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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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E assim vai o terrorismo...

Alexandre Guerra, 08.04.15

 

Quando se fala hoje em dia de terrorismo islâmico é importante perceber a suas diferentes nuances, já que não se está a falar exactamente da mesma coisa. Na verdade, existem diferentes realidades em diferentes contextos e que devem ter abordagens interpretativas diferentes. Por exemplo, o fenómeno do terrorismo internacional da al Qaeda não deve ser confundido com o terrorismo que durante anos foi praticado por movimentos ligados à libertação palestiniana. Tal como o terrorismo uigure (muçulmano), na região de Xiangxiang na China, ou aquilo que o PKK fez durante anos na Turquia (e não só), não deve ser comparado com os actos praticados pelo Estado Islâmico. É preciso perceber que por detrás destes diferentes movimentos, existem diferentes motivações e objectivos. 
 
Actualmente, é importante notar que dentro do terrorismo islâmico existem interesses contrários e que estão em confronto em locais como no Iraque ou no Iémen. Basicamente, estes dois confrontos espelham uma rivalidade crónica entre sunitas e xiitas. O Estado Islâmico no Iraque, maioritariamente sunita radical, tem estado a ser combatido por xiitas (apoio do Irão) ou sunitas moderados (iraquianos, sauditas, etc).
 
Já no Iémen, os terroristas Houthi são xiitas radicais e estão a ser apoiados pelo Irão no combate ao Governo de Sanaa. Ao mesmo tempo, o movimento da al Qaeda na Península Arábica,sunita radical e apoiado pela al Qaeda, combate os Houthis e o Governo. Entretanto, o Estado Islâmico também se está a imiscuir no Iémen para enfraquecer a filial da al Qaeda. De notar que estes dois movimentos transnacionais, sunitas, são rivais.     
 
Na Somália, o movimento terrorista al Shabab tem provocado a desestabilização nos últimos anos, levando mesmo à queda do seu Governo. As acções daquele movimento têm igualmente se estendido ao Quénia, país que em 2011 enviou um contingente militar para intervir na Somália, precisamente para combater a al Shabab. Este movimento, ao contrário de outros, não tem ligações fortes nem alinhamentos com polos de poder sunitas (Arábia Saudita) ou xiitas (Irão), já que se trata de um grupo de cariz sobretudo criminoso, assente na pirataria. No entanto, desde 2012 que estabeleceu alguns laços com a al Qaeda, assim como com alguns movimentos africanos, tais como o Boko Haram. 
 

Boko Haram volta a lançar as "sementes" para uma guerra civil

Alexandre Guerra, 22.01.12

 

Um dos sobreviventes dos atentados de Sexta-feira na cidade de Kano/Foto: Reuters

 

O Boko Haram, ao qual o Diplomata já fez referência, voltou a atacar na Nigéria na passada Sexta-feira, naquela que terá sido a sua mais violenta acção, desde que o movimento foi criado em 2002. Os atentados ocorreram na cidade de Kano, tendo as autoridades até ao momento já confirmados mais de 160 mortos.

 

Aquele grupo, que tem ligações ao ramo da al Qaeda no norte de África, está a cumprir as ameaças que tinha feito, de que iria lançar a violência na Nigéria até que o Governo cedesse na libertação de alguns militantes islâmicos, que foram presos em 2009, numa operação que as autoridades levaram a cabo para tentar destruir aquele grupo. A verdade é que o Governo não apenas falhou nesse propósito como, desde então, o Boko Haram tem intensificado a sua actividade. 

 

Ainda no dia de Natal, vários atentados perpetrados por militantes do Boko Haram nos arredores de Abuja provocaram mais de 40 mortos. 

 

A situação é de tal forma preocupante que o Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, já disse que o País atravessa um momento mais complicado do que aquele que se viveu durante a guerra civil entre 1967 e 1970. Entretanto, já anunciou algumas detenções, embora dificilmente consiga travar o clima de tensão e de violência que se faz sentir na Nigéria.