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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Algumas notas sobre o acordo com o Irão

Alexandre Guerra, 15.07.15

 

Ao fim de 12 anos, com avanços e recuos, momentos de muita tensão, foi finalmente alcançado um acordo entre o Irão e as seis potências mundiais envolvidas (Reino Unido, França, Rússia, EUA e a Alemanha). É de facto um acordo histórico, uma grande vitória política para o Presidente americano, Barack Obama, e um grande mérito para o secretário de Estado, John Kerry. Depois da reconciliação histórica com Cuba, os EUA aproximam-se do Irão, algo que vem inflectir toda a dinâmica nas relações entre os dois países desde a revolução dos ayatollas, em 1979. É nesta dimensão política que este acordo deve ser visto, ou seja, muito além da questão nuclear. E é, precisamente, por essa dimensão política que já há quem o compare aos acordos de Camp David, de 1978, entre Israel e o Egipto, ou à reconciliação entre os Estados Unidos e a China, em 1972.

 

A importância deste acordo não é tanto pelas questões técnicas que norteiam o dossier nuclear (também importantes), mas sobretudo pelas possibilidades que abre para a reconfiguração geopolítica daquela região. 

 

Seja como for, em termos concretos, este acordo tenta evitar que o Irão consiga obter uma bomba nuclear nos próximos dez anos. Mas, é preciso sublinhar que este acordo é temporário, já que não proíbe o Irão de ter acesso à tecnologia nuclear. Condiciona, sim, a sua capacidade para enriquecer urânio, ao reduzir em dois terços o número de centrifugadoras existentes actualmente no país, assim como o obriga a abdicar de 98% de todo o urânio enriquecido que tem em stock (para produzir electricidade não é preciso urânio enriquecido). Como contrapartida, são levantadas as sanções. Mas, volta-se a sublinhar, a questão principal são as potencialidades político-diplomáticas que este acordo proporciona entre Washington e Teerão. Para começar, no combate ao Estado Islâmico.

 

Mas há aqui um problema que é preciso ter em conta: este acordo vem de certa forma legitimar o Irão como Estado nuclear (algo que nunca aconteceu com o Paquistão e a Índia) e isto pode ser visto como um incentivo para países sunitas, como a Arábia Saudita. Além do mais, é importante sublinhar que se trata de um acordo político e não de um tratado e, como tal, estará sujeito às vontades políticas de futuros dirigentes.

 

Washington circunscreve conflito da Síria a um dia e a 1429 mortos

Alexandre Guerra, 08.09.13

 

John Kerry, este Domingo, com os ministros dos Negócios Estrangeiros da Liga Árabe, em Paris/Foto: Susan Walsh (pool)/NYT 

 

A diplomacia americana ficou a ganhar com a nomeação do experiente e sensato John Kerry para chefiar o Departamento de Estado. Foi um bom reforço para a administração liderada por Barack Obama, ao depositar a política externa numa pessoa prudente nas suas declarações políticas e nas abordagens diplomáticas.

 

No entanto, em relação ao processo sírio, Kerry parece estar a ser prudente demais, ao sublinhar repetidamente que a intervenção de Washington neste dossier se deve única e exclusivamente ao ataque com armas químicas do passado dia 21 de Agosto, supostamente levado a cabo pelo regime de Bashar al-Assad, que, segundo os Estados Unidos, terá morto 1429 pessoas.

 

Ainda este Domingo, em Paris, Kerry disse que Assad passou uma "linha vermelha global" ao ter usado armas químicas. E é por isso, e só por isso, que Washington pondera uma intervenção militar, embora limitada, sobre a Síria. Como diz Kerry: "O que nós queremos é a imposição dos padrões no que diz respeito ao uso de armas químicas."

 

Ora, este racional tem vindo a ser reforçado por Washington nos últimos dias, num claro distanciamento da administração americana do resto do conflito. Basicamente, Washington está a circunscrever o conflito ao dia 21 de Agosto. Ou seja, depreende-se desta posição que se não fosse o ataque de gás Sarin, os Estados Unidos não colocariam a Síria no topo da agenda nema a possibilidade de uma intervenção militar, apesar de já terem morrido mais de 100 mil pessoas.