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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Goodluck formaliza presidência da Nigéria e potencia tensão entre muçulmanos e cristãos

Alexandre Guerra, 06.05.10

 

O Diplomata dava conta neste espaço em Março de um golpe palaciano que estava a decorrer na Nigéria, embora num registo bastante tranquilo e devidamente validado pela Assembleia Nacional. Aproveitando a ausência do então Presidente de jure Umaru Yar'Adua, devido a doença, Goodluck Jonathan tinha assumido a presidência de facto do país a 9 de Fevereiro, tendo um mês depois dissolvido o Governo, para colocar homens da sua confiança nas posições ministeriais.

 

Hoje, Goodluck foi empossado formalmente Presidente da Nigéria depois da morte de Umaru Yar’Adua ontem à noite, garantindo que se manterá em funções até às eleições presidenciais do próximo ano. Entretanto, as suas principais mensagens foram de comprometimento numa reforma eleitoral e no combate à corrupção.  

 

Apesar das suas intenções aparentemente saudadas pela população, os analistas acreditam que Goodluck Jonathan irá criar todas as condições para que possa ser eleito Presidente nas eleições de 2011.

 

No entanto, caso isto venha a acontecer, pressupõe uma alteração nos estatutos do Partido Popular Democrático, ao qual Goodluck pertence assim como os últimos presidentes da Nigéria. A tradição do partido impõe que se vá alternando a religião de cada candidato presidencial, por modo a criar um equilíbrio entre as várias sensibilidades religiosas da Nigéria.

 

Aliás, o afastamento em Março dos ministros de Umaru Yar'Adua e a forma como Goodluck se impôs no poder está a gerar muita tensão entre os apoioantes do Presidente falecido, muçulmanos do Norte, e os seguidores do novo chefe de Estado, cristãos do Sul.

 

De acordo com a lógica do Partido, o próximo candidato deverá ser muçulmano, o que teoricamente afasta qualquer hipótese de Goodluck, mas certamente que este não irá aceitar passivamente este princípio. 

 

Mais uma história africana

Alexandre Guerra, 18.03.10

 

 

A 9 de Fevereiro, Goodluck Jonathan, ao bom e velho estilo africano, assumiu sem qualquer constrangimento a liderança da Nigéria, embora num processo relativamente tranquilo e devidamente validado pela Assembleia Nacional.

 
Desta vez, o derramamento de sangue foi contornado pelo facto de Jonathan estar supostamente a servir os mais altos interesses de nação ao substituir o então chefe de Estado em funções, Umaru Yar’Adua, a braços com problemas de saúde que o têm afastado da presidência do país.
 
Mas, rapidamente se percebeu que as intenções de Jonathan eram mais ambiciosas, não se ficando apenas pela substituição temporária do actual Presidente até novas eleições. O novo líder está empenhado em vincar a sua autoridade e a tomar todas as medidas necessárias para afirmar o seu poder.
 
Esta Quarta-feira, foi anunciada a dissolução do Governo, no qual muitos ministros tinham sido nomeados por Yar’Adua. Não foi avançada qualquer razão para esta medida, no entanto, os vários correspondentes estrangeiros no país referem que Jonathan teve como objectivo afastar possíveis aliados de Yar’Adua.
 
Os novos nomes do Governo serão apresentados em breve à Assembleia Nacional, mas nem por isso alguns críticos acusam Jonathan de ter violado as normas constitucionais.  
 
Perante este cenário, não é exagero afirmar que Jonathan terá promovido uma espécie de golpe palaciano, ao afastar pessoas associadas a Umaru Yar’Adua e, provavelmente, a colocar no seu lugar homens da sua confiança.
 
Desde Novembro que Yar'Adua se encontra na Arábia Saudita, tendo regressado recentemente à Nigéria, numa viagem algo misteriosa, não tendo sequer sido visto em público, o que certamente não seria do interesse de Jonathan.
 
Entretanto, têm-se registado violentos confrontos entre muçulmanos e cristãos perto da cidade de Jos, supostamente por causa de direitos petrolíferos no Delta do Níger. No entanto, também é possível que esta onda de violência esteja a ser alimentada com a chegada de Jonathan ao poder, já que este é um cristão e Umaru Yar’Adu um muçulmano.
 
Segundo a tradição do Partido Popular Democrático, ao qual ambos pertencem, têm sido apresentados candidatos de diferentes religiões. Yar’Adua tinha sido eleito em 2007, enquanto que o seu antecessor foi o cristão Olusegun Obasanjo, que esteve no cargo oito anos. O propório partido já anunciou que o candidato presidencial do próximo ano terá que ser um muçulmano, excluindo automaticamente Jonathan.
 
Perante isto surgem duas grandes questões: qual será a reacção que o novo homem forte da Nigéria terá em relação a estes conflitos religiosos? E como irá Jonathan acatar a decisão do seu partido em propor um outro candidato para a presidência do país?