Algo vai mesmo mal quando Portugal recebe lições de justiça do Afeganistão
Kabul Bank em Cabul/Foto:Shah Marai/AFP/Getty
Por incrível que pareça, o Afeganistão deu esta Terça-feira uma lição de justiça a Portugal, ao condenar dois antigos responsáveis do Kabul Bank a cinco anos de cadeia, depois de terem sido acusados de uma fraude gigantesca naquela instituição, descoberta em finais de 2010. Os dois arguidos foram ainda condenados a multas pecuniárias. Um a quatro anos de prisão é o destino de outros 21 funcionários do banco.
À semelhança do que aconteceu com outras instituições financeiras em vários países, nomeadamente em Portugal, com o escandaloso BPN, também o Kabul Bank foi alvo de uma massiva fraude, assente em empréstimos sem qualquer tipo de cobertura (bad loans), no valor de 900 milhões de dólares, canalizados sobretudo para a elite política e algumas empresas “amigas”. Um tema já abordado por este autor em Abril de 2011.
Mas ao contrário do que tem acontecido em Portugal, com o vergonhoso processo judicial BPN (e já agora o BPP), a justiça no Afeganistão foi célere, tendo criado um tribunal especial para este caso em Junho de 2012. Menos de um ano depois foram conhecidas as sentenças, com várias pessoas envolvidas a serem condenadas para a cadeia (uma pena que, a julgar pelos vários casos de “colarinho branco” que se vão observando em Portugal, não parece estar contemplada no Código de Processo Penal).
A ironia desta história é o facto de muitos observadores considerarem estas penas muito leves, quando comparadas, por exemplo, com o processo de Bernie Madoff, condenado a 150 anos e a uma multa de 65 mil milhões de dólares.
Seja como for, os casos não são comparáveis e, em abono da verdade, já teria sido muito saudável para Portugal se os responsaveis pelo fraude do BPN tivessem sido condenados a penas "leves" semelhantes àquelas que foram aplicadas no Afeganistão.
Texto publicado originalmente no Forte Apache.