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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Grande Prémio de F1 do Bahrein promete aquecer ânimos xiitas fora de pista

Alexandre Guerra, 18.04.12

 

 

Mulheres xiitas protestam no Bahrein contra a realização do GP de F1 no próximo fim-de-semana./Foto AFP

 

O Grande Prémio de Fórmula 1 regressa este fim-de-semana ao Bahrein, Estado árabe maioritariamente xiita, mas dominado por um regime monárquico, pertencente à ala sunita do islão, minoritária naquele país do Golfo.

 

Uma situação que aliás se verifica noutros Estados árabes, como é o caso da Síria, embora aqui a minoria do regime dominante seja alauita (xiita), contrastando com a maioria da população sunita.

 

Normalmente, este desfasamento religioso entre o poder governante e o povo governando tende a exacerbar-se em alturas de maiores dificuldades económicas, precipitando, rapidamente, aquelas sociedades para situações de tensão social e política e, numa fase mais avançada, de confrontação.

 

A Síria é um exemplo disso, mas também o reino do Bahrein (em Fevereiro de 2002 passou de emir para reino) dá sinais de que pode caminhar para uma conjuntura explosiva. Até ao momento, as coisas ainda parecem estar minimamente controladas.

 

De há um ano a esta parte, o país vive um clima de descontentamento popular e de alguma revolta, embora, de certa forma, controlada pelas forças governamentais.

 

No ano passado, precisamente por causa deste ambiente tenso, foi cancelado o GP de F1 naquele país, com os protestantes xiitas a considerarem o evento uma manifestação de opulência por parte do reinado do xeque Hamad. Foi o próprio rei que no ano passado deu ordens para suprimir todas as manifestações pro reforma, inspiradas pela Primavera Árabe.

 

Agora, o evento está de regresso, para satisfação de Hamad, no entanto, os protestantes xiitas já voltaram a fazer ouvir o seu descontentamento com esta prova. Numa altura em que as equipas estão a chegar ao Bahrein, já se verificaram alguns tumultos, no entanto, as autoridades já vieram garantir todas as condições de segurança. 

 

O correspondente da BBC News no Médio Oriente está no Bahrein e tem auscultado as reacções de algumas pessoas da comunidade xiita, concluindo que há um sentimento de revolta generalizado contra o GP da F1, por este representar uma espécie de cortina de fumo perante a dura realidade do reino.

 

“Nós não queremos a F1 aqui”, disse um médico xiita de um bairro pobre na capital Manama. “Eles [regime] ignoram o nosso sofrimento através deste evento. Mostra a toda a gente que tudo está pacífico, que todos estão contentes. Mas a realidade é diferente.”