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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Novo livro revela como a invasão do Iraque colocou Blair perto do colapso mental

Alexandre Guerra, 28.02.10

 

 

Tony Blair em 2004/Foto: Paul Grover/Rex Features

 
Um homem deprimido e afectado psicologicamente pela invasão ao Iraque, é assim que Andrew Rawnsley do Observer descreve o antigo primeiro-ministro Tony Blair, a meio do seu segundo mandato, que chegou a confessar ao seu vice, John Prescott, e a Gordon Brown, na altura com a pasta das Finanças, a possibilidade de se demitir.
 
Esta informação explosiva é revelada no novo livro The End of the Party, que estará a partir desta Segunda-feira nas livrarias. De acordo com Rawnsley, Tony Blair ficou mais abalado do que aquilo que inicialmente tinha sido afirmado pelo próprio. As consequências da invasão do Iraque terão contribuído para um acentuado declínio físico e psicológico de Blair, que terá partilhado com amigos as perturbações que o afectavam, nomeadamente, as várias vezes que acordava durante a noite com suores frios.
 
 
Segundo o livro de The End of the Party, o primeiro-ministro vivia atormentado pelos acontecimentos sangrentos que iam ocorrendo diariamente no Iraque, mergulhando num autêntico estado de depressão. De tal forma que os membros do staff mais próximo de Blair tentaram evitar que o enviado especial britânico ao Iraque, Sir Jeremy Greenstock, fosse a Downing Street para apresentar um relatório que se esperava duro e que podia precipitar o colapso mental do primeiro-ministro.
 
A situação era de tal forma grave que Blair terá mesmo informado Brown e Prescott, entre Novembro 2003 e a Primavera de 2004, que ia abdicar da liderança do Governo em prol do primeiro.
 
No entanto, com a ajuda da sua mulher, Cherie, e dos seus amigos políticos mais próximos, Blair acabou por conseguir recuperar, adiando por mais algum tempo a concretização da ambição de Brown.

 

Campbell não se arrepende, mas fragiliza Blair e compromete Brown

Alexandre Guerra, 12.01.10

 

Alastair Campbell, esta Terça-feira, durante o inquérito sobre o Iraque/PA

 

Sem arrependimentos nem desculpas, foi desta forma que Alastair Campbell, antigo responsável pela estratégia de comunicação do ex-primeiro-ministro, Tony Blair, entre 1997 e 2003, se apresentou esta Terça-feira na comissão de inquérito britânica que investiga o papel do Governo inglês entre o período de 2001 e 2009 no que diz respeito ao Iraque.

 

Campbell foi o principal responsável pelo dossier que começou a circular em Setembro de 2002 e que referia que o Iraque possuía armas de destruição maciça e que tinha capacidade de responder em 45 minutos a qualquer ataque externo.

 

O antigo homem forte da comunicação de Blair veio hoje reiterar que mantém todas as palavras que incluiu no documento, admitindo, no entanto, que as "coisa poderiam ter sido feito de forma diferente aquando da invasão em Março de 2003".

 

Com esta posição, Campbell descarta-se de qualquer responsabilidade no processo que espoletou a invasão do Iraque, imputando eventuais erros a quem implementou a estratégia militar. 

 

Depois de Blair, que há umas semanas revelou numa entrevista à BBC, que  manteria a sua decisão de invadir o Iraque mesmo à luz das informações mais tarde reveladas quanto à inexistência de armas de destruição maciça, vem agora Campbell com um discurso alinhado no mesmo tom.

 

No entanto, o testemunho de Campbell, que durou mais de cinco horas, fragilizou, ainda mais, a argumentação de Blair sobre a invasão do Iraque. O ex-homem forte da comunição do Labour referiu que o primeiro-ministro britânico tinha prometido ao então Presidente George W. Bush que a Inglaterra estaria ao lado dos Estados Unidos em qualquer circunstância se Washington decidisse atacar o Iraque.

 

Talvez ainda mais problemático, sobretudo com eleições legislativas a poucos meses, tenha sido o facto de Campbell ter mencionado o nome de Gordon Brown, na altura responsável pelas pasta das Finanças, como uma das "figuras-chave" no dossier iraquiano. Segundo Campbell, Brown era um dos ministros mais consultados por Blair sobre a questão do Iraque.

 

Esta informação poderá vir a provocar alguns incómodos para Brown, sobretudo numa altura em que a campanha eleitoral começa a assumir contornos mais agressivos, com os conservadores liderados por David Cameron a não se coibirem de utilizarem todos os argumentos ao seu alcance para fragilizar a imagem do primeiro-ministro.  

 

Brown deita submarino nuclear Trident ao "fundo", mas fica com os seus mísseis

Alexandre Guerra, 23.09.09

 

O submarino nuclear britânico HMS Vigillant da classe Trident

 

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, aproveitou o seu discurso na 64ª Assembleia Geral das Nações Unidas reunida em Nova Iorque para dar uma novidade interessante.

 

Brown anunciou esta Quarta-feira, em tom de proposta, que o Reino Unido vai reduzir a sua frota de submarinos nucleares da classe Trident, passando dos actuais quatro para três.

 

Na base desta decisão está sobretudo uma preocupação com a problemática do controlo de armamentos, tendo Brown afirmado que os Estados nucleares terão que fazer esforços significativos no sentido de se caminhar para um mundo sem armas atómicas.

 

Por outro lado, o primeiro-ministro britânico enviou um recado aos países que procuram desenvolver tecnologia nuclear para fins duvidosos, como são o caso do Irão e da Coreia do Norte. Estes, segundo Brown, terão que perceber que à medida que os Estados nucleares forem reduzindo os seus stocks mais exigente e criterioso será o combate à proliferação nuclear.

 

No entanto, o caminho para a desnuclearização é longo, tendo o próprio Brown informado que apesar dos seus intentos em relação aos submarinos Trident não abdicará dos respectivos mísseis nucleares.

 

Mais uma história de "interesses" sob a lógica do realismo político

Alexandre Guerra, 07.09.09

 

Foto PA

 

O acordo celebrado entre os governos da Escócia e da Líbia para a transferência do prisioneiro Adbelbaset Ali al Megrahi, o único a cumprir pena de prisão pelo atentado de Lockerbie ao voo da Pan AM em 1988, e do qual resultaram 270 mortos, está a revelar-se um verdadeiro embaraço para algumas figuras políticas britânicas. 

 

Inicialmente, havia uma versão oficial, na qual a decisão do Governo escocês assentara exclusivamente numa base de cariz humanitário, já que o prisioneiro, supostamente, se encontra num estado terminal de doença que não se deverá prolongar além dos três meses de vida

 

Por isso, não é de estranhar que num primeiro momento, após o conhecimento público do acordo, os contornos específicos do mesmo não tenham suscitado grande celeuma.  A situação altera-se radicalmente após a recepção apoteótica de al Megrahi em Tripoli, espoletando reacções de repulsa em diferentes sectores britânicos.

 

Além do argumento humanitário, começaram a surgir notícias que davam conta de um acordo secreto previamente negociado em 2007, inserido numa lógica alargada de aproximar a Líbia ao sistema internacional e de melhoramento das relações comerciais entre o Reino Unido e aquele país.

 

No âmbito desse acordo terá estado um negócio de 550 milhões de libras em favor dos britânicos, nomeadamente para a petrolífera BP se instalar na Líbia em condições mais vantajosas. 

 

Foto PA

 

O primeiro-ministro inglês Gordon Brown reiterou esta semana que não houve qualquer encobrimento de um acordo secreto. Efectivamente, o Executivo britânico já tinha libertado documentos que demonstravam a vontade do secretário de Justiça inglês, Jack Straw, excluir al Megrahi de qualquer acordo de transferência de prisioneiros. No entanto, em Dezembro de 2007 terá mudado de ideias. 

 

Uma posição agora confirmada pelo próprio em entrevista ao Daily Telegrah. Jack Straw admitiu que afinal não estavam apenas em jogos razões humanitárias, mas também objectivos comerciaise políticos, numa tentativa de estreitar relações entre a Líbia e especificamente o Reino Unido: "Libya was a rogue stat. We wanted to bring it back into the fold. And yes, that included trade because trade is an essential part of it and subsequently there was the BP deal."

 

 

No meio disto tudo, o Governo escocês mantém a sua versão de que a libertação de al Megrahi não foi inserida em qualquer acordo secreto de transferência e que não houve qualquer negociação com Londres. O próprio Straw tinha evitado compromoter esta posição, porém, revelou ao Daily Telegrah que em Julho de 2007 esteve reunido com o secretário de Justiça e o primeiro-ministro escoceses para discutirem  o acordo (nesta altura, todos defendiam a exclusão de al Megrahi de qualquer acordo).

  

Mais tarde, Straw escreveu ao secretário de Justiça escocês, Kenny MacAskill, a informá-lo de que afinal al Megrahi teria que se incluído num acordo de transferência, sob o argumento de estarem em jogo "interesses avassaladores para o Reino Unido".

 

 

Straw estava claramente a mover-se numa lógica de realismo político, aproveitando a oportunidade de transferência de al Megrahi para defender os interesses do Reino Unido. Tratava-se de uma janela de oportunidade política e comercial que Straw considerou não estar em condições de recusar, sobretudo quando se está a lidar com um país que tem tanto para "oferecer" ao Ocidente, segundo alguns analistas citados pela AP. 

 

E, efectivamente, Straw acabou por alcançar os objectivos, ao conseguir estreitar as relações políticas com a Líbia, ao ponto do porta-voz daquele regime, Abdul Majeed al Dursi, ter tecido fortes elogios ao Reino Unido:  “This is a brave and courageous decision by the British, which shows its understanding of Libyan culture by allowing a sick man to be at home when he dies. It showed the relations between Britain and Libya are strong and deep. We in Libya appreciate this and Britain will find it is rewarded.”

 

Também em termos económicos, a BP nos últimos anos já contabiliza um investimento de mil milhões de dólares em projectos de exploração na Líbia.

 

O problema é que toda a estratégia desenvolvida por Straw tornou-se pública, criando um embaraço político para o Executivo britânico. Apesar de Straw ter revelado que Brown não teria conhecimento deste processo, a oposição está a instrumentalizar o assunto para atacar o primeiro-ministro. Também o Governo escocês acaba por ser associado ao assunto, já que terá alinhado com os intentos de Straw.  

 

O paradigma do realismo político assenta numa lógica de segredo e de discrição, por vezes longe da opinião pública, no qual os interesses do Estados se sobrepõem a outros factores igualmente meritórios, mas politicamente alvo de outras interpretações quanto à sua importância estratégica para o Estado.

 

Straw acabou por fazer aquilo que outros dirigentes teriam feito, ao perceber que podia potenciar uma oportunidade em favor de "interesses avassaladores". No entanto, os riscos políticos inerentes a estratégias deste género são muito altos, sobretudo quanto o assunto passa para o domínio público.  

 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 04.03.09

 

Chip Somodevilla/NYT

 

O primeiro ministro britânico, Gordon Brown, foi hoje ao Congresso americano para apelar a um aprofundamento das relações entre os Estados Unidos e os aliados europeus de forma a combater-se a grave crise económica que o mundo vive. Browm exortou ainda a um esforço conjunto de modo a perspectivar-se um futuro que possa trazer "a maior expansão de salários da classe média e de empregos que o mundo tenha alguma vez visto".