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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Que Obama é um Presidente "cool", lá isso é!

Alexandre Guerra, 15.06.13

 

Muitos podem criticar as suas políticas e até mesmo não gostar do seu estilo de governação, mas não há dúvida que Barack Obama imprimiu um novo estilo à figura tradicional do político "cinzento" e totalmente ignorante em relação às tendências urbanas.

 

O talentoso Eminem é um dos artistas favoritos de Obama, que certamente gostará bastante desta música Not Afraid, com uma mensagem positiva para a sociedade.

 

Alguém estaria a ver Cavaco Silva, Passos Coelho ou António José Seguro a gostarem, por exemplo, de Samuel Úria, Boss AC ou Sam the Kid?

 

Provavelmente nem sabem quem são.

 

Os portugueses precisavam de inspiração, mas o que tiveram foi uma aula de Economia

Alexandre Guerra, 10.03.11

 

 

 

A 9 de Março de 2011, por ocasião da tomada de posse do segundo mandato do Presidente da República, Cavaco Silva, o País precisava de uma mensagem proferida por um verdadeiro líder, mas o que teve foi, sobretudo, uma aula de Economia e de Finanças (o que já não é mau), dada por um Professor de 71 anos, sem qualquer tipo de entusiasmo e carisma.

 

Nestes tempos particularmente difíceis, de crise como dizem quase todos, o que os portugueses precisavam era de um momento inspirador, de esperança, uma espécie de “antes e depois” do discurso do Presidente, para quando acordassem na manhã desta Quinta-feira para irem para os seus empregos e trabalhos, aulas, filas do centro de desemprego, salas de espera nos hospitais, etc, o pudessem fazer com uma nova centelha

de esperança, revigorados nas suas forças e com a certeza que tinham em Belém um “aliado” nesta batalha diária.

 

Porém, o patriarca do regime não emocionou o povo, suscitando apenas alguns aplausos clientelares das bancadas mais à direita do hemiciclo. Ou seja, o impacto do discurso de Cavaco Silva, devido à sua forma e conteúdo, fica-se pelo sistema política e elites (supostamente pensantes) na blogosfera, redes sociais e jornais. Aliás, basta ver o principal tema das análises ao discurso de Cavaco que se centrava na dureza do texto para com o Governo.

 

Os portugueses têm razões para acreditar que continuam sozinhos, e motivos para se questionar por onde andou Cavaco Silva nestes últimos cinco anos. Porque, se Cavaco Silva quer ser demolidor para o Governo, alertar a sociedade para a situação de “emergência” e dizer que há limites para os sacrifícios, então que o tivesse feito antes e que o faça nas habituais reuniões que tem com o chefe do Governo e, eventualmente, pressionando e pressionando até obter resultados. É desta forma que se passam eficazmente as mensagens. Ontem, o dia era para outro tipo de mensagem.

 

Tendo em conta aquilo que este autor viu e ouviu em directo e depois releu no site da Presidência da República, o “staff” de Cavaco limitou-se a elencar um conjunto de factos (correctos, é certo) que são sobejamente conhecidos, reiterados nos últimos meses por televisões, jornais, blogues, publicações especializadas, instituições nacionais e internacionais. Nalgumas partes, o discurso foi mesmo demasiado técnico para um texto de tomada de posse e, para isso, basta ler ou ouvir alguns dos que têm sido proferidos por líderes internacionais. Portugal teve, assim, mais uma lição do Professor. Com informação cuidada, correcta, mas nada mais do que isso. Infelizmente, os tempos vividos exigiam um outro tipo de comunicação.

 

É certo que pedir a Cavaco Silva que seja aquilo que não é, será, porventura, injusto, mas desta vez o Presidente devia ter-se esforçado mais para apelar directamente às pessoas, às mentes e aos corações do seu povo. Em vez disso, o que ficou foi um discurso para dentro das paredes da Assembleia, para alimentar o sistema político, blogues, redes sociais e editoriais de jornais.

 

Cavaco, consciente da difícil situação do País, devia ter sido mais perspicaz, e aqui teria entrado "à seria" a figura de “speechwriter”, à qual deveria ter-lhe sido dada liberdade criativa e inspirado-se nos grandes momentos históricos de liderança. Porém, do “staff” de Belém nada de novo, embora se verifique uma melhoria significativa em relação aos dois desastrosos discursos na noite das eleições proferidos no CCB pelo Presidente recém-eleito.

 

O discurso foi muito longo e mal estruturado, pouco rico, apelativo, e sem chama. De construção confusa nalgumas passagens, desequilibrado nalguns temas, como, por exemplo, na excessiva atenção dada à Economia e Finanças (mas sem sequer se referir à conjuntura internacional) e na ausência inacreditável de assuntos como a Política Externa, as Forças Armadas, a Justiça ou Saúde.

 

Na verdade, é revelador quando um chefe de Estado no seu discurso de tomada de posse não explana um pouco da sua visão que tem dos problemas da Europa e do Mundo e do papel de Portugal na Lusofonia. É igualmente lamentável a ausência de uma referência digna às Forças Armadas portuguesas, nomeadamente, quando tem tropas estacionadas no estrangeiro. Isto é uma exigência em qualquer país com soldados em missão.  

 

Mas, um dos momentos menos conseguidos deste discurso e, eventualmente, bastante infeliz, é quando a determinado momento Cavaco Silva diz que “é necessário que um sobressalto cívico faça despertar os portugueses para a necessidade de uma sociedade civil forte, dinâmica e, sobretudo, mais autónoma perante os poderes públicos”. Mais adiante, Cavaco reforça a ideia, e diz mesmo que “é altura dos portugueses despertarem da letargia em que têm vivido”. Bem, por menos já se espoletaram verdadeiras revoltas de rua.

 

O problema é que a tal sociedade civil de que Cavaco Silva fala tem desempenhado, dentro dos seus limites, o seu papel, ao acatar as decisões políticas, ao pagar os seus impostos, ao respeitar lei, ao votar…

 

E quanto à “letargia” cívica a que Cavaco Silva se refere, provavelmente o Presidente já se deverá ter esquecido das várias manifestações que nos últimos anos bateram recordes de presença nas ruas de Lisboa, assim como as inúmeras greves que têm assolado o País. Ou seja, instrumentos legais que os cidadãos têm ao seu dispor para se “sobressaltarem civicamente”.

 

Mas, muitos outros canais tem sido utilizados para esse despertar cívico, e para isso basta ler jornais, blogues, redes sociais, ou então estar atento a movimentos sociais e culturais de diferente índole. Além do mais, diariamente são muitos (velhos, novos, homens, mulheres, empregados, desempregados, estudantes) aqueles que tentam remar contra a corrente, mesmo que isso signifique grandes sacrifícios.

 

Aliás, é essa mesma sociedade civil que está a mobilizar uma manifestação para Sábado e que tem colocado na agenda o tema dos “jovens”, que Cavaco Silva abraçou no seu discurso de forma algo desproporcional, quase que apanhando a “boleia” de um movimento surgido totalmente à parte do sistema político.

 

Cavaco sacou da cartola o tema da “juventude” ao exortar uma geração a fazer ouvir a sua “voz” e a sonhar “mais alto”.  O que Cavaco não se aperceberá é que é difícil passar a sua mensagem quando nem sequer estas palavras chegarão à maior parte dos jovens.

 

Por mais apelos e exortações presidenciais, a questão é que o cidadão comum, por mais activo que seja, sente-se impotente e frustrado parente a falência do sistema político, as injustiças do Estado, a degradação da Justiça, a impunidade dos prevaricadores, a cultura de clientela, os desperdícios de dinheiros públicos, a ausência de coerência nas políticas adoptadas, e por aí diante.    

 

É por isso que, neste momento, os portugueses não precisam que um professor lhes diga o que devem fazer, mas sim que um Presidente lhes diga o que vai fazer para ajudar o povo nesta missão hercúlea para vencer os grandes desafios que o País tem pela frente.