Sandra Bullock no papel de... James Carville
James Carville, um destacado democrata de 71 anos, é conhecido pelo público interessado nestas coisas da política internacional por ter sido co-apresentador do programa de debate político da CNN, “Crossfire”, e também por ser uma presença assídua como comentador nalguns canais de notícias americanos. Já os mais conhecedores saberão provavelmente que Carville é, desde há muitos anos, um dos mais reputados consultores de comunicação política, tendo estado envolvido em inúmeras campanhas eleitorais, inclusive naquela que, em 1992, levou Bill Clinton pela primeira vez à Casa Branca.
Mas não é nenhuma dessas campanhas internas que o Diplomata quer abordar, mas sim aquela que Carville fez em 2002, nas eleições presidenciais da Bolívia e que em 2005 resultou no documentário “Our Brand is Crisis” e agora romanceada no filme com o mesmo nome e que se inspira nos factos verídicos ali retratados.
Na altura, enquanto fundador e consultor da empresa Greenberg Carville Shrum (GCS), Carville foi contratado pelo candidato Gonzalo Sánchez de Lozada, que já tinha sido Presidente entre 1993 e 1997, deslocando-se para aquele país andino com um staff de alguns colegas seus e que iriam tentar recuperar o atraso do seu candidato nas sondagens, contra, entre outros, Manfred Reyes Villa e Evo Morales.
Carville e a sua equipa conseguiram que o seu candidato recuperasse nas sondagens em poucos dias e vencesse as eleições. Como? Carville percebeu que o seu candidato só tinha aptidão para passar um determinado tipo de mensagem: “We’re in a crisis—and I’m the guy with the know-how to fix it.” Mas o problema é que, como alguém escrevia, Lozada nem sequer conseguia arranjar uma casa de banho, quanto mais resolver os problemas do país. E é precisamente neste ponto que Carville demonstrou valer todo o dinheiro que recebeu neste trabalho, ao conseguir induzir nos eleitores a percepção (sim, em comunicação política é disso que falamos) de um problema (crise) e da respectiva solução (Lozada).
Dizem os mais críticos que Carville e os seus colegas da GCS elegeram o homem errado, no tempo errado para o lugar errado. Efectivamente, o mandato de Lozada foi curto, não durando sequer um ano. Certo é que Carville e o restante staff da GCS cumpriram aquilo para que foram contratados, reforçando, assim, o seu estatuto enquanto consultores de topo.
Apesar de se inspirar no documentário de 2005, o filme, que deverá estrear brevemente em Portugal, é ficcionado e, por isso, o papel que Sandra Bullock desempenha deveria ser na verdade o de um homem, James Carville. Joaquim de Almeida aparece a fazer de Lozada, embora no filme os nomes sejam todos ficcionados. Adaptações à parte, é de um filme que se está a falar e não de um documentário como o de 2005. Assim sendo, toda a liberdade na narrativa serve para prender o telespectador, num registo que, não escapando aos habituais apontamentos hollywoodescos, dá uma perspectiva interessante da influência que os especialistas norte-americanos em comunicação têm na vida política da América do Sul.