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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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João Silva expõe no Porto dez anos de fotografias tiradas no Afeganistão

Alexandre Guerra, 10.01.12

 

Soldados britânicos depois de terem sido deixados por um helicóptero na base de Sangin, Helmand/Foto tirada a 13 de Julho de 2007 por João Silva 

 

"Desde que fui lá em 1994, durante a guerra civil, apaixonei-me logo pelo país e a ironia é que, anos mais tarde, fiquei ferido e deixei uma parte de mim lá", disse o fotógrafo português João Silva à agência Lusa, por ocasião da abertura da sua exposição no Centro Português de Fotografia no Porto e que se prolonga até 25 de Março, na qual se poderá ver o seu trabalho, fruto dos dez anos em que esteve no Afeganistão ao serviço do New York Times.

 

João Silva, que reside na África do Sul e tem uma longa experiência em cenários de conflito, foi, em Outubro de 2010, vítima de uma explosão de uma mina no Afeganistão, que lhe fez perder as duas pernas abaixo do joelho.

 

Precisamente um ano anterior, mais concretamente a 29 de Outubro de 2009, o Diplomata destacava neste espaço uma das suas fotografias no Iraque.

 

Mais recentemente, o autor destas linhas escreveu um texto sobre o famoso The Bang Bang Club, do qual João Silva fazia parte.  

 

The Bang Bang Club

Alexandre Guerra, 23.04.11

 

 

Acabou de estrear no Tribeca Film Festival o filme The Bang Bang Club, um nome ouvido pelo autor destas linhas pela primeira vez há alguns anos e que simboliza o espírito de missão e de sacrifício dos verdadeiros repórteres de guerra.

 

Na altura, o Diplomata recorda que tinha um recorte de jornal colado na parede do quarto com uma fotografia que valia certamente por mil palavras e que abria uma janela para realidades dramáticas, nas quais os jornalistas de guerra podem às vezes ser eles as próprias vítimas. 

 

Na tal fotografia via-se o fotojornalista João Silva a carregar em ombros e com esforço o corpo do seu colega Ken Oosterbroek, morto num fogo cruzado entre elementos da força de manutenção de paz e apoiantes do ANC na cidade sul-africana de Tokoza, a 18 de Abril de 1994.

 

Morria assim um dos quatro elementos do The Bang Bang Club que, além de Silva e de Oosterbroek, contava ainda com Kevin Carter e Greg Marinovich. Autênticos companheiros, destemidos repórteres de guerra que durante anos trouxeram ao mundo os horrores dos conflitos através das suas lentes.

 

Os quatros fotojornalistas cobriram a violência na África do Sul durante vários anos até 1994, ano das eleições que deram a vitória a Nelson Mandela e que puseram fim ao regime de Apartheid.

 

A violência e a pressão psicológica a que estiveram expostos, ao longo de quase toda uma vida profissional, e os acontecimentos dramáticos de Tokoza, acabaram por levar ao suicídio de Carter, logo em Julho de 1994.

 

Mais tarde, em 2000, Silva e Marinovich lançaram o livro The Bang Bang Club: Snapshots from a Hidden War, no qual os dois fotojornalistas espelharam as suas experiências, angústias e medos. 

 

Mas, o sofrimento no seio do "clube" continuou, tendo João Silva, reputado fotojornalista no New York Times, sofrido um grave acidente no passado mês de Outubro, ao pisar uma mina durante uma patrulha de soldados americanos em Kandahar. Perdeu as duas pernas abaixo do joelho, estando actualmente a fazer trabalho de recuperação com próteses num hospital militar nos Estados Unidos.

 

Marinovich mantém-se no activo.

 

New York Times sensibilizado com os graves ferimentos de João Silva

Alexandre Guerra, 25.10.10

 

João Silva em Bagdad, 2008/Michael Kamber/NYT

 

Além das encorajadoras e elogiosas palavras dirigidas ao fotojornalista João Silva, por parte de Bill Keller, editor executivo do New York Times, o Diplomata recomenda a galeria de fotografias no blogue Lens daquele jornal, dedicada a um dos poucos repórteres de guerra portugueses dignos desse nome. Também o prestigiado jornalista e colunista Nicolas D. Kristof lhe reconhece a coragem e o talento profissional. Entretanto, nunca é demais recordar o trabalho que João Silva tem feito ao longo destes últimos anos em várias zonas de conflito do mundo.