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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Operação americana no Iraque e a na Síria custa entre 200 a 320 milhões/mês

Alexandre Guerra, 04.11.14

 

As contas mais recentes apontam para mais de mil milhões de dólares gastos até final de Setembro com a operação militar que os Estados Unidos estão a desenvolver no Iraque e na Síria desde oito de Agosto contra o Estado Islâmico (ISIS). São valores avançados pelo Center for Strategic and Budgetary Assessment (CSBA) e podem subir até ao máximo de 1,8 mil milhões de dólares por mês, caso Washington intensifique os ataques aéreos e decida avançar massivamente com 25 mil soldados no terreno (Boots on the Ground). Até ao momento, as operações militares norte-americanas têm-se limitado a acções aéreas cirúrgicas, com uma presença terrestre tímida de um staff de 1600 homens, sobretudo ao nível de apoio de decisão e de aconselhamento (Lower-Intensity Air Campaign).

 

Se tudo se mantiver neste nível, daqui por diante está-se a falar num custo mensal entre 200 milhões a 320 milhões de dólares. No entanto, basta que as operações aéreas aumentem de ritmo e que estejam no terreno 5000 homens, para que os custos ascendam logo aos 350 a 570 milhões (Higher-Intensity Air Campaign).

 

Um "puzzle" difícil de montar

Alexandre Guerra, 14.10.14

 

O leitor repare no seguinte "puzzle" geoestratégico: por um lado, os rebeldes curdos sírios apelam ao Governo de Ancara para apoiá-los militarmente na defesa da cidade de Kobani (cidade síria contígua à fronteira sudoeste turca) contra os militantes do Estado Islâmico (ISIS), algo que a Turquia até estaria disposta a fazer, caso os Estados Unidos decidissem por uma intervenção terrestre; por outro lado, ontem, caças F-16 e F-4 turcos bombardearam posições dos guerrilheiros curdos do PKK na província de Hakkari, junto à fronteira do Iraque.

 

Contradições próprias da guerra? Talvez, mas de certa forma compreensíveis à luz daquilo que é a "grande zona cinzenta" das Relações Internacionais. É importante não esquecer que, desde há cerca de três décadas, o Estado turco trava um combate interno com o movimento curdo do PKK, que luta pela independência do Curdistão, na região sudeste da Turquia. Teoricamente, aquilo que poderia ser o "grande" Curdistão incluiria zonas do norte do Iraque e da Síria, onde existem grandes comunidades curdas e que, neste momento, são o principal pilar de resistência aos combatentes do Estado Islâmico naquelas áreas.

 

Sendo o ISIS uma ameaça para todos, sem excepção, começaram a desenvolver-se algumas alianças tácitas, mais ou menos camufladas, mais ou menos improváveis, tais como a de soldados e mercenários americanos a combatentes iranianos na Síria. Outra dessas alianças, seria entre o Governo turco e os rebeldes curdos da Síria, no entanto, Ancara rejeita, para já, qualquer intervenção em Kobani. Uma rejeição que estará a deixar os curdos do PKK revoltados com as autoridades turcas, ao ponto destas terem respondido com os bombardeamentos acima referidos.

 

Neste momento, a questão é saber até quando conseguirá a Turquia manter-se militarmente fora deste conflito, sendo que o mesmo está a decorrer literalmente às suas portas. Além de exigir uma operação militar terrestre, Ancara já fez saber que só intervirá se os EUA definirem também como alvo o regime sírio de Bashar al-Assad. 

 

Ora, para já, Washington parece menos interessada em fazer cair Bashar al-Assad, uma vez que os soldados governamentais sírios são fundamentais no combate aos guerrilheiros do Estado Islâmico dentro da Síria, onde reside o seu principal foco de actividade. 

 

Perante estas variáveis todas e condicionantes, não é de estranhar que o Estado Islâmico tenha conseguido conquistar uma importante área daquela região do Médio Oriente em relativamente pouco tempo e que agora esteja a ser muito complicado expelir aquela estrutura de extensas zonas da Síria e do Iraque.

 

A simbologia de Kobani

Alexandre Guerra, 07.10.14

 

Bandeira do ISIS hasteada na parte oriental da cidade de Kobani/Foto: Lefteris Pitarakis/AP

 

Kobani, cidade síria fronteiriça que avista do outro lado a localidade turca de Suruc, é por estes dias palco de um combate intenso entre os militantes do Estado Islâmico (ISIS) e os resistentes curdos, que têm o apoio dos ataques da aviação americana. Do lado turco, Ancara mobilizou tropas e meios militares, que estão a menos de um quilómetro a vigiar a situação, em alerta máximo, perante uma possível entrada dos homens do ISIS na Turquia.

 

Os relatos veiculados pela imprensa internacional dão conta dos avanços do ISIS nalgumas zonas da cidade, no entanto, Kobani ainda não caiu nas suas mãos.

 

Esta cidade tornou-se um símbolo importante na estratégia delineada pelos Estados Unidos, porque o seu destino estará, de certa forma, associado à percepção que se poderá ter do sucesso, ou não, da campanha que Washington está a levar a cabo na Síria. 

 

Os outros números da guerra

Alexandre Guerra, 02.10.14

 

As contas mais recentes apontam para mil milhões de dólares gastos até ao momento com a operação militar que os Estados Unidos estão a desenvolver no Iraque e na Síria desde Agosto contra o Estado Islâmico (ISIS). São valores do Center for Strategic and Budgetary Assessment (CSBA), que podem subir para 1,8 mil milhões por mês, caso Washington decida aumentar para 25 mil o número de soldados no terreno e a intensidade da operação aérea.

 

Até ao momento, as operações militares norte-americanas têm-se limitado a acções aéreas, com uma presença terrestre tímida de um staff de 1600 homens, sobretudo ao nível de apoio de decisão e de aconselhamento. Se tudo se mantiver neste nível, daqui por diante está-se a falar num custo mensal entre 200 milhões a 320 milhões. O que é certo é que pelo menos mil milhões já estão contabilizados em apenas dois meses.

 

O F-22 Raptor faz a sua estreia em missões reais de combate nos céus da Síria

Alexandre Guerra, 25.09.14

 

F-22 Raptor/Foto: Lockheed Martin

 

Uma das novidades da campanha militar norte-americana contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, segundo o jornal The Guardian, foi a estreia em combate do F-22 Raptor, o caça mais avançado e caro de sempre. Foi na passada Segunda-feira à noite que o Raptor sobrevoou os céus da Síria, com a sua capacidade "stealth" em combate, a possibilidade de voar a baixa altitude e, entre outras coisas, de conseguir alcançar a velocidade supersónica sem recorrer ao "afterburner (pós-combustão)".

 

Este F-22 é um caça de combate aéreo puro e, talvez por isso, todo o projecto que envolveu a sua criação e produção tenha estado envolvida em polémica, já que muitos se questionaram se seria este o caminho a seguir perante a ausência de missões reais de combate ar-ar nos dias hoje. Além disso, o seu elevado custo de venda, na ordem dos 160 milhões de dólares por unidade e a proibição de exportação daquele avião por uma questão de segurança nacional fizeram do F-22 um luxo insustentável para o Departamento de Defesa americano. Relembre-se que o F-22 Raptor, introduzido em 2005, foi desenvolvido pela Lockeed Martin e pela Boeing, e acabou por revelar-se um sorvedouro de dinheiro, tal como o Diplomata já tinha referido em 2012, tendo a sua produção terminado no final de 2011, com 187 caças. Estima-se que o projecto de desenvolvimento do F-22 tenha ficado nos 67 mil milhões de dólares.

 

O F-22 é o "state of the art" da aviação militar, nomeadamente na aviónica e nos sistemas de armas a bordo. Para Christopher Harmer, antigo piloto da Marinha e membro do Instituto para o Estudo da Guerra, a utilização do Raptor não é propriamente necessária, tendo em conta a presença de outros meios aéreos nos céus do Iraque e da Síria, tais como os F-16, os F-15 ou os bombardeiros B-1, e a inexistência de meios anti-aéreos avançados nas fileiras do Estado Islâmico. 

 

O Raptor ficará, provavelmente, na história da aviação militar americana como um marco tecnológico, e pouco mais, já que a sua existência pouco acrescenta ao poderio aéreo dos Estados Unidos em termos militares, que continua a fazer-se valer de caças como os F-14, os F-15, os F-16 ou os F-18.

 

Sentido de oportunidade

Alexandre Guerra, 30.06.14

 

Perante o anúncio da criação de um califado no Iraque e na Síria, por parte do grupo radical sunita do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS), Israel parece querer aproveitar a dinâmica de desmembramento das nações inimigos, e ontem o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apelou à criação de um Estado curdo independente, que iria retirar território à Síria, Irão, Iraque e Turquia. É caso para dizer que Netanyahu teve sentido de oportunidade.

 

"Ride the Wind" pela libertação do Kuwait

Alexandre Guerra, 21.12.13

 

O Diplomata desconhecia que a música "Ride the Wind" dos Poison terá sido muito ouvida pelos pilotos norte-americanos na Operação Desert Storm no Golfo Pérsico, enquanto aqueles estavam em missão para expulsar as forças iraquianas do Kuwait, que o tinham invadido em Agosto de 1990. Considerada uma das grandes músicas da banda de Bret Michaels, "Ride the Wind" faz parte do álbum "Flesh & Blood", que foi lançado precisamente em Janeiro de 1991, mais concretamente a 21 daquele mês, ou seja, quatro dias depois do início da Desert Storm sob os auspícios de uma resolução internacional que deu cobertura a uma coligação internacional.
A resposta dos aliados foi massiva. Numa primeira fase através de ataques aéreos sobre as forças iraquianas e, numa segunda fase, por via de operações terrestres. O conflito terminaria a 28 de Fevereiro com a recuperação do Kuwait e o recuo dos soldados iraquianos. Do lado americano morreram 148 soldados, um número considerado baixo tendo em conta o enorme contingente envolvido naquele conflito.

A "doutrina Begin"

Alexandre Guerra, 01.10.12

 

 Caça F-16 israelita

 

Benjamin Netanyahu encenou, na passada semana, um espectáculo que terá agradado à maioria dos embaixadores presentes na Assembleia Geral das Nações Unidas. Foi certamente do agrado da imprensa internacional, a julgar pelo destaque que deu ao primeiro-ministro hebraico, que mostrou um desenho de uma bomba para exemplificar a “linha vermelha” que Israel não vai permitir que o Irão atravesse no que diz respeito ao seu programa nuclear.

 

Aquilo que Netanyahu disse não é uma novidade, já que qualquer observador mais atento sabe que Israel jamais permitirá que Teerão chegue a um estádio próximo da bomba atómica.

 

Se até aqui não houve qualquer acção militar israelita, isso deve-se não tanto às pressões de Washington para a contenção, mas sim ao facto de Israel ainda não se sentir verdadeiramente ameaçado com o poder nuclear iraniano.

 

Porque, a partir do momento em que os serviços de “intelligence” israelitas reunirem informação que coloque o Irão na iminência de alcançar a bomba atómica, Israel atacará cirurgicamente as várias instalações nucleares iranianas, sem qualquer aviso prévio, incluindo a Washington, que só deverá ter conhecimento da operação quando esta já estiver em curso.

 

A Mossad está atenta ao Irão, tal como sempre esteve em relação aos programas nucleares da Síria e do Iraque, tendo agido preventiva e militarmente contra estes dois países a partir do momento em que se sentiu efectivamente ameaçada.

 

Em 1981, o primeiro-ministro Menachem Begin deu ordem para que oito caças F-16 destruíssem o reactor nuclear de Osirak, no Iraque, que Israel acreditava produzir plutónio para ogivas. Secretamente e contra a vontade de Washington, Begin não hesitou. Estava lançada a “doutrina Begin”, que assenta no seguinte princípio: “The best defense is forceful preemption." Para Begin, nenhum adversário de Israel deveria adquirir armas nucleares.

 

Em 2007 seria a vez de Ehud Olmert pôr em prática a “doutrina Begin”, desta vez contra a Síria. Ainda recentemente, a New Yorker explicava como Israel tinha bombardeado secretamente o suposto reactor nuclear de Al Kibar sem que ninguém desse por isso e o assumisse posteriormente.

 

O ataque resultou de uma operação da Mossad em Viena, em Março de 2007, na qual recolheu “intel” na casa de Ibrahim Otham, o director da Comissão Síria de Energia Atómica. As provas recolhidas, incluindo fotos do local do reactor, eram conclusivas. Washington foi informado, mas o Presidente George W. Bush não ficou muito convencido.

 

Olmert, por seu lado, tinha poucas dúvidas e a 5 de Setembro, pouco antes da meia noite, quatro F-15 e quatro F-15 levantaram voo de bases israelitas com destino à Síria.

 

Através de mecanismos electrónicos, os israelitas “cegaram” o sistema de defesa anti-aéreo sírio, entre as 00:40 e as 00:53, o suficiente para entrarem no espaço aéreo do inimigo sem serem vistos e lançaram várias toneladas de bombas sobre o alvo. Hoje, cinco anos depois, ninguém fala no assunto ou o reconhece, seja Israel ou a Síria.

 

O Irão poderá ser o próximo alvo da “doutrina Begin”, embora Israel reconheça tratar-se de uma operação mais complexa do que as duas anteriores.

 

Uma coisa é certa, a encenação de Olmert na passada semana na Assembleia Geral poderá ter servido para sossegar a Casa Branca e dar mais algum tempo ao Presidente Barack Obama, numa altura em que está em plena campanha eleitoral. Mas que ninguém duvide, a partir do momento em que a Mossad tiver dados conclusivos que apontem para uma ameaça nuclear iminente vinda do Irão, os caças bombardeiros israelitas voltarão a levantar voo em segredo. A grande questão é saber se a Casa Branca será informada antes ou depois de descolarem em direcção ao alvo.