste anterior. Há poucas dúvidas de que se o regime de Pyongyang continuar a testar os seus mísseis, irá conseguir desenvolver na sua plenitude de forma eficaz estes vectores de lançamento de eventuais ogivas nucleares. E, por isso, o líder norte-coreando, Kim Jong-un já veio dizer que o seu país está em condições de atacar interesses dos Estados Unidos na ilha de Guam, no Pacífico. Se é certo que muitas das vezes a retórica proveniente dos líderes daquele regime é mera propaganda, desta vez, e a julgar por algumas reacções, as palavras de Kim Jong-un estão a ser levadas mais a sério.

 

Pyongyang aumenta a "parada" negocial

Alexandre Guerra, 12.02.13

 

O anúncio do terceiro teste nuclear norte-coreano (o primeiro foi em 2006 e o segundo em 2009) feito pela televisão estatal

 

No final do ano passado, e em jeito de previsão para a 2013, o Diplomata fazia a seguinte pergunta: "É possível que Pyongyang volte a fazer lançamentos de propulsores balísticos (foguetões) em 2013. Mas haverá algum teste nuclear?"


A resposta de Pyongyang veio mais cedo do que se esperava, com a realização, esta Terça-feira, de um teste nuclear, o terceiro do seu programa atómico. A Agência Internacional de Energia Atómica, sediada em Viena, informou que a explosão subterrânea teve o dobro da força do que o último teste realizado em 2009.

 

Trata-se, claramente, de uma posição de força do líder Kim Jong-un que, por um lado, alimenta o delírio colectivo em redor de uma certa iconografia de poder, e por outro, aumenta a "parada" negocial junto da comunidade internacional, demonstrando que tem uma "moeda de troca" muito valiosa.  

 

A primeira provocação de Kim Jong-un a Washington

Alexandre Guerra, 25.03.12

 

 

Kim Jong-un, o novo líder da Coreia do Norte, prepara-se para concretizar a sua primeira provocação a Washington, quando em Abril lançar um míssil de longo alcance que, supostamente, vai colocar em órbita um satélite. O lançamento deverá coincidir com os 100 anos do nascimento do Grande Líder, Kim Il-sung.

 

O Presidente Barack Obama já reagiu e disse que a Coreia do Norte "não vai conseguir nada com ameaças ou provocações".

 

Uma morte esperada e uma sucessão já há algum tempo anunciada

Alexandre Guerra, 19.12.11

 

Kim Jong-il como o seu filho Kim Jong-un no ano passado/Foto: Kyodo News, via Associated Press

 

Foi com lágrimas e mergulhada numa profunda tristeza que uma mulher anunciou na televisão nacional norte-coreana a morte de Kim Jong-il, o "Querido líder" da Coreia do Norte. Esta era uma notícia já esperada há algum tempo, tendo em conta o estado debilitado da saúde do líder do regime de Pyongyang.

 

Há quase três anos que o Diplomata tem vindo a acompanhar que se vai passando naquele país, nomeadamente as movimentações que antecipavam uma sucessão para o seu filho Kim Jong-un. Em Abril de 2009, foi a primeira vez que o autor destas linhas falou aqui no nome de Kim Jong-un, o agora "Grande sucessor".

 

Ficam aqui alguns desses registos que talvez ajudarão a conhecer melhor o novo homem forte do regime mais fechado do mundo:

 

A aparição de Kim Jong-il (9 de Abril de 2009)

 

Estará Kim Jong-il a preparar a sucessão ou apenas a consolidar poder na base de apoio? (29 de Abril de 2009)

 

Registos (8 de Junho de 2009)

 

Mais informação sobre a sucessão de Kim Jong Il (7 de Junho de 2010)

 

Algo de importante deverá estar para acontecer em Pyongyang nos próximos dias (2 de Setembro de 2010)

 

Regime norte-coreano convoca conferência para abrir caminho à sucessão de Kim Jong-il (21 de Setembro de 2010)

 

Momentos com história (10 de Outubro de 2010)

  

Momentos com história

Alexandre Guerra, 10.10.10

 

Foto Dan Chung/The Guardian

 

Num gesto raro, Pyongyang convidou jornalistas internacionais a estarem presentes na parada militar realizada este Domingo, e uma das maiores já vistas, que assinalou o 65º aniversário do regime da Coreia do Norte, na qual foi possível ver o líder norte-coreano, Kim Jong-il, acompanhado do seu filho e sucessor, Kim Jong-un. A reportagem fotográfica de Dan Chung para o The Guardian revela a grandeza e a disciplina coreográfica deste momento político.

 

Regime norte-coreano convoca conferência para abrir caminho à sucessão de Kim Jong-il

Alexandre Guerra, 21.09.10

 

No início do mês, o Diplomata avançava com a informação de que algo de importante estava para acontecer em Pyongyang relativamente à sucessão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-il. Hoje, a KCNA, a agência de notícias do regime norte-coreano, anunciou a convocação de uma conferência do Partido dos Trabalhadores para 28 de Setembro com o objectivo de eleger o dirigente máximo desta estrutura.

 

Tal como há muito se perspectiva, esta conferência, a primeira em muitos anos, deverá ser o momento para Kim Jong-un, o filho mais novo do "Querido Líder", ascender à posição de topo do partido. Um passo fundamental para Kim Jon-un suceder ao seu pai.

 

Algo de importante deverá estar para acontecer em Pyongyang nos próximos dias

Alexandre Guerra, 02.09.10

 

 

Algo se vai passar em Pyongyang nos próximos dias, pelo menos a julgar por alguns relatos que dão conta de restrições de tráfego e de uma mobilização massiva de forças de segurança e de veículos blindados na periferia da cidade.

 

O correspondente da BBC News em Seul avança com a possibilidade de se realizar algures nos próximos dias a conferência de delegados do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, o que a acontecer será a primeira vez em 44 anos.

 

Uma das razões que poderão ajudar a explicar este acontecimento tem a ver com a sucessão do actual líder norte-coreano, Kim Jong-il, que se encontra doente há algum tempo, embora não exista informação devidamente validada que revele o seu actual estado de saúde.

 

Desde o ataque (talvez enfarte) de Agosto de 2008 que se especula sobre a sua sucessão, no entanto, o regime tem-se mantido em silêncio sobre esta matéria e tem feito um esforço de comunicação para demonstrar que Kim Jong-il se encontra bem.

 

Apesar destes esforços, há quem acredite que esta conferência de delegados seja o momento crucial para o “Querido Líder” anunciar a sua sucessão.

 

Uma coisa é quase certa, independentemente da data da passagem de testemunho, a sucessão continuará a seguir a lógica dinástica. Depois de Kim Jong-il ter continuado as pisadas do seu pai Kim Il-sung, aquando da sua morte em 1994, será agora a vez de um dos netos do "Grande Líder" assumir os desígnios daquele Estado.

 

A escolha, como há muito se fala e como o Diplomataaqui abordou, poderá recair sobre o seu filho mais novo, Kim Jong-un, um jovem educado na Suíça, mas de quem se sabe muito pouco. Esta conferência seria o momento ideal para eleger Kim Jong-un para um lugar político de relevo dentro do partido, naquilo que seria o derradeiro passo na confirmação do nome escolhido para ser o próximo líder da Coreia do Norte.

 

Estará Kim Jong Il a preparar a sucessão ou apenas a consolidar poder na base de apoio?

Alexandre Guerra, 29.04.09

 

 

O Diplomata escreveu há uns dias um texto sobre os três possíveis cenários de sucessão do líder Kim Jong Il: familiar, militar ou partidário. Na altura, foi abordada, sobretudo, a primeira hipótese e, à luz das notícias de Segunda-feira, parece ter sido uma aposta certeira.

 

De acordo com a agência noticiosa da Coreia do Sul, Yohnap, Kim Jong-un, filho mais novo do chefe de Estado norte-coreano, foi nomeado para um cargo de nível inferior da Comissão de Defesa Nacional, o principal organismo do regime de Pyongyang. Com cerca de 25 anos, vários analistas não hesitaram em ver nesta iniciativa um primeiro passo para a sucessão de Kim Jong Il, que em Agosto passado teve um acidente vascular cerebral.

 

Efectivamente, caso o regime de Pyongyang se decida por uma espécie de sucessão familiar, Kim Jong-un tem boas hipóteses de vir a substituir o pai à frente dos desígnios daquele país, embora a sua jovem idade seja um factor desfavorável.

 

Pouco se sabe do filho mais novo de Kim Jong Il, apenas que fala inglês, que estudou na Escola Internacional de Berna e que gosta de basquetebol. É também dito que é parecido com o pai no visual e na forma de agir.

 

Citado pela Associated Press, Cheong Seong-chang, analista do think tank Sejong Institute, revela que Kim Jong Il acredita que o seu filho mais novo tem o perfil de "líder carismático" tal como ele. E tendo em conta os mais recentes problemas de saúde, o actual líder norte-coreano terá decidido apressar o processo de sucessão.

 

No entanto, esta opinião não é partilhada por Yang Moo-jin, professor na Universidade de Estudos Norte Coreanos, sublinhando que Kim Jong Il está mais interessado em reforçar a sua base de apoio na Comissão de Defesa Nacional, ciente da potencial erosão a que estará submetida.