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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Obama já percebeu a importância do voto hispânico, mas os republicanos nem por isso

Alexandre Guerra, 21.06.11

 

 

Obama almoçava no passado dia 14 com o senador porto-riquenho, Alexandro Garcia Padilla, num restaurante perto de San Juan, Porto Rico/Foto: White House/Pete Souza

 

Barack Obama realizou no passado dia 14 uma visita de cinco horas à ilha de Porto Rico, sendo o primeiro Presidente americano a fazê-lo de forma oficial em 50 anos, desde que Joseph F. Kennedy ali tinha estado. Uma visita que é, sobretudo, um sintoma da metamorfose na geografia política e do voto nos Estados Unidos, evidenciada com os resultados dos censos de 2010.

 

Assim, numa altura em que as hostes republicanas se agitam na demanda pelo seu candidato à Casa Branca, Obama, em vantagem nesta corrida, foi a Porto Rico, um Estado Livre Associado dos Estados Unidos, para fazer campanha pura e dura.

 

Porém, uma campanha não direccionada para os eleitores daquela ilha, irrelevantes para a contenda eleitoral de 2012, mas focada nos 4,6 milhões de

eleitores porto-riquenhos a viver em território americano.

 

Alguns analistas, sustentados nos factos numéricos, não têm dúvidas ao afirmar que os porto-riquenhos são hoje uma força política em ascensão no sistema eleitoral americano, comparada à emergência do papel dos cubanos há uns 20 anos.

 

Esta ilação não deixa de fazer um certo sentido, não apenas pelo número significativo de porto-riquenhos, mas sobretudo pela forma como estão distribuídos geograficamente por alguns estados norte-americanos.

 

Por exemplo, cerca de 850 mil eleitores porto-riquenhos residem na Florida, sendo que a sua maioria está concentrada na área metropolitana de Orlando. Ora, a Florida é historicamente um “swing state” e todos os votos são importantes na hora da contagem.

 

O voto hispânico foi determinante para Obama na sua vitória naquele estado em 2008, tendo, por exemplo, sido o primeiro Presidente democrata, em 40 anos, a vencer em Orlando.

 

Tal como em 2008, também nesta campanha presidencial Obama já demonstrou que vai dar muita atenção não apenas aos porto-riquenhos, mas ao voto hispânico em geral. Uma estratégia lógica tendo em conta os censos de 2010, que revelam uma nova realidade, para a qual os republicanos parecem ainda não ter interiorizado.

 

Actualmente vivem sensivelmente 50 milhões de hispânicos nos Estados Unidos, um aumento de 46 por cento em relação há uma década, de acordo com os censos de 2010.

 

Por outro lado, o Pew Hispanic Center revela que os hispânicos representaram 6,9 por cento do total dos eleitores nas últimas eleições intercalares, uma subida significativa em relação aos 5,6 por cento de 2006. 

 

Outra informação importante para o “staff” de Obama é o facto de 60 por cento dos eleitores hispânicos terem votado nos democratas nas eleições de Novembro.

 

Apesar da importância crescente do voto hispânico, à qual os democratas estão atentos, o USA Today chamava a atenção para a ausência de uma estratégia dos candidatos republicanos para cativar aqueles eleitores. Além dos seus discursos não manifestarem particulares atenções para os hispânicos, aquele jornal salientava a título de exemplo que nenhum dos principais candidatos do GOP tinha uma versão em língua espanhola dos seus sites da campanha.

 

O primeiro juiz "hispânico" do Supremo Tribunal dos EUA afinal seria português

Alexandre Guerra, 30.05.09

 

A propósito da nomeação de Sonia Sotomayor para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos gerou-se um debate secundário, mas muito interessante, sobre o facto se aquela juíza é efectivamente a primeira hispânica a marcar presença na mais alta instância judicial dos Estados Unidos.

 

E tais dúvidas ficam-se a dever ao antigo juiz do Supremo nos anos 30, chamado de Benjamin Cardozo, cuja origem será portuguesa de uma família judia. A questão é que para os americanos este facto é suficiente para considerá-lo hispânico, já que a Hispania será algo que corresponderá mais ou menos à Península Ibérica.

 

Jeffrey Rosen chega mesmo a escrever o seguinte: "She [Sotomayor] would be the first Hispanic Supreme Court justice, if you don't count Benjamin Cardozo." Ora, mesmo perante a possibilidade de Cardozo ter origem portuguesa, isso não é suficiente para encerrar um debate que é à partida inócuo para quem tenha a mínima noção de geografia e de conhecimento dos povos.

 

É extraordinário que perante estes factos ainda existam pessoas nos Estados Unidos que considerem que o Supremo já teve o seu primeiro membro hispânico. Ao New York Times, o Professor Andrew Kaufman, da Harvard Law School, classifiou o debate como "esotérico" e "complexo", não conseguindo avançar com uma resposta clara e objectiva. 

 

O que não deixa de ser surpreendente, já que Kaufman chega a admitir que a família de Cardozo chegou à América no século XVIII vinda de Portugal.

 

Perante a ausência de uma posição clara de Kaufman, é o próprio New York Times que divaga:  "Professor Kaufman said that although there is no documentation, Cardozo’s family, which came to America in the 18th century, always believed that its forebears had come from Portugal, not Spain. And that raises an even more recondite question: are Portuguese people Hispanic?"

 

E é então que se introduz uma nova informação que, embora surpreendente, poderá ajudar a compreender melhor todo este debate. "Most Hispanic organizations and the United States Census Bureau do not regard Portuguese as Hispanic." Até aqui nada de novo...

 

"But Tony Coelho, a Portuguese-American congressman from California, was a member of the Congressional Hispanic Caucus when he was in the House, and Representative Dennis Cardoza, Democrat of California, whose ancestors came from the Azores, a Portuguese archipelago, is still a member."

 

Perante esta transfiguração hispânica, Arturo Vargas, director da National Association of Latino Elected and Appointed Officials, coloca algum senso em toda este devaneio ao explicar que a concepção contemporânea de hispânico nos Estados Unidos não inclui certamente Benjamon Cardozo.

 

Para Vargas, ser-se hispânico nos Estados Unidos corresponde apenas àqueles que são descendentes dos países das Américas de língua espanhola, não estando sequer contemplados os originários de Espanha.