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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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O adeus (quase) final

Alexandre Guerra, 07.12.18

 

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Imagem de um vídeo de homenagem à chanceler que passou esta tarde na conferência do CDU em Hamburgo/Foto: Reuters

 

Angela Merkel despediu-se esta Sexta-feira da liderança do partido dos Democratas Cristãos (CDU). Apesar de continuar à frente dos desígnios da Alemanha até terminar o seu mandato em 2021, é impossível não sentir no ar um certo ambiente de “fim de festa” e de incerteza. Tenha-se gostado mais ou menos da sua liderança, é preciso reconhecer que Merkel se tornou, com o passar dos anos, no único referencial de poder político do projecto europeu. Quando chega à liderança da Alemanha, em 2005, naturalmente, o Mundo e a Europa eram diferentes, as relações de poder eram outras e os desafios que se vislumbravam então no horizonte estavam longe de perspectivar uma crise financeira de proporções gigantescas, uma crise migratória massiva a fazer relembrar imagens de períodos de guerra, o aceleramento da crise ambiental, a emergência dos populismos, que reavivaram fantasmas do passado que se pensava estarem enterrados, ou a dilaceração do projecto europeu bem no seu “coração”, com o Brexit.

 

Merkel chegou à liderança do CDU numa altura em que os grandes partidos tradicionais na Europa ainda se impunham nos sistemas políticos e num tempo em que havia lideranças entusiasmadas com o projecto europeu, tais como Chirac, em França, ou Blair, no Reino Unido. Mas não só. Tínhamos Verhofstadt na Bélgica, Berlusconi em Itália, Juncker no Luxemburgo e Balkenende na Holanda. Concordando-se ou não com os seus estilos, todos eles eram líderes convictos na virtuosidade da construção europeia e, de certa forma, transmitiam esse ambiente mobilizador (e isto em política tem mais importância do que se possa pensar).

 

Quando Merkel chegou ao grande palco da política europeia viu-se rodeada de defensores do projecto europeu, estando ela própria, ironicamente, a iniciar a sua caminhada com enorme cepticismo sobre a Europa. Mas, com a ajuda de uma Alemanha economicamente estável (em parte devido às reformas do mal amado Gerhard Schroeder) e depois de ir vencendo os desafios políticos internos, Merkel foi assumindo o papel de líder no projecto europeu, foi percebendo que a História a estava a empurrar para algo maior que, provavelmente, nunca imaginaria há quase duas décadas.

 

Dezoito anos depois, já com poucos “amigos” europeístas, com o Reino Unido de saída e um Emmanuel Macron impotente, Merkel está só na defesa das virtudes de uma Europa integrada e solidária. Diz que se vai manter no poder até 2021, mas dificilmente isso acontecerá. É muito provável que, entretanto, deixe o cargo de chanceler, mas, quando esse momento chegar, ela fá-lo-á enquanto única grande Estadista europeísta em exercício. E isso, para aqueles que vêem na Europa um projecto virtuoso e inspirador, deve motivar a mais profunda reflexão sobre as nossas actuais lideranças.  

 

O discurso de Merkel

Alexandre Guerra, 29.05.17

 

O discurso de Angela Merkel proferido este Domingo num comício para 2500 pessoas em Munique é daqueles que poderá ficar para a História da construção europeia. Não se pode dizer que tenha passado despercebido à imprensa internacional, porque, que se recorde, é a primeira vez que se vê a chanceler alemã a pronunciar-se de uma forma tão assertiva para a necessidade dos europeus contarem com eles próprios e não estarem dependentes dos “aliados” tradicionais, em referências directas aos “afastamentos” dos EUA e do Reino Unido. Ao dizer que a União Europeia tem que “tomar o futuro pelas suas próprias mãos”, Merkel está na prática a assumir que está na hora dos líderes europeus começarem a pensar seriamente na criação de uma efectiva política europeia de defesa e segurança, algo que não existe neste momento. É certo que existem muitas proclamações políticas e alguns mecanismos, mas nada perto daquilo que poderá garantir a defesa física da Europa como um todo perante uma ameaça externa. E nesse ponto é importante não esquecer que a NATO continua a ser a única organização com essa capacidade de resposta, ou seja, com a agilidade de mobilizar forças de diferentes países sob um único “badge” (comando). Em termos de meios militares, a NATO propriamente dita tem uns aviões AWACS (que vão reforçar a sua acção na recolha e partilha de informação entre todos os Estados-membro da Aliança), alguns quartéis-generais e pouco mais, no entanto, tem uma experiência acumulada de décadas, que lhe permite reagir a diferentes ameaças e em diferentes cenários através da interoperacionalidade oleada das forças dos diferentes países colocadas ao serviço NATO. Na prática, a NATO tem sido a estrutura comum da defesa europeia e até há poucos anos o território europeu tinha o exclusivo da sua acção.

 

Não é mentira quando Trump enfatiza o desequilíbrio das contribuições financeiras de cada país aliado para aquela organização. É um facto histórico com origens conhecidas no surgimento da Guerra Fria e que durante muito tempo serviu os propósitos norte-americanos na lógica do sistema bipolar, onde parte da Europa era claramente uma área de influência sob o “guarda-chuva” de Washington. Desde o fim da ameaça do Exército Vermelho sobre a Europa que a discussão sobre a Defesa do Velho Continente tem sido recorrente, nomeadamente ao nível do investimento que é preciso ser feito por cada país. Concomitantemente, várias administrações em Washington têm, ao longo dos anos, lançado avisos à Europa para que começasse a investir mais na Defesa e no orçamento da NATO. Por várias vezes, e sobretudo em momentos de crise, política ou militar, líderes europeus vieram para a praça pública falar entusiasticamente na necessidade da Europa começar a gastar mais na sua Defesa. Chegaram a ser ensaiados alguns projectos comuns, mas que nunca se concretizaram. Por isso, aquilo que Merkel disse no Domingo não é propriamente novo no conteúdo nem na forma. A verdadeira novidade foi ter sido Merkel a dizê-lo, sobretudo no tom particularmente firme em que o disse. É certo que estava influenciada pelo ambiente pouco diplomático provocado por Donald Trump nas cimeiras da NATO e do G7, mas para a chanceler ter assumido uma posição daquele calibre é porque a mesma deverá vir acompanhada de uma política firme nos próximos tempos.

 

Merkel foi a primeira líder europeia a assumir uma divergência desta magnitude com a administração Trump. Em causa estão valores fundamentais para a Europa, como são as alterações climáticas, mas é preciso não esquecer que, à margem da cimeira da NATO, o Presidente americano tinha ameaçado restringir as importações de carros alemães para os EUA. Nestas coisas da política internacional, e ao contrário do que muita gente possa pensar, as relações pessoais entre líderes podem fazer toda a diferença no adensar ou no desanuviamento de uma potencial situação de escalada político-diplomática. Neste caso, admite-se que a convivência entre os dois, primeiro em Bruxelas e depois em Taormina, não tenha corrido pelo melhor. Acontece. Agora, é preciso que nos corredores da diplomacia sejam encetados esforços no sentido de se manterem os canais de comunicação abertos entre Berlim e Washington, porque, uma coisa é certa: a Europa não está em condições de caminhar sozinha em matéria de Defesa e vai continuar a depender do envolvimento dos EUA na NATO durante muitos e longos anos. Por outro lado, Trump não deve esquecer, nunca, que apesar de todas as diferenças, é com a Europa com quem os EUA partilham os valores basilares da democracia e do liberalismo que norteiam a sua democracia e sociedade. Além disso, Trump também não se deve esquecer de um conceito muito importante e desenvolvido há uns anos por Robert Keohane e Joseph Nye, o da interdependência complexa. E neste aspecto, EUA e Europa estão ligados um ao outro como dois siameses.

 

Texto publicado originalmente no Delito de Opinião.

 

Alguma serenidade, precisa-se!

Alexandre Guerra, 05.12.16

 

Os alarmes soaram mais uma vez nas chancelarias europeias, com a possibilidade de ser eleito na Áustria o primeiro chefe de Estado de extrema-direita desde a II GM na Europa. Mas, a derrota de Norbert Hofer, ontem, na segunda volta das presidenciais, acabou por esvaziar os maiores receios e, para já, a Áustria "livrou-se" de ter um Presidente do Partido da Liberdade (FPÖ).  A questão é que neste momento parece haver um histerismo excessivo em redor de tudo o que seja a possível emergência de partidos ou factores políticos fora do "mainstream". O "sim" ao Brexit e a eleição de Donald Trump vieram contribuir ainda mais para o pânico generalizado, o que poderá, por vezes, toldar a razão e a capacidade de análise dos líderes políticos, conduzindo a uma situação de precipitação e de ostracismo a grandes franjas do eleitorado que, legítima e democraticamente, fizeram a sua escolha em opções menos convencionais, mas mesmo assim respeitáveis. Ora, quem votou no Trump, no "sim" ao Brexit ou no candidato Norbert Hofer merece igual respeito a quem tenha votado em Clinton, no "não" ao Brexit ou no rival ecologista de Hofer. 

 

O problema é que quanto mais os ditos líderes políticos tradicionais se vão assustando, mais os acontecimentos se vão precipitando e as massas reagindo em sentido contrário, depositando o seu voto em todos e em tudo que seja contra o sistema. Sistema esse que está em pânico e não está a conseguir assimilar os novos fenómenos que vão surgindo.  Além disso, é preciso ter a humildade democrática e perceber que em Democracia, desde que respeitadas as regras, todas as escolhas são válidas e há que aceitá-las serenamente. Porque, uma das virtudes dos mecanismos da democracia é precisamente dar possibilidade aos cidadãos de corrigirem eventuais erros de escolha, caso se sintam desiludidos com o seu voto, já que terão sempre as próximas eleições para poderem "correr" com o político que elegeram.

    

Europa...a de Júpiter

Alexandre Guerra, 27.09.16

 

A primeira vez que ouvi falar na Europa, lua de Júpiter, foi já há uns longos anos, quando vi o filme 2010: The Year We Make Contact, lançado em 1984, a sequela do estrondoso 2001: A Space Odissey, ambos baseados na obra de Arthur C. Clarke. Na altura, ainda muito jovem, confesso a minha ignorância, porque pensei que a Europa era um nome ficcionado, uma lua remota a partir da qual a tripulação que tinha sido enviada a Júpiter detectara alguns sinais misteriosos que, na leitura de um dos membros daquela missão espacial, considerava ser um aviso para que se mantivessem afastados daquele satélite natural. A partir do momento em que percebi que a Europa era, efectivamente, uma lua de Jupiter, despertou em mim um certo fascínio, até porque algumas das notícais que depois ia lendo sobre aquele corpo celeste continham sempre algum grau de mistério e desconhecimento.

 

Ontem, a Europa voltou a fazer notícia, com a NASA a anunciar uma descoberta fantástica, dando conta da eventual existência de erupção de "plumas" de vapor água para o espaço a partir da sua superfícei gelada. “Europa’s ocean is considered to be one of the most promising places that could potentially harbor life in the solar system”, disse Geoff Yoder, administrador da Missão Científica da NASA. Afinal, o futuro da Humanidade sempre poderá passar pela Europa.

 

  

Um (pequeno) guião para se compreender melhor este terrorismo e anti-terrorismo

Alexandre Guerra, 30.03.16

 

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1. Antes de mais, é preciso compreender a natureza específica deste terrorismo de que se está a falar hoje em dia na Europa (e não só), porque sem isso é impossível delinear uma estratégia anti-terrorista eficaz. O perfil dos cidadãos ocidentais que nos últimos anos foram para a Síria e Iraque (a maior parte sunita), para serem islamizados ou para se juntarem às fileiras do Estado Islâmico ou da Frente al-Nusra, é muito diferente daquele que, por exemplo, levou outras tantas pessoas a juntarem-se a grupos muçulmanos no Afeganistão, nos anos 80, ou na Bósnia, nos anos 90. Vejam-se algumas diferenças: um dado interessante é o aparecimento de mulheres europeias neste fenómeno mais recente, não necessariamente na frente de batalha na Síria ou no Iraque, mas em tarefas de apoio, tais como policiamento local ou através de casamentos, de modo a permitir a dupla nacionalidade ou o passaporte a potenciais terroristas; depois, estamos a falar de recrutas muito mais jovens do que aqueles que combateram no Afeganistão ou nos Balcãs; mas muito importante, é desconstruir o mito de que estes jovens europeus que têm ido para a Síria ou para o Iraque não tinham qualquer relação com o islamismo mais extremado. É falso, na verdade, muitos deles, de forma mais ou menos indirecta, tinham uma relação com o jihadismo, já para não falar com práticas de criminosas; outra diferença muito importante prende-se com a facilidade de comunicação e disseminação da mensagem. Embora continue a ser um centro de propaganda muito importante, a mesquita deixou de ser o único canal de comunicação para ideias extremistas. Por exemplo, a revolução de 1979 no Irão e que levou ao poder o regime dos ayatollahs foi praticamente instigada através de discursos gravados em cassetes e reproduzidos em mesquitas iranianas, mas esses tempos já lá vão. Ora, se já a al Qaeda o tinha feito com grande eficácia, o Estado Islâmico apurou e potenciou as ferramentas que actualmente existem ao nível das tecnologias de informação e comunicação para poder levar por diante a sua missão. Ainda no ano passado, entre várias acções nas "redes" e na internet, publicou dois guiões on line para ensinar os seus operacionais a infiltrarem-se e a “sobreviver” no Ocidente, além de todo o tipo de conhecimentos técnicos para produzirem engenhos explosivos, esconderem armas em compartimentos secretos num automóvel, escapar à vigilância policial, entre outros.

 

2. Segundo a Europol, existem actualmente na Europa cerca de 5000 europeus jihadistas que terão estado na Síria e no Iraque. A Bélgica é o principal fornecedor de jihadistas per capita dos países da Europa Ocidental. Por exemplo, cerca de 450 cidadãos numa população de 11 milhões foram para a Síria. Há uma outra estimativa que aponta quase para 600. A maioria deles junta-se ao Estado Islâmico ou à Frente al-Nusra.

 

3. Quanto ao facto de meses depois dos atentados de Paris a Europa voltar a ser assolada por novos atentados, é importante sublinhar que desde 15 de Novembro até hoje não foram feitos, na verdade, muitos progressos ao nível da resposta europeia comum anti-terrorista. Relembre-se que, na altura dos atentados de Paris, a União Europeia não activou a cláusula de solidariedade prevista no artigo 222 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, que implicaria uma resposta coordenada e colectiva dos vários Estados-membros, tendo antes o Governo francês preferido optar pelo artigo 42 do Tratado da União Europeia, que situou a resposta no plano intergovernamental. Isto teve uma razão, que era a França querer total liberdade para responder da forma que pretendia aos atentados e de imediato tomou medidas concretas ao avançar para os ataques aéreos a bases do Estado Islâmico na Síria. O problema é que do lado da União Europeia pouco foi feito à excepção do reforço ou finalização de algumas medidas que já estavam em curso, tais como o fortalecimento das fronteiras externas, o combate ao tráfico de armas, o controlo do financiamento a grupos terroristas, o melhoramento na troca de informação entre Estados-membros ou a finalização do Passenger Name Record (PNR), que está neste momento em avaliação no Parlamento Europeu. Entretanto, está em cima da mesa uma proposta de directiva europeia que pretende actualizar ou melhorar os mecanismos de criminalização de alguns actos associados indirecta ou directamente a terrorismo, tais como alguém viajar com uma finalidade ligada a terrorismo, financiamento, treino, apoio logístico, entre outros. No âmbito da Europol, foi criado o novo centro antiterrorista com sede em Haia e que arrancou com 40 analistas. A questão é que todas estas medidas, além de não serem propriamente novas, não parecem ser suficientemente ambiciosas para lidar com um problema que só pode ser resolvido com acções efectivas comuns de "intelligence", policiais e militares.

 

4. E já agora, faça-se este pequeno exercício: com tanto que se tem falado em terrorismo e anti-terrorismo nos últimos tempos, quantas vezes os jornais ou televisões têm mencionado o nome do Coordenador da Luta Antiterrorista da União Europeia? Que eu me tenha apercebido, poucas ou nenhuma. Aliás, provavelmente, poucos saberão o seu nome. Chama-se Gilles de Kerchove e já está no cargo deste 2007. É sintomático.

 

Lições da História

Alexandre Guerra, 09.02.15

 

Lá mais para o final do ano assinalam-se os 20 anos sobre o fim das barbáries que se cometeram nos Balcãs, nomeadamente na Bósnia Herzegovina. Uma violência sectária que a Europa julgaria nunca mais voltar a viver depois da II GM. Mas, enganou-se, e às portas do século XXI, o conflito na antiga Jugoslávia confrontou os europeus com uma realidade de terror. Na altura, os líderes europeus demoraram a reagir e a comunidade internacional acabou por intervir militarmente de uma forma tão incompetente, que os próprios capacetes azuis no terreno se tornaram no símbolo do cinismo e da incoerência da medidas tomadas nas chancelarias.Tudo isso foi estudado e bem documentado. Ninguém, pelo menos com responsabilidades de liderança e militares, pode dizer que não soube o que aconteceu.


Mas, olhando hoje para o que se está a passar na Ucrânia, o que acontece é que os líderes europeus, pelo menos aqueles que contam, não parecem estar muito empenhados em retirar ensinamentos do que aconteceu nos Balcãs. E as opiniões públicas dos vários países também andam distraídas com os seus afazeres, e pouca atenção têm dado ao conflito interno que assola uma parte da Ucrânia. Muitos pensarão que a Ucrânia fica lá, bem longe, mas não fica. Fica tão longe ou tão perto, como ficava a Bósnia da Europa de então.

 

 

No Man´s Land de Danis Tanovic, 2001 (Óscar para melhor filme em língua estrangeira), uma das melhores caricaturas da intervenção da ONU no conflito da Bósnia

 

É a vez da "geração Erasmus" se chegar à frente

Alexandre Guerra, 15.12.14

 

Muito a propósito do post que o Diplomata aqui colocou na passada Sexta-feita, o historiador Timothy Garton Ash assina hoje um artigo no El País no qual fala na importância do contributo dos mais jovens para a dinamização de uma Europa que se encontra numa situação difícil, mas que tem muitas virtudes e que devem ser potenciadas. Para Ash, a "geração Erasmus" tem a obrigação de ajudar os políticos mais velhos a encontar respostas para os desafios que se colocam actualmente. 

 

Chegou a hora dos mais novos mostrarem o que valem

Alexandre Guerra, 12.12.14

 

Quando o jovem Matteo Renzi ascendeu à chefia do Governo italiano, em Fevereiro deste ano, muitos viram nele uma tendência de mudança na forma de fazer política nos Estados do Velho Continente. Ao fim e ao cabo, com 39 anos, tornava-se no primeiro-ministro mais jovem de sempre em Itália, num país em que o actual Presidente, Giorgio Napolitano, tem 89 anos. 

 

A política tem sido, tradicionalmente, uma coisa de gente com idade mais avançada, cinzenta e pouco apelativa para os mais novos. E mesmo aqueles jovens que enveredam pelo mundo da política, os chamados "jotinhas", têm uma postura de tal maneira entediante e pouco imaginativa, que mais parecem clones dos seus ídolos partidários mais "crescidos". Naturalmente que há excepções. 

 

Ex-"jotinha" ou não, a chegada de Renzi ao poder representou uma viragem na forma como a sociedade passou a olhar para os seus decisores, ou seja, a idade mais avançada deixou de ser condição para se chegar à cúpula do poder. Talvez as pessoas tenham optado por sacrificar a experiência e a sabedoria, que vêm com a idade, pela irreverência e dinamismo, características de idades mais jovens.

 

Mas se é verdade que a "experiência" e a "sabedoria" dos políticos mais velhos de pouco tem valido para tirar esta Europa cansada do estado letárgico em que vive, a questão agora é saber se esta corrente de políticos mais jovens, tais como o novo ministro da Economia francês, Emmanuel Macron (36 anos), ou o líder do PSOE,  Pedro Sánchez (42 anos), conseguirá ter outros argumentos para dar a volta ao figurino. 

 

Para já, de pouco tem servido a Renzi a sua juventude, já que hoje, tal como tantos antecessores seus, enfrenta a sua primeira greve geral, contra as políticas laborais do Governo. Seja como for, os cidadãos parecem estar a libertar-se de algumas ideias preconcebidas, ou até mesmo preconceitos, quanto à idade daqueles que os governam. Não quer dizer necessariamente que os mais jovens façam um trabalho melhor que os mais velhos, mas tal como estes tiveram o seu momento, também agora políticos como Renzi, Macron ou Sánchez merecem uma oportunidade para mostrar o que valem.

 

1989-1991: Três anos em que os ventos de mudança sopraram muito forte

Alexandre Guerra, 19.01.14

 

 

São poucas as músicas que conseguem captar tão fielmente o espírito de uma determinada época, como o fez "Wind of Change" dos Scorpions ao descrever o fim da Guerra Fria e da União Soviética.

 

Inspirada na Perestroika e na Glasnost levadas a cabo pelo líder soviético, Mikhail Gorbachev, na segunda metade dos anos 80, "Wind of Change", integrada no álbum Crazy World, viria a tornar-se um sucesso comercial no Verão de 1991, logo após o golpe falhado perpetrado pela ala mais conservadora do Partido Comunista na ainda União Soviética.

 

Esse movimento tentou aproveitar a ausência de Gorbachev de Moscovo (que passava férias na Crimeia) para repor uma liderança anti-reformas. O golpe acabaria por falhar e a 25 de Dezembro desse ano Gorbachev anunciava formalmente o fim da União Soviética. Terminava assim um período de ventos de grandes mudanças na História da Europa, que tinha começado com a Queda do Muro de Berlim, a 9 de Novembro, e com o consequente desmoronamento do Bloco Soviético.

 

Diferenças importantes entre os dois lados do Atlântico

Alexandre Guerra, 07.01.14

 

"We recognize we could have done a better job." Uma simples frase que revela grandes diferenças nos mecanismos de correcção entre as sociedades americana e as europeias. O que está aqui em causa não são as virtudes ou os defeitos entre os modelos daquelas sociedades, mas sim a forma como as mesmas reagem aos excessos que os respectivos sistemas políticos permitem.

 

Na Europa, perante os "excessos", há uma relativização constante, onde tudo é permitido à luz de uma certa liberdade filosófica e intelectual. De tal forma, que permite que fenómenos como o da corrupação crónica e endémica se instale em alguns países europeus, fazendo parte do seu quotidiano. Países como Itália, Grécia ou Portugal são o melhor exemplo disso. Muito crime e muita corrupção face a sociedades complacentes e pouco punitivas em relação aos prevaricadores.

 

Já nos Estados Unidos, onde o crime e a corrupção também existem, a retaliação das instituições existe com mais ou menos veemência. Não há espaço para impasses nem para processos intermináveis que dão em nada. É preciso nunca esquecer o princípio consignado na Constituição americana, que dá aos cidadãos o direito à posse de arma, sob o fundamento do Povo se poder rebelar contra os seus governantes, a partir do momento em que estes se desviassem para caminhos ínvios.  

 

A frase com que se iniciou este post foi proferida pelo porta-voz do JP Morgan, banco que foi acusado pelo Justiça americana de ter ignorado os "alertas vermelhos" no âmbito do esquema piramidal fraudulento montado por Bernard Madoff, que, entretanto, foi condenado a 150 anos de prisão. Perante isto, o JP Morgan foi obrigado a admitir a sua falha e a pagar 1,7 mil milhões de dólares às vítimas da burla de Madoff. É certo que, provavelmente, os líderes do JP Morgan deviam estar sentados no banco dos réus. Talvez não seja a justiça plena, mas são válvulas de escape de um sistema que não se coibe de punir aqueles que aos olhos de toda a sociedade são culpados.