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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Nancy Pelosi volta a ser a mulher mais poderosa da política americana

Alexandre Guerra, 03.01.19

 

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Nancy Pelosi no primeiro dia em que, pela primeira vez, uma mulher assumiu o cargo de "speaker" da House. Foi em 2007. Agora, regressa ao cargo/Foto:Stephen Crowley/The New York Times

 

Nancy Pelosi torna-se a partir desta Quinta-feira a mulher mais poderosa da política americana ao assumir o cargo de "speaker" da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos. Pelosi, que já ocupou aquele cargo entre 2007 e 2011, tem agora o seu “comeback” para o topo da cúpula de poder. Note-se que o líder ou a líder da câmara baixo do Congresso é a segunda maior figura na hierarquia do Estado, a seguir ao Presidente. De certa forma, em termos institucionais, é semelhante ao nosso presidente da Assembleia da República, mas, em termos políticos, a diferença é abismal, uma vez que o "speaker" assume um papel preponderante na política quotidiana dos Estados Unidos, sobretudo numa altura em que o embate ideológico e político entre a Casa Branca e a maioria democrata na House será estrondoso.

 

New York Times referia-se a Pelosi como “um ícone do poder feminino” e, após 15 anos como congressista democrata da Califórnia, tem agora a oportunidade de selar a sua carreira política ao mais alto nível. Já em 2007 tinha feito história, ao tornar-se na primeira mulher a assumir o cargo de "speaker" da House. Agora, aos 78 anos, enfrenta, provavelmente, o seu mais difícil desafio no Congresso, naquilo que pode ser visto como mais do que um combate político. Para Pelosi, mãe de cinco e avó de nove, será acima de tudo uma luta de valores e de princípios contra um Presidente que, para muitos, representa uma traição àquilo que os ideais americanos defendem.

 

Curiosamente, numa altura em que o mundo vê surgirem lideranças mais jovens, seja no poder ou na oposição, nos EUA, o combate político de primeira linha entre a Casa Branca e o Partido Democrata vai ser personificado por dois veteranos. Antecipa-se um confronto feroz entre Pelosi e Trump, entre a House e a Casa Branca. A vitória dos democratas nas eleições de Novembro para a Câmara dos Representantes alimentou as expectativas e a esperança de milhões de americanos anti-Trump, que, após dois anos de domínio republicano na Casa Branca e Congresso, vêem neste novo arranjo parlamentar uma hipótese de travar as políticas do Presidente. Pelosi acaba por beneficiar destas circunstâncias, canalizando para si os anseios de muitos eleitores, perante a frustração que foi a eleição e a governação de Donald Trump.

 

Sem rodeios

Alexandre Guerra, 13.02.13

 

John Boehner, congressista pelo Ohio e "speaker" da Câmara dos Representantes/Foto: J. Scott Applewhite/AP

 

Uma das coisas boas da Política americana é a frontalidade com que os seus actores expõem, publicamente, o que lhes vai na alma. Por mais que se discorde de uma ou outra posição veiculada por um ou outro político americano, não deixa de ser entusiasmante a forma descomplexada como algumas opiniões vêm para a opinião pública.

 

Noutros sistemas políticos, como o português, os seus intervenientes refugiam-se no "politicamente correcto" e nunca dizem aquilo que pensam. Falam sempre em "cooperação" e "pontes de entendimento" entre diferentes forças políticas, mesmo que na realidade não seja isso que pensem ou pretendam fazer. Ou seja, o "combate" político nunca é assumido de forma honesta e objectiva. Tudo é muito dissimulado e, até, por vezes, cobarde.

 

Num registo contrário, republicanos e democratas no Congresso dos Estados Unidos não hesitam em partir para o "campo de batalha", mesmo que isso às vezes possa prejudicar o interesse dos próprios americanos.

 

Em linha com este espírito combativo, o republicano John Boehner, "speaker" da Câmara dos Representantes, em reacção ao discurso do Estado da União proferido pelo Presidente Barack Obama, revelou abertamente e sem rodeios os seus intentos políticos. Num debate televisivo ontem à noite, Boehner afirmou que a imigração será o único tema da agenda presidencial com alguma hipótese de passar no Congresso este ano.

 

Estas palavras de Boehner são uma autêntica "declaração de guerra" do Grand Old Party contra o Presidente Obama, deixando de lado o hipócrita discurso da "cooperação" que, tantas vezes, se assiste no sistema político português, com resultados inócuos.