Uma breve reflexão filosófica sobre a violência
Um dos terroristas do Setembro Negro, aquando do ataque à comitiva israelita em Munique durante os Jogos Olímpicos de 1972
No pequeno livro sensação de Stéphane Hessel, “Indignai-vos”, que na verdade é mais um manifesto de resistência à apatia e ao pensamento atávico, é apontado o caminho da “não violência” como a “via” preferencial para a conciliação de culturas ou pensamentos diferentes.
O autor, com 93 anos, antigo membro da resistência francesa e co-autor da Declaração Universal dos Direitos Humanos, admite, no entanto, que é preciso compreender todos aqueles que optam pela violência como forma de assumirem as suas posições. “Não podemos desculpar terroristas que lançam bombas, podemos compreendê-los”, diz.
E cita o filósofo e escritor Jean-Paul Sartre, quando em 1947 escreve o seguinte: “Reconheço que a violência, seja qual a forma com que se manifeste, é um fracasso. Mas é um fracasso inevitável, pois estamos num universo de violência. E ainda que seja verdade que o recurso à violência contra a violência corre o risco de a perpetuar, também é verdade que é a única maneira de acabar com ela.”
Hessel, um homem de valores humanistas e universais, partilha desta ideia até certo ponto, ao não ser ingénuo para acreditar um mundo desprovido de violência. Mas, distancia-se de Sartre ao rejeitar a ideia da inevitabilidade da violência como solução última.
Escreve então Hessel: “A isto [à frase de Sartre] eu acrescentaria que a não violência é um meio mais seguro de acabar com ela [violência]. Não podemos apoiar os terroristas como Sartre o fez em nome deste princípio, durante a guerra da Argélia, ou aquando do atentado cometido contra atletas israelitas nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Não é eficaz, e o próprio Sartre, no fim da vida, acabaria por se interrogar sobre o sentido do terrorismo e por duvidar da sua razão de ser.”
Sartre, já muito perto da sua morte, acabaria por constatar que apesar do “mundo actual” ser “horrível”, o “desenvolvimento histórico ou, se o leitor preferir, a dinâmica da História teve sempre a esperança como uma das suas forças motrizes, mesmo quando alimentou revoluções ou insurreições.
E acrescenta Hessel, a esperança é por definição não violenta, já que a única esperança violenta que conhece é na poesia de Guillaume Apollinaire.