A problemática da energia tem sido recorrente nos útlimos anos na Europa, sobretudo no que diz respeito ao fornecimento de gás natural proveniente da Rússia. Os alarmes têm soado intensamente, e rapidamente se ouvem várias vozes europeias a exortar uma estratégia concertada e comum para garantir a estabilidade energética na Europa.
Perante este cenário, seria de esperar que a União Europeia estivesse empenhada em encontrar soluções que permitissem a médio e a longo prazo encontrar um modelo sustentável de fornecimento de fontes de energia, especificamente na área do gás natural.
E apesar de nos últimos invernos a Europa criticar a Rússia pelo corte no fornecimento de gás e, consequentemente, falar na necessidade de serem adoptadas medidas que minimizem a dependência europeia face àquele país, a verdade é que quando a "tempestada" se dissipa o discurso parece mudar, e volta a ser cada um por si.
Precisamente, um dos temas que tem sido discutido na Cimeira da Primavera, e que reúne os chefes de Estado e de Governo da UE em Bruxelas, é a inclusão ou não do Nabucco na lista de projectos a serem financiados pelos cofres comunitários.
Ora, sendo o Nabuco um gasoduto projectado para fornecer gás natural proveniente de países da Ásia Central, como o Turquemenistão, ou do Médio Oriente, como o Irão, contornando a Rússia e Ucrânia, através de uma ligação no sul da Europa, passando por países como a Turquia e a Bulgária, seria natural que o mesmo fosse facilmente aceite pelos governantes europeus.
Valores em metros cúbicos/Fonte: BP Statistical Review 2006
No entanto, a Alemanha opõe-se a este projecto, recusando o financiamento de Bruxelas de 250 milhões de euros. Por isso, a grande dúvida agora é saber se o Nabucco estará incluído na declaração final desta Sexta-feira do Conselho Europeu.
A posição de Berlim é reveladora da dinâmica em que a lógica nacional impera sobre os interesses comunitários. Porque, quando se fala de soluções para o problema do fornecimento de gás natural, está-se quase sempre a referir acções unilaterais.
O gasoduto Nord Stream é exemplo disso, sendo resultado de uma parceria entre a Alemanha e a Rússia (via Gazprom), que prevê a utilização do Mar Báltico para fazer chegar gás natural, primeiro, à Alemanha e depois ao resto da Europa.
Trata-se de um projecto de tal maneira importante para Berlim que nem a guerra do Cáucaso do ano passado foi suficiente para colocar entraves ao negócio. Pelo contrário, como já aqui foi escrito, os Governos alemão e russo reajustaram os contornos da parceria servindo os interesses de ambas as partes.
Convém dizer que o Nabucco é como que um rival do Nord Stream, quer na perspectiva de Berlim, quer na óptica de Moscovo. Quarenta e nove por cento do capital do Nord Stream pertence às empresas alemãs E.ON e BASF, cada uma com 20 por cento. A holandesa Gasunine tem 9 por cento e os restantes 51 por cento são da Gazprom.
A Alemanha ao vetar a inclusão do Nabucco nos projectos a serem financiados pela União Europeia está a colocar os seus interesses nacionais acima do bem comum comunitário. Ao mesmo tempo, a Gazprom, que é o mesmo que dizer o Governo russo, mantém o monopólio de fornecimento de gás natural a uma grande parte da Europa.