Recordar Belém no Natal...
Em cima, a tradicional árvore de Natal no centro de Belém, Palestina, com a Basílica da Natividade e a Igreja de Santa Catarina em plano de fundo. Em baixo, duas jovens palestinianas muçulmanas entusiasmadas com a chegada do Natal.
Nesta altura do ano recordo sempre Belém, não em Lisboa, mas na Cisjordânia, onde nasceu Jesus Cristo. E recordo, não propriamente pela sua beleza, e muito menos pela sua sofisticação, mas porque ali vive a maior comunidade católica da Palestina. Fiz vários amigos de lá, católicos, com quem perdi contacto ao longo dos anos. E lembro-me sempre que, apesar de ser um "enclave" católico no meio de terras muçulmanas (e também judaicas), as gentes de Belém nunca tiveram medo de mostrar o seu Natal, com a célebre árvore bem no centro e as ruas devidamente engalanadas. Ao mesmo tempo, os muçulmanos sempre conviveram bem com esse facto, vendo até aí uma fonte de receitas para aquele município. E o corolário desta convivência inter-religiosa, mas sem que ninguém abdicasse dos seus credos e rituais, verificava-se na Missa do Galo, onde todos os anos víamos pela televisão uma das imagens mais icónicas daquilo que podia ser visto como pragmatismo confessional, sem preconceitos ou intolerâncias: Yasser Arafat sentado na fila da frente da Igreja da Santa Catarina. O antigo líder histórico palestinano poucos problemas tinha em aceitar o catolicismo dentro das fronteiras da Cisjordânia, na verdade, para ele, a questão da religião foi sempre secundária, sendo que o que lhe interessava mesmo era a afirmação do poder da Autoridade Palestiniana em relação a Israel.