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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Sandra Bullock no papel de... James Carville

Alexandre Guerra, 03.11.15

 

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James Carville, um destacado democrata de 71 anos, é conhecido pelo público interessado nestas coisas da política internacional por ter sido co-apresentador do programa de debate político da CNN, “Crossfire”, e também por ser uma presença assídua como comentador nalguns canais de notícias americanos. Já os mais conhecedores saberão provavelmente que Carville é, desde há muitos anos, um dos mais reputados consultores de comunicação política, tendo estado envolvido em inúmeras campanhas eleitorais, inclusive naquela que, em 1992, levou Bill Clinton pela primeira vez à Casa Branca.

 

Mas não é nenhuma dessas campanhas internas que o Diplomata quer abordar, mas sim aquela que Carville fez em 2002, nas eleições presidenciais da Bolívia e que em 2005 resultou no documentário “Our Brand is Crisis” e agora romanceada no filme com o mesmo nome e que se inspira nos factos verídicos ali retratados.

 

Na altura, enquanto fundador e consultor da empresa Greenberg Carville Shrum (GCS), Carville foi contratado pelo candidato Gonzalo Sánchez de Lozada, que já tinha sido Presidente entre 1993 e 1997, deslocando-se para aquele país andino com um staff de alguns colegas seus e que iriam tentar recuperar o atraso do seu candidato nas sondagens, contra, entre outros, Manfred Reyes Villa e Evo Morales.

 

Carville e a sua equipa conseguiram que o seu candidato recuperasse nas sondagens em poucos dias e vencesse as eleições. Como? Carville percebeu que o seu candidato só tinha aptidão para passar um determinado tipo de mensagem: “We’re in a crisis—and I’m the guy with the know-how to fix it.” Mas o problema é que, como alguém escrevia, Lozada nem sequer conseguia arranjar uma casa de banho, quanto mais resolver os problemas do país. E é precisamente neste ponto que Carville demonstrou valer todo o dinheiro que recebeu neste trabalho, ao conseguir induzir nos eleitores a percepção (sim, em comunicação política é disso que falamos) de um problema (crise) e da respectiva solução (Lozada).

 

Dizem os mais críticos que Carville e os seus colegas da GCS elegeram o homem errado, no tempo errado para o lugar errado. Efectivamente, o mandato de Lozada foi curto, não durando sequer um ano. Certo é que Carville e o restante staff da GCS cumpriram aquilo para que foram contratados, reforçando, assim, o seu estatuto enquanto consultores de topo.

 

Apesar de se inspirar no documentário de 2005, o filme, que deverá estrear brevemente em Portugal, é ficcionado e, por isso, o papel que Sandra Bullock desempenha deveria ser na verdade o de um homem, James Carville. Joaquim de Almeida aparece a fazer de Lozada, embora no filme os nomes sejam todos ficcionados. Adaptações à parte, é de um filme que se está a falar e não de um documentário como o de 2005. Assim sendo, toda a liberdade na narrativa serve para prender o telespectador, num registo que, não escapando aos habituais apontamentos hollywoodescos, dá uma perspectiva interessante da influência que os especialistas norte-americanos em comunicação têm na vida política da América do Sul. 

 

 

"Clinton", o documentário há muito aguardado

Alexandre Guerra, 16.02.12

 

 

A cadeia televisiva americana PBS vai exibir na próxima Segunda e Terça-feira um documentário de quatro horas sobre a vida do antigo Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Segundo o que tem sido veiculado com entusiasmo pela imprensa, serão reveladas novas informações sobre o escândalo de Monica Lewinsky. Para já, a PBS disponibilizou o primeiro capítulo com quase 12 minutos do documentário chamado "Clinton".


Uma mentira reiterada várias vezes não se transforma numa verdade

Alexandre Guerra, 25.02.10

 

 

Por mais perverso que possa parecer, mentir e omitir são dois conceitos compreensíveis em política, e até mesmo admissíveis, quando se está, efectivamente, a falar no exercício do poder em prol de um Estado e de um povo. Não quer com isto dizer-se que ao mentir o político esteja a ser virtuoso. Seria uma hipocrisia assumir tal ideia.

 
Mas, já não será abusivo considerar-se que o “Príncipe” esteja a ser astuto na arte de governar ao negar ou omitir determinado facto, se com isso considerar que está a servir genuinamente um interesse maior: o nacional.
 
Este racional degenera quando uma mentira ou omissão são veiculadas pelo líder político, visando interesses menores, muitas das vezes de âmbito clientelar e corporativo, que em nada correspondem às obrigações nobres da governação e às exigências do Estado e dos cidadãos.
 
 
A apresentação destas linhas fica-se a dever, não tanto aos sucessivos “casos” polémicos que se têm abatido sobre o primeiro-ministro português, José Sócrates, mas antes à sua reacção e contínua negação de qualquer acto ilícito ou menos próprio.
 
O Diplomata não se propõe avaliar tal comportamento, e muito menos tirar ilações quanto à veracidade ou não das declarações de inocência reiteradas por Sócrates relativas a todos os dossiers que o envolvem. Simplesmente, toda esta história remeteu o autor destas linhas para um episódio político de proporções gigantescas que começou, precisamente, com uma negação categórica feita pelo líder sobre um polémico escândalo que o abraçara.
 
Em Janeiro de 1998, perante a juíza Susan Webber Wright, num processo de inquérito instaurado pelo procurador Keneth Starr, o então Presidente Bill Clinton dava o primeiro passo de um tortuoso e desastroso processo ao admitir que dera presentes a Monica Lewinsky, estagiária entre 1995 e 1996 na Casa Branca, mas negando ter tido “relações sexuais”. Uma afirmação reiterada dias depois numa entrevista ao programa NewsHour da PBS. A 26 de Janeiro, falando na Casa Branca aos americanos, Clinton comete o seu pecado capital ao dizer a célebre frase: “I did not have sexual relations with that woman, Miss Lewinsky.”
 
Para os americanos, era a palavra do seu Presidente e na qual queriam acreditar, legitimamente, já que a própria forma e tom com que Clinton o afirmou foram bastante convincentes. Mas, ao mesmo tempo, Clinton mergulhava numa espiral que só o puxava cada vez mais para o fundo, uma vez que em tempo algum a sua estratégia de mentira teria como fim os interesses nacionais e dos seus cidadãos.
 
“O que fizera com Monica Lewinsky fora imoral e estúpido. Estava profundamente envergonhado e não queria que viesse a lume. Estava a tentar proteger a minha família, a mim própria, da minha estupidez egoísta”, admitiu Clinton mais tarde nas suas memórias. “Com a minha conduta errada, causara danos à presidência e às pessoas. E a culpa era exclusivamente minha.”
 
E como mais tarde se veio a perceber, os americanos nunca viram nas “escapadelas” de Clinton com Mónica Lewinski um factor particularmente grave, apercebendo-se, inclusivamente, da campanha agressiva feita por Starr, que assumiu contornos inquisitórios. O problema foi a mentira reiterada várias vezes pelo Presidente americano, sem que por detrás de tal acto estivesse um interesse maior de Estado que o justificasse.
 
Clinton acabou por ver-se envolvido num processo de perjúrio, arrastando-se durante meses e fragilizando a sua imagem perante os seus concidadãos, que o quase afastou da Casa Branca, não fosse o Senado ter indeferido os factores que sustentavam a efectivação do “impeachment”.
 
Perguntará agora o leitor deste blogue sobre o que é que esta história terá a ver com José Sócrates? Provavelmente quase nada… Ou talvez tudo.
 

Momentos com história

Alexandre Guerra, 04.08.09

 

KCNA/Reuters

 

Além de ter conseguido, da parte do líder norte-coerano Kim Jong Il, o perdão para as duas jornalistas americanas detidas desde Março, a viagem de Bill Clinton até Pyongyang serviu também  para demonstrar a influência que o antigo Presidente dos Estados Unidos ainda tem nas altas esferas da política internacional.