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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Cinco apontamentos sobre as tarefas do novo Presidente francês

Alexandre Guerra, 07.05.17

 

1. A França elegeu o Presidente mais novo da V República, com apenas 39 anos, e que vai ter que lidar com três temas principais: segurança, economia e imigração. Neste momento, os franceses elegem a segurança como o primeiro problema, o que é algo inédito desde os tempos da Guerra Fria. François Hollande já tinha deixado o aviso ao seu sucessor, neste caso, Emmanuel Macron, para que não deixe de investir nas forças de segurança.

 

2. O desemprego em França encontra-se neste momento nos 10 por cento, sendo que um em cada quatros jovens com menos de 25 anos está desempregado. Macron quer reduzir o número do desemprego para os 7 por cento, no entanto, a economia não está a ajudar. Os dados mais recentes mostram que a economia francesa só cresceu mais 0,3 por cento nos primeiros três meses deste ano, face aos último trimestre do ano passado. Não é por isso de estranhar que o FMI já tenha vindo dizer que será muito difícil descer o desemprego abaixo dos 8,5 por cento, sobretudo porque existem factores laborais estruturais que tornam aquele mercado menos adaptável às novas realidades e dificulta a contratação de novos empregados. De notar, no entanto, que a França tem elevados índices de produtividade, uma realidade reconhecida pela OCDE, mas tem igualmente altos custos produção e uma grande rigidez laboral. Veja-se, por exemplo, a política das 35 horas semanais que, de facto, vai de encontro aos interesses dos trabalhadores, mas. por outro lado, aumenta a necessidade de horas extraordinárias e, consequentemente, os custos inerentes. Tudo isto somado, talvez ajude a explicar a razão pela qual a França tem uma alta taxa de produtividade, mas um crescimento económico pouco condizente.

3. Macron quer cortar 120 mil funcionários públicos e reduzir em 60 mil milhões de euros a despesa pública. No ano passado, as despesas com o sector público consumiram 56 por cento do PIB, as mais elevadas das economias desenvolvidas. A França tem um sector público gigantesco, com muitos benefícios, o que obriga os restantes trabalhadores do sector privado a pagarem elevados impostos para cobrir todas essas regalias. A reforma do trabalho que Macron pretende fazer será, seguramente, um tema que levará muita gente para as ruas para se manifestarem contra ele, como, aliás, aconteceu com Hollande. Esta reforma pretende, entre outras coisas: "autorizar que uma empresa possa negociar com os seus trabalhadores contratos individuais em vez de ter que se ajustar aos acordos coletivos para todo o setor, sempre que essa empresa consiga provar que está em dificuldades; legalizar a possibilidade de despedimentos nas companhias com menos de 10 empregados, no caso de se verificar que apresentam resultados negativos; vai também apertar os critérios no acesso ao subsídios de desemprego e investir mais na formação profissional dos desempregados."


4. Se em termos económicos, Macron e Le Pen talvez não estão assim tão afastados, já na questão da imigração é imensa a distância que os separa. Para Macron, a França é um país estável nesta matéria e, por isso, o caminho não é a limitação da entrada de imigrantes, mas sim o aprofundamento da integração dos que vivem no país. E nesse sentido vai implementar várias medidas.

5. Em termos políticos, Macron tem que se focar imediatamente nas eleições legislativas de 11 e 18 de Junho, como aliás ficou evidente no seu discurso de vitória, e apresentar o seu candidato a primeiro-ministro, porque será no Parlamento onde algumas das suas medidas terão que ser aprovadas, nomeadamente a lei para a moralização da política, que pretende acabar com o nepotismo e abuso de cargos. A verdade, é que Macron não pode arriscar a ter um parlamento hostil contra si e, por isso, o seu movimento terá que assegurar uma maioria na Assembleia Nacional, ou seja, 289 deputados, provavelmente através de coligações. Porque, ao contrário das presidenciais, nas legislativas cada um vai puxar pelo seu partido. É por isso que o site Politico referia que a verdadeira batalha de Macron vai começar esta Segunda-feira. Macron parece estar confiante que nas próximas semanas conseguirá cativar os eleitores suficientes para que o seu movimento En Marche! consiga um número significativo de lugares na Assembleia, eventualmente, a maioria. Talvez esteja a ser demasiado ambicioso, mas ele está a contar aproveitar a dinâmica de vitória destas presidenciais. E a verdade é que um estudo de opinião realizado esta semana aponta para essa possibilidade. Os Republicanos seriam a outra grande força da Assembleia Nacional. Já a Frente Nacional poderá sair fortemente penalizada por causa do sistema eleitoral francês.
 

Chegou a hora dos mais novos mostrarem o que valem

Alexandre Guerra, 12.12.14

 

Quando o jovem Matteo Renzi ascendeu à chefia do Governo italiano, em Fevereiro deste ano, muitos viram nele uma tendência de mudança na forma de fazer política nos Estados do Velho Continente. Ao fim e ao cabo, com 39 anos, tornava-se no primeiro-ministro mais jovem de sempre em Itália, num país em que o actual Presidente, Giorgio Napolitano, tem 89 anos. 

 

A política tem sido, tradicionalmente, uma coisa de gente com idade mais avançada, cinzenta e pouco apelativa para os mais novos. E mesmo aqueles jovens que enveredam pelo mundo da política, os chamados "jotinhas", têm uma postura de tal maneira entediante e pouco imaginativa, que mais parecem clones dos seus ídolos partidários mais "crescidos". Naturalmente que há excepções. 

 

Ex-"jotinha" ou não, a chegada de Renzi ao poder representou uma viragem na forma como a sociedade passou a olhar para os seus decisores, ou seja, a idade mais avançada deixou de ser condição para se chegar à cúpula do poder. Talvez as pessoas tenham optado por sacrificar a experiência e a sabedoria, que vêm com a idade, pela irreverência e dinamismo, características de idades mais jovens.

 

Mas se é verdade que a "experiência" e a "sabedoria" dos políticos mais velhos de pouco tem valido para tirar esta Europa cansada do estado letárgico em que vive, a questão agora é saber se esta corrente de políticos mais jovens, tais como o novo ministro da Economia francês, Emmanuel Macron (36 anos), ou o líder do PSOE,  Pedro Sánchez (42 anos), conseguirá ter outros argumentos para dar a volta ao figurino. 

 

Para já, de pouco tem servido a Renzi a sua juventude, já que hoje, tal como tantos antecessores seus, enfrenta a sua primeira greve geral, contra as políticas laborais do Governo. Seja como for, os cidadãos parecem estar a libertar-se de algumas ideias preconcebidas, ou até mesmo preconceitos, quanto à idade daqueles que os governam. Não quer dizer necessariamente que os mais jovens façam um trabalho melhor que os mais velhos, mas tal como estes tiveram o seu momento, também agora políticos como Renzi, Macron ou Sánchez merecem uma oportunidade para mostrar o que valem.