Um conflito, dois Estados
Ataque das IDF sobre a Faixa de Gaza/Foto: Haaretz
Vendo bem as coisas, poder-se-á classificar a guerra entre Israel e a Faixa de Gaza como um conflito entre Estados. É certo que não é exactamente nos moldes clássicos, mas nem por isso deixa de ser um conflito que opõe um Estado de jure e de facto (Israel) a uma outra entidade que, na prática, é, de há uns anos a esta parte, um Estado de facto (Faixa de Gaza).
Um Estado que, com as suas autoridades próprias, muito pouco tem a ver com a realidade política da Cisjordânia. Também social e culturalmente existem algumas diferenças consideráveis entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tornando-as duas realidades cada vez mais distintas.
Gaza é um Estado que, apesar de exíguo, consegue ser substancialmente maior e com mais população que muitos micro-Estados que existem no sistema internacional. Com 40 quilómetros de comprimento e dez de largura, a Faixa de Gaza alberga 1,7 milhões de palestinianos. No entanto, 21 por cento da população vive em pobreza absoluta e a taxa de desemprego está acima dos 40 por cento, um valor superior àquele que se verifica na Cisjordânia.
É um Estado pobre, isolado por mar e por terra, e cuja economia assenta sobretudo no comércio de contrabando com o Egipto, através dos famosos túneis que ligam o enclave ao deserto do Sinai. É uma economia muito débil, mas funciona minimamente, tendo em conta a conjuntura.
O poder está formalmente entregue ao Hamas e é exercido, dentro das possibilidades, na gestão dos serviços públicos. Ou seja, o poder não está na rua, embora esteja nas mãos de um partido ou movimento que está claramente associado a actividades terroristas e a uma ideologia radical, que vê na destruição de Israel o seu maior objectivo. É verdade que o Hamas tem uma vertente social na Faixa de Gaza que não pode nem deve ser descurada, mas que em última instância está orientada para uma determinada forma de se ver a realidade do Médio Oriente e, em concreto, a dinâmica israelo-palestiniana.
A Faixa de Gaza não é nem mais nem menos do que muitos Estados pobres e exíguos, sem recursos, e geridos por um poder legítimo (eleições), mas altamente discutível quanto aos seus padrões. Porque, vendo bem, a Faixa de Gaza tem os três elementos constitutivos de um Estado: território, população e (quase) soberania.