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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

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Sua Majestade em defesa da BP

Alexandre Guerra, 03.12.13

 

O Diplomata escrevia há uns meses, a propósito do acidente da plataforma petrolífera Deepwater Horizon, no Gofo do México, em 2010, onde morreram 11 trabalhadores, provocando o maior desastre ambiental nos Estados Unidos, que "a BP, tal como se conhece, poderia estar condenada". E acrescentava que, "efectivamente, os custos totais em perdas previstos pela companhia estarão acima de uns astronómicos 42 mil milhões de dólares". Notava-se ainda que "nem uma empresa como a BP poderá estar em condições de assegurar tão avultados encargos, sobretudo numa altura em que a empresa enfrenta outros desafios". Na altura, o Diplomata citou ainda o Daily Mail,  porque a "questão que se coloca é saber onde a BP vai buscar o dinheiro caso os custos continuem a aumentar". 

 

Desde então, a situação da BP não tem melhorado, levando agora a empresa a pedir ajuda ao Governo britânico para que intercedesse junto das autoridades americanas para que estas revoguem a proibição decretada pela Environmental Protection Agency (EPA), no ano passado, de qualquer contrato com aquela petrolífera nos Estados Unidos.

 

Londres alega que a medida decretada pela EPA terá sido exagerada e que pode colocar em causa empregos britânicos e fundos de pensões. No documento enviado para o tribunal de recurso contra a proibição, lê-se que o "o Governo de Sua Majestade" considera "excessiva" a medida da EPA e mostra-se "preocupado" com as "consequências económicas sérias e injustificadas".

 

Ora, esta é a primeira vez que o Governo britânico intervem na defesa dos interesses da BP no âmbito deste processo, num claro sinal de que as coisas não estão bem, podendo especular-se sobre a hipótese da companhia estar numa situação bem pior do que aquela que publicamente se conhece. Aliás, o tom do documento enviado por Londres é bastante assertivo na forma como qualifica a decisão da agência federal norte-americana.

 

O fundo bilionário da BP está quase seco

Alexandre Guerra, 30.07.13

 

O gigantesco fundo financeiro de 20 mil milhões de dólares criado pela BP com o objectivo de indemnizar todas as pessoas das comunidades piscatórias ao longo do Golfo do México que foram afectadas pelo trágico acidente ambiental ocorrido na plataforma Deepwater Horizon, a 20 de Abril de 2010, e que provocou a morte de 11 trabalhadores e o derrame de 4 milhões de barris de crude, está a esgotar-se.

 

Daquele fundo apenas restam 300 milhões de euros e ainda falta quase um ano até terminar o prazo para as reclamações de eventuais lesados. A BP anunciou, entretanto, que disponibilizou mais 1,4 mil milhões de dólares para dar resposta a outras reclamações legais. E é muito provável que aquela petrolífera seja obrigada a delapidar os lucros futuros para cumprir com as suas obrigações legais.

 

O Diplomata disse no início de todo este processo que a BP, tal como se conhece, poderia estar condenada. Efectivamente, os custos totais em perdas previstos pela companhia estarão acima de uns astronómicos 42 mil milhões de dólares. Nem uma empresa como a BP poderá estar em condições de assegurar tão avultados encargos, sobretudo numa altura em que a empresa enfrenta outros desafios. Como escrevia o Daily Mail, a questão que se coloca é saber onde a BP vai buscar o dinheiro caso os custos continuem a aumentar. 

 

Mais uma história de "interesses" sob a lógica do realismo político

Alexandre Guerra, 07.09.09

 

Foto PA

 

O acordo celebrado entre os governos da Escócia e da Líbia para a transferência do prisioneiro Adbelbaset Ali al Megrahi, o único a cumprir pena de prisão pelo atentado de Lockerbie ao voo da Pan AM em 1988, e do qual resultaram 270 mortos, está a revelar-se um verdadeiro embaraço para algumas figuras políticas britânicas. 

 

Inicialmente, havia uma versão oficial, na qual a decisão do Governo escocês assentara exclusivamente numa base de cariz humanitário, já que o prisioneiro, supostamente, se encontra num estado terminal de doença que não se deverá prolongar além dos três meses de vida

 

Por isso, não é de estranhar que num primeiro momento, após o conhecimento público do acordo, os contornos específicos do mesmo não tenham suscitado grande celeuma.  A situação altera-se radicalmente após a recepção apoteótica de al Megrahi em Tripoli, espoletando reacções de repulsa em diferentes sectores britânicos.

 

Além do argumento humanitário, começaram a surgir notícias que davam conta de um acordo secreto previamente negociado em 2007, inserido numa lógica alargada de aproximar a Líbia ao sistema internacional e de melhoramento das relações comerciais entre o Reino Unido e aquele país.

 

No âmbito desse acordo terá estado um negócio de 550 milhões de libras em favor dos britânicos, nomeadamente para a petrolífera BP se instalar na Líbia em condições mais vantajosas. 

 

Foto PA

 

O primeiro-ministro inglês Gordon Brown reiterou esta semana que não houve qualquer encobrimento de um acordo secreto. Efectivamente, o Executivo britânico já tinha libertado documentos que demonstravam a vontade do secretário de Justiça inglês, Jack Straw, excluir al Megrahi de qualquer acordo de transferência de prisioneiros. No entanto, em Dezembro de 2007 terá mudado de ideias. 

 

Uma posição agora confirmada pelo próprio em entrevista ao Daily Telegrah. Jack Straw admitiu que afinal não estavam apenas em jogos razões humanitárias, mas também objectivos comerciaise políticos, numa tentativa de estreitar relações entre a Líbia e especificamente o Reino Unido: "Libya was a rogue stat. We wanted to bring it back into the fold. And yes, that included trade because trade is an essential part of it and subsequently there was the BP deal."

 

 

No meio disto tudo, o Governo escocês mantém a sua versão de que a libertação de al Megrahi não foi inserida em qualquer acordo secreto de transferência e que não houve qualquer negociação com Londres. O próprio Straw tinha evitado compromoter esta posição, porém, revelou ao Daily Telegrah que em Julho de 2007 esteve reunido com o secretário de Justiça e o primeiro-ministro escoceses para discutirem  o acordo (nesta altura, todos defendiam a exclusão de al Megrahi de qualquer acordo).

  

Mais tarde, Straw escreveu ao secretário de Justiça escocês, Kenny MacAskill, a informá-lo de que afinal al Megrahi teria que se incluído num acordo de transferência, sob o argumento de estarem em jogo "interesses avassaladores para o Reino Unido".

 

 

Straw estava claramente a mover-se numa lógica de realismo político, aproveitando a oportunidade de transferência de al Megrahi para defender os interesses do Reino Unido. Tratava-se de uma janela de oportunidade política e comercial que Straw considerou não estar em condições de recusar, sobretudo quando se está a lidar com um país que tem tanto para "oferecer" ao Ocidente, segundo alguns analistas citados pela AP. 

 

E, efectivamente, Straw acabou por alcançar os objectivos, ao conseguir estreitar as relações políticas com a Líbia, ao ponto do porta-voz daquele regime, Abdul Majeed al Dursi, ter tecido fortes elogios ao Reino Unido:  “This is a brave and courageous decision by the British, which shows its understanding of Libyan culture by allowing a sick man to be at home when he dies. It showed the relations between Britain and Libya are strong and deep. We in Libya appreciate this and Britain will find it is rewarded.”

 

Também em termos económicos, a BP nos últimos anos já contabiliza um investimento de mil milhões de dólares em projectos de exploração na Líbia.

 

O problema é que toda a estratégia desenvolvida por Straw tornou-se pública, criando um embaraço político para o Executivo britânico. Apesar de Straw ter revelado que Brown não teria conhecimento deste processo, a oposição está a instrumentalizar o assunto para atacar o primeiro-ministro. Também o Governo escocês acaba por ser associado ao assunto, já que terá alinhado com os intentos de Straw.  

 

O paradigma do realismo político assenta numa lógica de segredo e de discrição, por vezes longe da opinião pública, no qual os interesses do Estados se sobrepõem a outros factores igualmente meritórios, mas politicamente alvo de outras interpretações quanto à sua importância estratégica para o Estado.

 

Straw acabou por fazer aquilo que outros dirigentes teriam feito, ao perceber que podia potenciar uma oportunidade em favor de "interesses avassaladores". No entanto, os riscos políticos inerentes a estratégias deste género são muito altos, sobretudo quanto o assunto passa para o domínio público.