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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Leituras

Alexandre Guerra, 15.12.15

 

Ukranian minister throws water in Odessa governor's face é mais do que um simples artigo do The Guardian a dar conta daquilo que seria apenas um episódio caricato. O interessante nesta história é o que está por detrás dela e que envolve o antigo Presidente da Geórgia,Mikhail Saakashvili, actualmente, imagine-se, governador da região de Odessa...na Ucrânia. 

 

A afronta de Putin

Alexandre Guerra, 04.08.13

 

 

A decisão do Governo russo em dar asilo político a Edward Snowden não pode deixar ser vista como um "statement" do Kremlin dirigido a Washington. Não se tratou de uma decisão repentina e muito menos inconsciente. Pelo contrário, Moscovo teve muito tempo para ponderar sobre o que fazer com Snowden, enquanto este vagueava pelos corredores do Aeroporto de Sheremetyevo.

 

O Presidente Vladimir Putin (sim, porque a decisão última foi dele) sabia que ao permitir a entrada de Snowden em território russo estaria a afrontar directamente Washington, que fez daquele antigo consultor da NSA o homem mais procurada da América neste momento. Putin, à boa maneira da Guerra Fria, criou um incidente diplomático que vai ter consequências a médio e a longo prazo, tornando-se num dos "casos" que marcarão as relações entre os dois países nos próximos tempos.

 

Washington não vai esquecer a afronta de Moscovo e as consequências a curto prazo já se fazem sentir. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse que a administração norte-americana estava "extremamente desapontada". Também vozes republicanas e democratas condenaram a atitude da Rússia e exortam o Presidente Barack Obama a tomar medidas retaliatórias contra Moscovo. Por exemplo, além do boicote diplomático a alguns encontros de alto nível e cimeiras, já há quem fale num novo impulso aos programas de defesa antimíssil na Europa e num novo alargamento da NATO a países contíguos à fronteira da Rússia, como é o caso da Geórgia.

 

No xadrez da geoestratégia todos os votos contam na Assembleia Geral da ONU

Alexandre Guerra, 28.09.10

 

 

Como é habitual nesta altura do ano por ocasião da sessão de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, viveram-se dias de grande actividade diplomática na sede daquela organização em Nova Iorque. É um acontecimento que reúne líderes de todo o mundo, muitos dos quais aproveitam o momento para realizarem autênticas ofensivas políticas, como foi, mais uma vez, o caso do Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad.

 

Mas é também o momento em que muitos chefes de Estado aproveitam para fazer “diplomacia de corredor” na defesa dos seus interesses. Aliás, Portugal foi um exemplo, com o primeiro-ministro José Sócrates a ir a Nova Iorque para captar apoios para a candidatura do país ao Conselho de Segurança enquanto um dos dez membros rotativos não permanentes. Além do discurso proferido na Assembleia, Sócrates encetou vários encontros bilaterais com representantes de vários países.

 

Os corredores da ONU nesta altura do ano podem representar oportunidades particularmente importantes para pequenos estados como Portugal.

 

Como alguém dizia há uns anos, apesar de todos os seus males, a Assembleia Geral das Nações Unidas é o único sítio onde todos países podem falar uns com os outros de igual para igual.

 

Efectivamente, a lógica reinante é de um país, um voto, sejam os Estados Unidos ou o Togo. Ao contrário do Conselho de Segurança, onde os cinco membros permanentes têm poder de veto, na Assembleia Geral impera a lógica democrática da igualdade jurídica entre os Estados.

 

É por isso que ao nível das deliberações da Assembleia Geral a posição política veiculada por Estados de quem nunca ninguém ouviu falar pode assumir contornos particularmente importantes na discussão de algumas matérias sensíveis e respectivas votações.

 

Poucas pessoas já deverão ter ouvido falar em países como Nauru ou Tuvalu, já que se tratam de duas das nações mais pequenas do mundo, ilhas situadas no meio do Pacífico, não tendo ambas mais do que 30 mil habitantes.

 

Insignificantes no xadrez da política internacional, assumirá o leitor. Uma assumpção compreensível, mas que não corresponde necessariamente à verdade, pelo menos no que toca ao Nauru e ao Tuvalu.

 

Por mais estranho que pareça, aqueles dois países são suficientemente importantes para despertar a atenção de Washington e Moscovo. Não pela sua posição estratégica, pelas suas riquezas minerais ou por uma eventual parceria de contratos para a venda de material militar, mas sim por causa do seu voto na Assembleia Geral. Um voto que poderá ser muito importante no que toca ao reconhecimento de novas nações independentes ou no apoio de resoluções.

 

Thomas de Waal relembra, num artigo na The National Interest, que o Nauru se tornou em 2009 no quarto país a reconhecer a Abecásia e a Ossétia do Sul como Estados independentes. Aquele autor justifica este estranho apoio por razões meramente financeiras, sugerindo que a bancarrota dos cofres de Nauru levaram o país a transformar o seu assento na Assembleia Geral em dinheiro.

 

Mas isto só é possível aproveitando o jogo geoestratégico entre os Estados Unidos e a Rússia. A independência do Abecásia e da Ossétia do Sul é do interesse de Moscovo no âmbito dos seus objectivos estratégicos na região do Cáucaso, visando o enfraquecimento da Geórgia.

 

Após o reconhecimento de Nauru nas Nações Unidas, Moscovo doou 9 milhões de dólares para a reconstrução do porto daquela ilha.  

 

Tbilisi não se ficou. Thomas de Waal relata que o Governo daquele país utilizou Tuvalu para contra atacar Moscovo. No passado dia 11 de Setembro foi noticiado que a Geórgia iria providenciar apoio financeiro à missão de Tuvalu nas Nações Unidas. Foi ainda revelado que Tbilisi tinha pago um carregamento de medicamentos com destino à população de Tuvalu no valor de 12 mil dólares.

 

Como resultado, aquele país do Pacífico foi um dos 50 países que apoiou uma resolução apresentada pela Geórgia na defesa do direito de retornos de todos os refugiados precisamente para a Abecásia e Ossétia do Sul. Nauru, por seu lado, foi naturalmente um dos 17 países que votou contra.

 

Washington também não está de fora desta estratégia. Por exemplo, numa resolução do ano passado que exortava à resolução pacífica do problema dos colonatos na Palestina, 164 países votaram favoravelmente. Os Estados Unidos votaram contra, integrando um grupo restrito de sete países, entre os quais se encontrava estranhamente (ou talvez não) o Nauru.

 

Um ano depois, Moscovo e Tbilissi clamam vitória numa guerra sem vencedores

Alexandre Guerra, 08.08.09

 

Soldados georgianos passam junto a um edifício em Gori, em Agosto de 2008/Reuters 

 

Em cinco dias apenas, a Rússia e a Geórgia travaram uma guerra na Ossétia do Sul há precisamente um ano. Mais do que um acontecimento militar, acabou por ser sobretudo um fenómeno político de proporções dramáticas para milhares de pessoas que foram obrigadas a deslocarem-se das suas regiões, perante a ameaça de uma escalada bélica que, em última instância, poderia assumir contornos semelhantes aos da Chechénia. 

 

O número de mortos é ainda hoje pouco claro. Quanto aos deslocados, a Amnistia Internacional divulgou esta Sexta-feira um relatório que fala em 30 mil pessoas que ainda não regressaram às suas casas.

 

O Presidente georgiano Mikhail Saakashvili voltou a reafirmar, durante as cerimónias do 1º aniversário da "guerra" do Cáucaso, que o seu Governo limitou-se a responder a uma invasão secreta da Rússia. Por outro lado, o chefe de Estado russo Dimitry Medvedev justificou a sua decisão com a necessidade de restaurar a paz na região do Cáucaso e assim salvar centenas de vidas.

 

Seja como for, a verdade é que um ano depois ainda não existe uma versão sólida quanto às origens do conflito. A história oficial é a de que o conflito terá começado no dia 7 de Agosto de 2008, após os soldados georgianos terem tentado reassumir controlo do território da Ossétia do Sul, historicamente uma espécie de "backyard" de Moscovo.

 

Perante este cenário, a Rússia reagiu de imediato avançando com forças militares, chegando mesmo a entrar em território da Geórgia. No meio disto tudo, houve muita propaganda e contra-informação, onde nem sequer faltaram as agências de "public relations".  

 

A Geórgia diz que tentou controlar a Ossétia do Sul depois de ter tido a informação de que a Rússia já teria entrado naquele enclave, com uma coluna militar através do túnel de Roki, que liga a Ossétia do Norte ao Sul. Moscovo desmente esta versão, dizendo que se limitou a proteger os cidadãos russos na Ossétia do Sul, perante os ataques das forças georgianas.

 

O que parece ser certo, a julgar pelo relato de diversas fontes, é que foram cometidos crimes de guerra por ambas as partes. 

 

De acordo com o relatório da Amnistia Internacional, estas jogadas geo-estratégicas provocaram no total 200  mil deslocados, havendo ainda 30 mil que não regressaram. Além disso, vários milhares de pessoas ficaram sem casa e a viver em condições miseráveis.

 

Uma coisa é certa, a presença russa é agora ainda mais evidente na Ossétia do Sul, assim como no outro enclave da Geórgia, a Abecásia. Além disso, Moscovo vincou a posição independentista face àqueles dois territórios, colocando um forte contingente militar nas zonas fronteiriças com a Geórgia.

 

Como se não bastasse, o The Moscow Times escrevia que as hipóteses da Geórgia aderir à NATO estavam agora reduzidas quase a zero. "Most observers agree that Georgia’s chances for joining the alliance are now virtually nonexistent, and in private, many NATO governments blame Saakashvili for adventurism last August."

 

Mas, também como aquele jornal referia, nem tudo foi mau para Tbilissi. Na guerra da opinião pública, a Geórgia parece ter sido uma clara vencedora, obrigando a Rússia a revelar o seu lado mais agressivo, e talvez, por isso, Saakashvili tenha colhido a simpatia da União Europeia e dos Estados Unidos. 

 

Uma ideia bem evidente num artigo de opinião desta Sexta-feira no Washington Post de Howard L. Berman, congressista democrata e presidente do Comité dos Negócios Estrangeiros. 

 

Apesar do acordo de seis pontos alcançado a 12 de Agosto de 2008 e da presença da União Europeia na região, vários observadores no terreno alertam para a fragilidade da situação e para o perigo iminente de ser espoletado um conflito de grandes dimensões entre a Geórgia e a Rússia.