Um caldeirão africano
O Brigadeiro General, Sultani Makenga, comandante militar do M23 a dar instruções aos seus homens a 30 de Novembro de 2012, junto à cidade de Sake, Kivu Norte
Goma tem sido por estes dias (leia-se longos meses) o epicentro de um dos mais anárquicos cenários de conflito a nível mundial. É um palco onde todos lutam contra todos, não se sabendo bem por qual objectivo, apanhando pelo meio a população indefesa.
Goma é a capital da província de Kivu Norte, no nordeste da República Democrática do Congo (RDC), fazendo fronteira com o Uganda e Ruanda, e desde há uns tempos a esta parte que concentra na sua região várias forças militares, suportadas por diferentes etnias e países vizinhos. Hutus, tutsis, ugandeses, ruandeses, capacetes azuis, forças congolesas, milícias de criminosos, todos estão metidos ao barulho.
Cada grupo ou organização luta pelos seus interesses. Por exemplo, os capacetes azuis da ONU, com a ajuda de soldados congoleses, tentam pacificar a região de Kivu Norte, sobretudo perante o avanço dos rebeldes do M23, maioritariamente tutsis, alegadamente apoiados pelo Ruanda. Por sua vez, o Governo de Kigali conta com a oposição da Frente Democrática para a Libertação do Ruanda (FDLR), movimento composto por hutus e baseado no Kivu Norte.
Agora, repare-se, além do M23 lutar contra os soldados congoleses e capacetes azuis, enfrenta ainda em território congolês os hutus da FDLR, que por sua vez estão ocupados a fazer incursões no Ruanda.
Ao mesmo tempo, no Kivu Norte juntam-se ainda as Forças Democráticas Aliadas, cujo inimigo é o Governo do Uganda. Diz a BBC News que "aquele grupo não faz parte da discussão". Seja como for, sempre são mais umas metralhadoras a afugentar as populações.
Populações essas que têm ainda pela frente várias milícias Mai Mai que, basicamente, têm uma agenda criminosa.
É caso para dizer que o Kivu Norte é um autêntico caldeirão, onde tudo vai lá para dentro.
Publicado originalmente no Forte Apache.