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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O tempo e as circunstâncias

Alexandre Guerra, 19.03.19

 

O tempo e as circunstâncias fazem hoje de George W. Bush um estadista. Não deixa de ser irónico à luz daquilo que muitos lhe chamaram quando foi Presidente dos EUA, muitas vezes com base mais na forma do que propriamente no conteúdo. Se em algum momento Bush ficou com contas para ajustar com a História, nos últimos tempos tem-se empenhado em "pagá-las" e nesse acerto está a prestar um grande serviço à América.

 

Um senhor

Alexandre Guerra, 27.02.17

 

Uma das virtudes do tempo é que coloca quase sempre tudo em perspectiva. É assim na vida em geral, na História ou na Política. Tendemos a rever o passado com os mesmos olhos, mas com outro critério ou juízo...com outra sabedoria. Quem diria que George W. Bush pudesse um dia vir a ser visto como um Presidente moderado e a dizer verdades tão absolutas na defesa de uma democracia. Vejam este surpreendente Bush numa rara entrevista à NBC News. Um verdadeiro senhor.

 

Karl Rove recupera conceito de "compassionate conservativism"

Alexandre Guerra, 19.11.10

 

 

Há dias, numa das conversas entre quem tem particular interesse por estas coisas da comunicação política, falava-se sobre o conceito de “compassionate conservatism”, desenvolvido por George W. Bush há uns anos ainda durante a sua campanha presidencial e aplicado nos primeiros tempos de mandato.

 

Na altura surgiu como uma abordagem doutrinária interessante no campo ideológico republicano, mas os atentados do 11 de Setembro de 2001 acabaram por marcar e condicionar politicamente os dois mandatos de Bush, deixando pouco espaço para a “compaixão”, ficando apenas o conservadorismo.

 

Depois de alguns anos adormecido, aquele conceito parece querer reaparecer, sobretudo numa altura em que os republicanos ganharam fôlego com as eleições intercalares e alimentam esperanças de fazer cair o Presidente Barack Obama já no primeiro mandato.

 

É muito interessante constatar o facto de ser o “falcão” Karl Rove, o antigo estratego de George W. Bush, vir agora defender a necessidade de se voltar a acrescentar a “compaixão” ao conservadorismo.

 

Aceitando o desafio do site FiveBooks para escolher cinco livros relacionados com o conceito de “compassionate conservativism”, Rove sugeriu os seus preferidos. Todos eles clássicos e de leitura obrigatória.

 

Campbell não se arrepende, mas fragiliza Blair e compromete Brown

Alexandre Guerra, 12.01.10

 

Alastair Campbell, esta Terça-feira, durante o inquérito sobre o Iraque/PA

 

Sem arrependimentos nem desculpas, foi desta forma que Alastair Campbell, antigo responsável pela estratégia de comunicação do ex-primeiro-ministro, Tony Blair, entre 1997 e 2003, se apresentou esta Terça-feira na comissão de inquérito britânica que investiga o papel do Governo inglês entre o período de 2001 e 2009 no que diz respeito ao Iraque.

 

Campbell foi o principal responsável pelo dossier que começou a circular em Setembro de 2002 e que referia que o Iraque possuía armas de destruição maciça e que tinha capacidade de responder em 45 minutos a qualquer ataque externo.

 

O antigo homem forte da comunicação de Blair veio hoje reiterar que mantém todas as palavras que incluiu no documento, admitindo, no entanto, que as "coisa poderiam ter sido feito de forma diferente aquando da invasão em Março de 2003".

 

Com esta posição, Campbell descarta-se de qualquer responsabilidade no processo que espoletou a invasão do Iraque, imputando eventuais erros a quem implementou a estratégia militar. 

 

Depois de Blair, que há umas semanas revelou numa entrevista à BBC, que  manteria a sua decisão de invadir o Iraque mesmo à luz das informações mais tarde reveladas quanto à inexistência de armas de destruição maciça, vem agora Campbell com um discurso alinhado no mesmo tom.

 

No entanto, o testemunho de Campbell, que durou mais de cinco horas, fragilizou, ainda mais, a argumentação de Blair sobre a invasão do Iraque. O ex-homem forte da comunição do Labour referiu que o primeiro-ministro britânico tinha prometido ao então Presidente George W. Bush que a Inglaterra estaria ao lado dos Estados Unidos em qualquer circunstância se Washington decidisse atacar o Iraque.

 

Talvez ainda mais problemático, sobretudo com eleições legislativas a poucos meses, tenha sido o facto de Campbell ter mencionado o nome de Gordon Brown, na altura responsável pelas pasta das Finanças, como uma das "figuras-chave" no dossier iraquiano. Segundo Campbell, Brown era um dos ministros mais consultados por Blair sobre a questão do Iraque.

 

Esta informação poderá vir a provocar alguns incómodos para Brown, sobretudo numa altura em que a campanha eleitoral começa a assumir contornos mais agressivos, com os conservadores liderados por David Cameron a não se coibirem de utilizarem todos os argumentos ao seu alcance para fragilizar a imagem do primeiro-ministro.  

 

Blair: I would have invaded Iraq anyway

Alexandre Guerra, 12.12.09

 

“Blair: I would have invaded Iraq anyway”, lê-se este Sábado na versão impressa do The Guardian, antecipando a entrevista que vai passar amanhã na BBC1, na qual o antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, reforça a sua convicção no apoio político e militar dado a Washington para a invasão do Iraque em 2003.

 

Ao ler isto, o Diplomata não pôde deixar de notar a oportunidade desta entrevista, já que há poucos dias aqui neste espaço tinha sido abordada precisamente a problemática do Iraque.

 

Nesse mesmo texto falava-se num processo decisório confuso e politicamente desonesto levado a cabo por um grupo restrito de pessoas em Londres e em Washington, sob pressupostos ideológicos, apesar de se ter criado um suposto “casus belli” assente num enredo chamado de “armas de destruição maciça”.

 
Na altura, foram vários os alertas e os avisos para os riscos de uma “aventura” no Iraque, vindos de todos os quadrantes, inclusive de pessoas próximas do então Presidente George W. Bush e de Tony Blair.
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Por exemplo, na notícia do The Guardian constata-se que o então Procurador-geral, Lord Goldsmith, tinha avisado o primeiro-ministro em Julho de 2002, oito meses antes da invasão, que não bastavam os critérios ideológicos para sustentar a posição de Blair para derrubar um regime. Tal argumentação não tinha sustentação jurídica.
 
No entanto, desde a denúncia do embuste das armas de destruição maciça, Blair justifica a sua acção, ainda com mais veemência, com base num “direito para remover Saddam Hussein do poder”. Assume o erro das armas de destruição maciça, mas adianta que este não era o único factor para justificar uma invasão. A percepção da ameaça e a necessidade de afastar um mal maior da liderança de um país são para si factores para afastar um homem como Saddam.
 
Uma visão que Sir John Sawers, antigo conselheiro de Blair para a política externa e actualmente chefe do MI6, não partilha. Citado pelo The Guardian, Sawers revela que o Iraque era apenas um dos vários países onde Londres gostaria de ver um “regime change”, mas isso não quer dizer que se estejam a delinear políticas activas com esse fim.
 

A fonte ideológica do erro iraquiano

Alexandre Guerra, 09.12.09

 

 

A operação militar no Iraque para derrubar o regime de Saddam Hussein foi um erro estratégico de proporções gigantescas, cujas consequências vão perpetuar-se durante muitos e longos anos. E não foi um daqueles erros que apenas se confirma à posterior (porque esses são fáceis de apontar). 

 

Ontem de manhã, Bagdad acordou com cinco atentados bombistas no centro de cidade, matando sensivelmente 130 pessoas e ferindo cerca de 450.

 

DEADLIEST ATTACKS SINCE 2003
 
Aug 2007: More than 500 killed in attacks on villages near Sinjar
Nov 2006: 202 killed in multiple blasts in Baghdad
Apr 2007: 191 killed in car bombings in Baghdad
Mar 2004: 171 killed in bombings in Baghdad and Karbala
Oct 2009: 155 killed in twin truck bomb attacks in Baghdad
Mar 2007: 152 killed in truck bombing in Talafar

Source: News agencies, BBC

 

O "dossier" iraquiano foi gerido desde o início sob pressupostos muito duvidosos, e que desde logo suscitaram inúmeras resistências e críticas provenientes de diferentes sectores internos e externos, inclusive de Estados aliados de Washington.

 

Ignorando os vários alertas e informações veiculadas por entidades e especialistas credíveis, a administração americana, então liderada por George W. Bush, montou o seu próprio "caso" iraquiano, começando por incluir o país no tristemente célebro "eixo do mal". Para sustentar esta posição, foi criado o "enredo" das armas de destruição maciça, no qual Bagdad teria a capacidade de responder a um ataque externo em 45 minutos.

 

 

O cenário estava montado, contando ainda com a participação (forçada, diga-se) do secretário de Estado Colin Powell que, numa das actuações mais desastrosas feita nos  últimos anos nas Nações Unidas, tentou mostrar ao mundo laboratórios móveis, onde supostamente estariam a ser desenvolvidas armas de destruição maciça.    

 

Powell, como mais tarde veio a admitir, nunca foi um dos entusiastas da operação no Iraque, e a sua ida às Nações Undas terá sido certamente um dos momentos mais humilhantes da sua carreira. 

 

Mas, a verdade é que no interior do círculo restrito de Bush, Powell nunca conseguiu impor a sua visão realista do sistema internacional. Ao invés, impôs-se uma corrente ideologicamente mais vincada com o discurso do "connosco ou contra nós". 

 

Esta visão é uma herança da abordagem maniqueísta ao sistema internacional bipolar da Guerra Fria, não sendo por isso de estranhar que muitos dos "falcões" que estiveram com Bush já percorriam os corredores do poder nos anos 80 e 90.

 

No entanto, a sua influência não foi tão forte no início dos anos 90, quando Washington não quis derrubar Saddam, numa altura em que os soldados americanos expeliam os iraquianos do Kuwait e seguia ma passo acelerado para Bagdad.

 

 

Na altura, impôs-se a perspectiva realista ao não derrubar-se Saddam para evitar, por um lado, um vazio de poder na região e, por outro lado, uma potencial fragmentação do Iraque.

 

Os "falcões" foram internamente derrotados, mas mantiveram as suas convicções, continuando a ver Saddam unicamente através da lente ideológica, tal como olharam para Moscovo durante anos. Além disso, foram pessoas que continuaram muito próximas dos centros de decisão em Washington, ganhando particular espaço político na administração de George W. Bush.

 

 

A operação militar de 2003 e o "casus belli" que a sustentou é resultado dessa visão ideológica que foi persistindo em Washington ao longo dos anos. 

 

Sob o trauma dos atentados do 11 de Setembro e com a ameaça terrorista a pairar, Bush acabou por ceder à visão ideológica dessa corrente, asfixiando o campo realista personificado em pessoas como Powell ou Condoleezza Rice.

 

Hoje, mais de seis anos após a invasão americana àquele país, o erro é uma evidência histórica e já foi escalpelizado vezes sem conta, inclusive, embaraçando líderes como Bush ou o antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

  

Obama reage aos "sinais" da opinião pública e declara Gripe A como emergência nacional

Alexandre Guerra, 26.10.09

 

Americanos à espera de serem vacinados contra a Gripe A/Tracy A. Woodward

 

Dois dias antes de Portugal ter começado o programa nacional de vacinação contra o H1N1, o Presidente Barack Obama proclamou a Gripe A como um factor de “emergência nacional”. Uma medida que pouco mais vai fazer do que permitir aos hospitais agilizarem alguns processos internos perante a entrada de novos doentes.

 

Mais do que em critérios de saúde pública, a decisão de Obama assenta em pressupostos políticos e, de certa forma, sociais, já que com esta medida o Presidente dos Estados Unidos pretende transmitir uma mensagem de confiança para os americanos e responder aos seus anseios.

 

A decisão surge poucos dias depois da publicação de uma sondagem do Washington Post/ABC, na qual 52 por cento dos americanos revelam estar preocupados com a possibilidade contraírem, ou alguém da sua família, a Gripe A.

 

Obama percebeu que teria que se manter à altura das expectativas que o eleitorado tem depositado em si, nomeadamente ao nível da sua competência e da esperada capacidade de resposta.

 
O sentimento de insegurança crescente, em parte alimentado pelos meios de comunicação social, e reflectido na evolução das sondagens que em Agosto último davam apenas 39 por cento dos americanos preocupados com o assunto da Gripe A, levou a que Obama agisse.
 
Uma acção que em abono da verdade não implica grandes mudanças no sistema de saúde, mas que em termos políticos poderá ser muito importante, sobretudo quando enquadrada numa opinião pública que ainda tem bem presente na memória o descalabro da resposta do Governo à devastação provocada pelo furacão Katrina em 2005.
 
Embora tivesse sido toda uma estrutura federal a falhar, a verdade é que os americanos não pouparam o então Presidente George W. Bush, depositando neste todas as culpas pela descoordenação completa entre as várias entidades governamentais envolvidas no resgate das vítimas.

 

Ora, esta é precisamente uma imagem que Barack Obama quer evitar a todo o custo, estando para já a ser hábil na leitura dos sinais enviados pelos americanos.

 

Dossier iraniano expõe divergências entre as "secretas" de Londres e de Washington

Alexandre Guerra, 02.10.09

 

Saeed  Jalili, chefe negociador iraniano, esta Quinta em Genebra/Ruben Sprich/Reuters

 

O reacendimento do chamado "dossier" nuclear iraniano nos últimos dias, após ter sido descoberta uma central secreta de enriquecimento de urânio instalada nas profundezas das montanhas próximas da cidade de Qum, veio expor algo muito interessante e até ao momento escondido, mas que é revelador das diferentes perspectivas que os aliados ocidentais têm em relação a esta questão, nomeadamente os Estados Unidos e o Reino Unido.

 

Perspectivas, essas, sustentadas pelas informações sobre o programa nuclear iraniano que os respectivos serviços de "intelligence" dos dois países têm fornecido aos seus governos ao longo dos últimos anos. E tem sido sobre esta informação que Londres e Washington têm construído a sua abordagem político-diplomática em relação a Teerão.

 

Se, durante os anos de mandato do ex-Presidente norte-americano, George W. Bush, pareceu existir um consenso entre Londres e Washington quanto àquilo que se pensava ser os reais intentos de Teerão face o seu programa nuclear, tendo inclusive a Casa Branca catalogado o Irão como membro do "eixo do mal", a verdade é que a eleição de Barack Obama veio alterar por completo essa harmonia. 

 

Londres e Washington, devidamente enquadrados pelos seus serviços secretos, não têm neste momento a mesma opinião quanto ao programa  nuclear iraniano. 

 

As secretas britânicas acreditam que o Irão tem estado a desenvolver um ogiva desde 2004/2005, num projecto impulsionado pelo próprio ayatollah Ali Khamenei, que terá ordenado o recomeço do programa nuclear após este ter sido aparentemente congelado em 2003. Esta informação foi avançada pelo Financial Times na Quarta-feira, mas tem sido igualmente veiculada por outros meios.

 

Os serviços secretos britânicos estão convencidos de que o Irão não estará muito distante de concluir a primeira arma atómica. Ora, esta posição entra em confronto com a tese da comunidade de "intelligence" norte-americana que há dois anos, através do National Intelligence Estimative, ao qual o Diplomata fez referência em Dezembro de 2007, afastou a possibilidade do Irão estar a desenvolver qualquer tipo de arma de destruição maciça, embora admitindo que o mesmo possa ter intenção de o fazer. 

 

Os britânicos nunca esconderam as suas reservas em relação ao National Intelligence Estimative que, entre outras coisas, revelava que o programa iraniano se manteve congelado a partir de 2003. Seja como for, esta questão nunca assumiu contornos particularmente divergentes durante o tempo de Bush, já que este teve sempre uma enorme desconfiança em relação ao regime de Teerão, independentemente das conclusões dos seus serviços de "intelligence". Uma posição que ia de encontro aos anseios de Londres. 

 

No entanto, Obama parece estar determinado fazer fé no National Intelligence Estimative e, como tal, querer privilegiar a via do diálogo com Teerão, afastando qualquer tipo de agravamento de sanções ou medidas mais duras. Londres não concorda com esta abordagem, uma vez que está convicta de que o programa nuclear iraniano está a avançar consideravelmente.

 

Uma ideia partilhada pelos serviços secretos alemães, embora estes considerem que o programa de construção de uma arma atómica terá sido descongelado apenas em 2007. A informação é avançada ao FT por David Albright, do Instituto para a Ciência e Segurança Internacional em Washington. 

 

Jihadistas infligem golpe ao Governo do Ìémen com divulgação de imagens

Alexandre Guerra, 03.09.09

 

 

Embora distante dos noticiários internacionais e das manchetes dos jornais, o Iémen tem sido um dos palcos mais activos nas movimentações terroristas e antiterroristas desde os atentados do 11 de Setembro. Foi aliás neste país que a CIA procedeu pela primeira vez a assassinatos selectivos no âmbito da "guerra ao terrorismo" lançada pelo ex-Presidente George W. Bush.

 

O Governo do Iémen tem sido um aliado de Washington, mas também de Riade, que pretende conter o extremismo islâmico na sua origem. Porém, o alinhamento de Sanaa tem exacerbado o espírito insurgente islâmico contra o regime e impulsionado uma nova geração de jihadistas, que se têm feito sentir de forma violenta no território, nomeadamente com atentados contra interesses norte-americanos e ocidentais.

 

Desde Novembro de 2001, quando o Presidente do Iémen Ali Abdallah Saleh foi a Washington dar o seu apoio a Bush, que a situação no Iémen tem piorado, com o Governo e os jihadistas a envolverem-se numa verdadeira guerra, provocando centenas de mortes.

 

Apesar disso, o Governo do Iémen tem tentado transmitir para os seus aliados e para a comunidade internacional uma imagem de controlo da situação e de repressão eficaz dos terroristas. Ainda agora em Agosto, o Governo informou de que teria morto 100 rebeldes xiitas.

 

No entanto,  as imagens divulgadas agora pelos mesmos rebeldes xiitas do Iémen (caso se verifique a sua autenticidade), vêm demonstrar que os jihadistas estão mais empenhados e organizados do que aparentemente se pensaria.

 

Uma nomeação que não deverá alterar a balança ideológica no Supremo Tribunal

Alexandre Guerra, 26.05.09

 

Barack Obama e a juíza Sonia Sotomayor/Chip Somodevilla/Getty Images 

 

Em Abril de 2007, o Diplomata escrevia aqui que ao contrário do que se poderia julgar, a marca mais significativa que George W. Bush deixaria na política americana após a sua saída da Casa Branca não seria tanto no âmbito da "guerra ao terrorismo" (porque essa depressa se esvaneceria a partir do momento em que os democratas assumissem os desígnios da administração), mas sim no campo ideológico. 

 

E isso só seria possível porque o Presidente Bush aproveitara uma oportunidade rara, que poucos dos seus antecessores tiveram, para alterar a composição e a tendência ideológica do Supremo Tribunal.   


Devido à conjugação de uma série de circunstâncias que ocorreram naquele órgão durante os mandatos de Bush, o então Presidente pôde imprimir um carácter mais conservador, ao nomear dois novos juízes, Samuel Alito e John Robert, que viria assumir o cargo de presidente, de acordo com a sua visão ideológica.

 

Assim, actualmente, dos 9 juízes a maioria é assumidamente conservadora no que concerne aos temas contemporâneos fracturantes. Tratando-se de cargos vitalícios, poucos Presidentes tiveram tal oportunidade para moldar à sua imagem uma instituição que rege a sociedade americana no âmbito político e social.

 

Mas, o Presidente Barack Obama viu-se perante a possibilidade de escolher um dos elementos do Supremo Tribunal, após o juiz David H. Souter ter anunciado recentemente que se ia retirar daquele órgão após lá ter estado durante 19 anos.

 

Tal como Bush, também Obama aproveitou de imediato a oportunidade para nomear uma pessoa que se enquadrasse no seu perfil ideológico. Sonia Sotomayor foi o nome anunciado esta Terça-feira pela Casa Branca, tornando-se na primeira pessoa de origem hispânica a ocupar aquele cargo, e estando claramente identificada com o campo democrata.

 

De tal forma que a sua nomeação terá a oposição dos senadores republicanos, algo que, no entanto, não deverá inviabilizar a aprovação por parte daquela câmara, visto que os democratas deverão conseguir o número de votos necessários para contornar aquele obstáculo.

 

Apesar do pendor democrata de Sotomayor, a sua nomeação não deverá implicar uma grande alteração na balança de poder no Supremo Tribunal, já que Souter, não obstante ter sido nomeado por George Bush (pai), foi-se tornando uma figura mais moderada e liberal.