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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Trocar um soldado por mil prisioneiros é, estranhamente, um bom "negócio" para todos

Alexandre Guerra, 12.10.11

 

O Presidente Shimon Peres com os pais Gilad Shalit/Foto: AFP

 

Israel rejubila com o anunciado regresso a casa de Gilad Shalit, o soldado das forças de segurança israelitas (IDF), em cativeiro desde 2006, depois de ter sido capturado pelo Hamas na Faixa de Gaza. Desde então, Shalit nunca foi esquecido pelas autoridades israelitas, sabendo-se que seria uma questão de tempo até se promover uma negociação de troca de prisioneiros com o inimigo, uma prática implementada por diversas vezes.

 

Era preciso ter paciência e gerir a situação da melhor forma. Nisso os israelitas são exímios (exceptuado alguns disparates feitos nos tempos recentes).

 

Também por isso, o Hamas sabia que o refém que tinha em mãos era bastante valioso e que seria uma moeda de troca excelente no dia em que o Governo hebraico estivesse disponível para negociar.

 

A proposta que Yoram Cohen, chefe do Shin Bet (serviços secretos internos), apresentou ao primeiro-ministro Netanyahu contempla, numa primeira fase, a libertação de cerca de 450 prisioneiros palestinianos, 280 dos quais com penas perpétuas. Num segundo momento, daqui a uns meses, serão libertados à volta de 550 prisioneiros.

 

Não deixa de ser um bom negócio para o Hamas, que consegue 1000 homens em troca de apenas um soldado hebraico, fazendo regressar a casa muitos militantes daquele movimento, mas também da Fatah e de outros partidos.

 

Com esta iniciativa, o Hamas reforça a sua posição junto da opinião pública palestiniana, sobretudo na Cisjordânia, onde está mais fragilizada perante o domínio da Fatah e do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas.

 

Também o líder político do Hamas, Khaled Meshaal, está a surgir como um negociador influente, tendo chegado esta Quarta-feira à noite ao Cairo para coordenar no terreno o processo da troca de prisioneiros, que deverá acontecer dentro de uma semana.

 

Do lado israelita, Netanyahu já está a capitalizar dividendos com esta operação, nem que seja pelas manobras de relações públicas. Os pais do soldado têm manifestado publicamente o agradecimento ao chefe do Governo, que, de quase todos os quadrantes, tem recebido elogios pela medida.

 

A este propósito Yossi Verter escrevia no Haaretz que nos próximos dias o povo de Israel vai estar a partilhar a alegria dos pais de Shalit, graças a uma decisão de Netanyahu, que terá sido a mais difícil do seu mandato. Mas como diz Verter, Netanyahu será sempre lembrado para a História como o homem que trouxe para casa um soldado israelita em cativeiro há mais de cinco anos.

 

Além disso, tinha sido o próprio Shin Bet a assumir que a libertação de Shalit através de uma operação militar seria praticamente impossível. Por isso, Netanyahu teve o apoio de todas as chefias militares. Também ao nível do Governo, 26 ministros aprovaram o plano da troca de prisioneiros. No entanto, três votaram contra, entre os quais o dos Negócios Estrangeiros, o ortodoxo Avigdor Lierberman.

 

Conta o jornal Haaretz que a reunião foi muito intensa e dramática, tendo mesmo Uzi Landau, ministro das Infraestruturas Nacionais, e um dos que se opôs ao plano, afirmado que se está perante uma “grande vitória do terrorismo”. Demonstrou ainda a sua ira contra Cohen, por este estar a recomendar um plano deste género.

 

Curiosamente, também em 1997, quando assumia pela primeira vez a chefia do Governo hebraico, Netanyahu promoveu uma troca de prisioneiros, embora na altura com contornos muito diferentes. Sem qualquer escolha, Israel teve que libertar o xeque Ahmed Yassin (seria morto mais tarde) em troca de dois agentes da Mossad, que tinham estado envolvidos numa tentativa de assassinato a Meshaal na Jordânia.

 

Agora, Netanyahu volta a promover uma troca de prisioneiros, mas desta vez massiva, devolvendo a liberdade a alguns terroristas de primeira linha. Um preço elevado, mas que a sociedade israelita parece estar disposta a pagar para ver o seu soldado regressar a casa.

 

Apesar da lista dos libertados incluir importantes terroristas, Cohen já garantiu que nomes como Abdullah Barghouti, Ibrahim Hamed, Abbas Sayed, Ahmed Saadat e, especialmente, Marwan Barghouti não estão contemplados neste negócio.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.