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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Quase um ano depois, o Haiti recebeu apenas 20 por cento dos apoios prometidos

Alexandre Guerra, 28.12.10

 

No Verão passado, o Diplomata escrevia um texto sobre o "fosso cada vez maior de 'delay' entre o momento formal da declaração de intenções e a concretização efectiva da disponibilização financeira" que os Estados se prontificam a dar a países terceiros para fazer face a catástrofes. Na altura, foram dados os exemplos do terramoto no Haiti e das cheias no Paquistão.

 

Depois das promessas iniciais feitas pelos líderes internacionais quase há um ano, o primeiro-ministro do Haiti, Jean-Max Bellerive, informa agora que o seu país recebeu apenas 20 por cento das ajudas prometidas.

  

Registos de uma autêntica operação militar dos EUA no Haiti

Alexandre Guerra, 15.01.10

 

"Adm. Mike Mullen, the chairman of the Joint Chiefs of Staff, said that 9,000 to 10,000 Americans forces were expected onshore and off in Haiti by Monday, and that the Pentagon was poised to send more. Speaking at a Pentagon news conference, Admiral Mullen said that about 5,000 would be ground forces and the rest would be on ships." New York Times

 

"The U.S. Southern Command, meanwhile, announced that Joint Task Force Haiti, its unit in the battered Caribbean nation, has received formal approval from the Haitian government to oversee the airport." Washington Post

 

"Hundreds of U.S. troops were on the ground this morning, the leading edge of a military contingent that is now expected to number as many as 10,000 by the weekend. Defense Secretary Robert M. Gates said that he anticipated that U.S. ground forces, including soldiers from the 82nd Airborne Division and the Marine Corps, would take a key role in helping distribute relief supplies quickly." Miami Herald

 

Perante a ausência de Estado, primeiro os militares e depois as ONG's

Alexandre Guerra, 15.01.10

 

Miami Herald

 

O antigo secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, enaltecia ontem à noite, no Situation Room da CNN, a intervenção do Presidente Barack Obama na resposta imediata à gestão da catástrofe que se abateu sobre o Haiti.

 

Powell disse claramente que os Estados Unidos teriam que assumir a liderança do esforço humanitário e do controlo da segurança em território haitiano. Efectivamente, também o Diplomata concorda com esta visão, já que mais nenhum país tem as condições e a capacidade para proceder a tal missão.

 

O primeiro passo já foi dado, e terá sido feito de forma ponderada, uma vez que a administração americana, certamente bem informada pela conselheiros militares e pelos homens da CIA, conhecedores profundos da realidade haitiana, considerou que qualquer esforço humanitário teria que, necessariamente, ser precedido por uma "operação militar".

 

Damon Winter/The New York Times

 

Uma análise à partida cruel, mas muito realista. Aliás, durante o dia de hoje já ficou evidente de que como esta abordagem está correcta. À medida que o desespero aumenta vão-se revelando comportamentos violentos, tendo inclusive já resultado na pilhagem de lojas, de mantimentos e de equipamento de organizações não governamentais.

 

Esta precipitação de violência não é algo que deva estranhar os mais atentos e conhecedores da  história haitiana. Na verdade, o Haiti tem vivido durante décadas num estado hobesiano, numa lógica de "todos contra todos", sem lei nem ordem, onde até há bem pouco tempo se matava o próximo à catanada nas ruas de Port-au-Prince. 

 

Eduardo Munoz/Reuters/The Guardian 

 

O Haiti mesmo quando comparado com países igualmente sub-desenvolvidos, por exemplo em África, destaca-se pela barbárie reinante entre os seus e por uma ausência total de Estado. Que este autor se recorde, de todas as imagens televisivas que viu após o sismo (em vários canais nacionais e internacionais), nem uma ambulância, carro de bombeiros ou de polícia se conseguiu vislumbrar entre o caos.

 

A ausência de sirenes pode parecer um pormenor, mas é um sinal revelador do vazio de Estado que é o Haiti. Perante uma realidade destas (que talvez encontre paralelo em países como a Somália e pouco mais), torna-se particularmente difícil articular uma resposta humanitária, visto que não existe qualquer capacidade interna que consigo fazer o mínimo. Tal como reabrir o porto ou colocar o sistema de radares do aeroporto a funcionar (neste último caso os militares americanos assumiram o controlo do espaço aéreo haitiano).