Cristãos, esta Sexta-feira Santa, na Igreja do Santo Sepulcro/Associated Press
A Igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, recebeu esta Sexta-feira Santa milhares de peregrinos que, na sua demanda espiritual, não se importaram de esperar horas para entrar na pequena tumba, onde, segundo a tradição cristã, está o túmulo de Jesus Cristo e no qual ressuscitou no Domingo de Páscoa.
É um dos locais mais venerados pelos cristãos, registando naturalmente na Páscoa uma afluência de pessoas de todo o mundo. Este ano com a particularidade dos festejos dos católicos e dos cristãos ortodoxos coincidirem no calendário.
Perante isto, não é de estranhar as medidas adoptadas pela polícia de Israel, ao mobilizar de 2500 polícias para o interior e exterior das muralhas da Cidade Velha.
Claro está que o aparato policial pouco ou nada tem a ver com os “visitantes” ou “peregrinos”, mas sim com um clima de tensão crescente nas últimas semanas, depois do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter anunciado há sensivelmente três semanas a construção de mais 1600 casas num colonato em Jerusalém Oriental.
Além de ter criado uma crise política com Washington, Netanyahu espoletou novos confrontos entre palestinianos e israelitas, muitos deles centrados precisamente na Cidade Velha de Jerusalém. Como seria de esperar, o processo negocial voltou a cair nas ruas da amargura e neste momento poucos acreditam que possam haver desenvolvimentos positivos nos próximos tempos.
Mas no meio deste clima há uma ilação interessante a tirar, já que apesar da situação mais tensa e conturbada verificada nas últimas semanas, os estrangeiros não recearam deslocar-se a Israel.
Como em tempos alguém disse ao autor destas linhas, as ruas da Cidade Velha de Jerusalém foram sempre um excelente barómetro para se compreender o quão a situação no terreno está complicada e qual a percepção no estrangeiro.
Quanto maior for a consternação internacional por causa da violência em Israel e na Cisjordânia, mais os peregrinos e turistas se afastam da Terra Santa, naturalmente.
Cristãos ortodoxos a caminhar na Via Dolorosa/Associated Press
A tal ponto que, em 2001 e 2002, na altura mais explosiva da Intifada de al-Aqsa, o autor destas linhas era literalmente dos poucos estrangeiros a circular nas ruas da Cidade Velha. Efectivamente, nunca Jerusalém se ressentiu tanto no turismo como naqueles anos de brutal violência e nos quais os atentados suicidas aconteciam quase todas as semanas.
Embora sob um ambiente de conflito, o Diplomata confessa que se sentiu um privilegiado ao poder usufruir de lugares históricos, como a Igreja do Santo Sepulcro, num ambiente sereno e tranquilo e sem o “ruído” do turismo e da peregrinação de massas.
O Diplomata recorda bem como, por várias vezes, era literalmente a única pessoa a visitar ao túmulo de Jesus Cristo, fosse de manhã ou ao final da tarde, e a circular nas escuras catacumbas e nos sinuosos corredores da Igreja do Santo Sepulcro, ao som dos rituais dos vários credos religiosos que convivem naquele espaço.
Foram condições raras e, provavelmente, apenas tiveram paralelo durante os períodos de guerra entre Israel e potências estrangeiras. Nem mesmo durante a Primeira Intifada, Jerusalém ficou tão deserto de turistas e de estrangeiros.
Peregrinos cristãos a segurar a cruz na Via Dolorosa/Associated Press
Tempos conturbados aqueles vividos durante a Intifada de al-Aqsa e que se espera que não se voltem a repetir porque, convém não esquecer: o privilégio do autor destas linhas foi conseguido à custa da sangrenta realidade que se vivia então no Médio Oriente.
É por isso que não deixa de ser um sinal positivo constatar-se que nesta Sexta-feira Santa milhares de peregrinos estrangeiros e turistas se deslocaram a Jerusalém para visitar a Igreja do Santo Sepulcro, certamente motivados por uma melhoria das condições no terreno quando comparadas com os violentos anos da Intifada de al-Aqsa.