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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

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Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Desta vez há algo de novo e Trump (estranhamente) percebeu

Alexandre Guerra, 21.02.18

 

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Ilustração de Andrea Ucini/NYT 

 

Quem diria que seria Donald Trump a propor uma mudança legislativa restritiva em matéria de armas... É certo que a ordem executiva que o Presidente assinou, e que obriga o Departamento de Justiça a rever a lei, é bastante limitada e incide apenas na proibição da venda de acessórios ("bump-stocks) que permitem modificar armas semi-automáticas em automáticas, mas, mesmo assim, já é qualquer coisa. É também certo que Trump, num laivo de bom senso político ou bem aconselhado, percebeu rapidamente que precisava de aliviar a pressão. Antes, já tinha também anunciado que estava disponível para apoiar legislação que aperte o controlo ao "background" de possíveis compradores de armas. Estas medidas são claramente insuficientes e, na verdade, até têm o apoio da National Rifle Association (NRA), o que se compreende, já que, através destas cedências, aquela organização vai gerindo a agenda das armas nos EUA, mantendo intacto o enquadramento legal que verdadeiramente interessa e que permite ter no mercado todo o tipo de armas.

 

Aliás, poucos acreditam que a vontade reformadora de Trump vá ao ponto de se poder vir a discutir a proibição da venda de armas de assalto. No entanto, isso não significa que a Casa Branca, nesta altura, não alimente junto da opinião pública a percepção de que Trump poderá estar comprometido com novas medidas restritivas. E neste sentido, as declarações da sua porta-voz, Sarah Huckabee Sanders, são muito interessantes, porque quando questionada pelos jornalistas sobre a possibilidade da proibição da venda de armas de assalto, responde que a Casa Branca "não fecha a porta em nenhuma frente". Isto é o mesmo que dizer que Trump admite rever a lei para proibir a venda daquele tipo de armas, o que é uma posição arrojada, para um Presidente republicano que se assumiu um "true friend and champion in the White House" da NRA.  A questão é que mesmo sabendo-se que dificilmente será concretizada algum tipo de iniciativa, a "intenção" presidencial já foi lançada para a opinião pública.

 

Se olharmos com clareza para as últimas décadas, constatamos que em matéria de controlo de armas os presidentes americanos têm sido impotentes ou passivos, ficando sempre amarrados aos seus interesses e ao "gun lobby". Nem Barack Obama conseguiu mexer substancialmente no sistema vigente. Os massacres sucedem-se, mas a acção política tem-se ficado pelos lamentos. Pelo menos, até agora. Trump, por pouco que seja, está a fazer algo de concreto e, como foi acima referido, tem tido a preocupação de passar a ideia da "intenção" de fazer ainda mais. E esta "intenção" não deve ser desvalorizada, tendo em conta as pressões, os lobbies e os financiamentos eleitorais que se fazem sentir e jogam na arena das armas. Trump parece estar a ir um pouco mais além do que, por exemplo, Barack Obama terá ido em matéria de controlo de armas. 

 

O que terá então acontecido para que Trump, um republicano "amigo" das armas, esteja a ter uma posiçao aparentemente mais interventiva do que Obama, claramente identificado com um outro tipo de sociedade? A resposta, na minha opinião, tem a ver com um fenómeno que está a acontecer desta vez e que não se verificou em tragédias anteriores semelhantes: a resposta e a mobilização dos jovens estudantes. Para quem tem acompanhado os meios de comunicação social norte-americanos nos últimos dias, percebe que há uma dinâmica crescente, que tem potencial para se transformar numa questão política e social, sobretudo a partir do momento em que os jovens estudantes decidiram fazer uma "marcha" sobre Washington. A Casa Branca percebeu o que tinha pela frente, porque desta vez não se trata apenas de uma campanha dos media das elites de Washington contra a administração. A causa dos jovens estudantes tem um aliado muito mais poderoso: os seus pais. Se, por um lado, a irreverência e temeridade da juventude dá a dinâmica ao movimento, os pais dão a consistência e a dimensão. Trump percebeu isso ao ponto de alguém ter "passado" ao Washington Post a informação de que o Presidente tinha ficado muito sensibilizado quando viu as reportagens dos jovens estudantes e que se terá virado para os seus convidados, que estavam com ele na residência de férias de Mar-a-Largo na Flórida, e lhes terá perguntado o que mais poderia fazer pelo controlo de armas. Provavelmente, Trump saberia melhor do que ninguém naquela sala o que poderia fazer, mas a questão é que da forma como a história é contada e transmitida (como se de uma grande cacha do Post tratasse), as pessoas ficam com a percepção de que o Presidente, na sua intimidade, se importa genuinamento com o assunto. E isso em comunicação política é o que, por vezes, mais conta.

 

Massacres à conta da Segunda Emenda

Alexandre Guerra, 15.02.18

 

A América, mais uma vez, chocada, chora os seus mortos. Não aqueles que pereceram em combate algures no Iraque ou no Afeganistão, mas aqueles que tiveram a trágica infelicidade de estarem na mira de uma semi-automática nas mãos de um perturbado jovem americano numa escola secundária de Parkland, na Flórida. A história sangrenta repete-se. Desta vez, foram 17 mortos e outros tantos feridos. Nestes momentos, vem sempre ao de cima o eterno debate sobre a questão da posse de arma nos EUA, esse princípio constitucional e, para muitos, sagrado. De um lado, aparecem os habituais e impotentes críticos ao actual sistema e do outro lado, com a poderosa National Rifle Association (NRA) à cabeça, os defensores da liberdade de acesso às armas. Nesta arena política não há meios-termos. Os campos estão bem delimitados, com as palavras (ou ausência delas) a denunciarem as posições dos governantes. Veja-se, por exemplo, o senador Mark Rubio e o Governador republicano Rick Scott da Florida, em que lamentaram a tragédia, apelando a orações e ao fim da violência nas escolas, mas ao mesmo tempo, hipocrisia das hipocrisias, ambos têm “A+” dada pela NRA, um rating atribuído àqueles que mais têm feito pela defesa da Segunda Emenda e pelos esforços na promoção do direito pela posse e porte de arma.

 

O lobby das armas nos Estados Unidos é poderosíssimo e, em parte, essa força advém do culto à arma e ao papel que esta desempenhou na construção da América, assente num certo ideal de Nação, onde cada cidadão tem o direito a proteger-se. E sendo para muitos um bem de necessidade básica, eis que pode ser adquirido em qualquer grande superfície perto de si, nomeadamente a tristemente célebre AR-15, a arma mais usada nos massacres nas escolas. A NRA ostenta com orgulho o estatuto de a AR-15, uma adaptação civil da M-16, ser a arma mais popular dos EUA, porque, imagine-se, é “costumizável, adaptável, de confiança e precisa”. De acordo com a NRA, ainda há mais razões para comprar uma: é uma arma “versátil”, que tanto dá para “tiro desportivo, caça e situações de auto-defesa”. E a cereja no topo de bolo é o facto de ser uma arma “personalizável” nas suas peças, "o que a torna tão única”. Estima-se que esta arma esteja em 8 milhões de lares americanos.

 

Tudo isto é perturbador e faz-me lembrar uma cena do documentário Bowling for Columbine, onde, a determinada altura, Michael Moore entra num banco para abrir uma conta e sai de lá com uma arma. Ou seja, como se fôssemos ali à Caixa ou ao BCP para abrir uma conta e nos oferecessem uma pasta ou um relógio para incentivar à concretização do negócio.

 

Obviamente que qualquer acção legislativa no sentido de um maior controlo na venda e posse de armas suscitará um debate intenso e polémico na sociedade americana. E porquê? Como acima foi dito, porque, basicamente, uma grande parte dos americanos acha-se no direito constitucional de ter uma(s) arma(s). E, efectivamente, a Segunda Emenda (1791) sustenta essa realidade quando defende o “Right to Bear Arms”. Mas, a Segunda Emenda também é clara no propósito final subjacente a esse direito: “A well regulated Militia, being necessary to the security of a free State, the right of the people to keep and bear Arms, shall not be infringed.” Ou seja, os “legisladores” providenciaram o direito constitucional aos cidadãos de terem armas e de poderem andar com as mesmas como meio para garantir a virtude do Estado e do seu Governo e não como instrumento de defesa pessoal ou de serviço a outros interesses particulares.

 

Esta Emenda foi criada com base na desconfiança filosófica e ideológica que os legisladores tinham em relação ao Governo, por acreditarem que este poderia, nalgum momento, desvirtuar-se. Só com o povo dotado de armas poderia depor esse Governo e repor um novo “príncipe” virtuoso. De certa maneira, estaria aqui subjacente o princípio bíblico de armar o mais fraco (o justo) para derrotar o mais forte (o ímpio), e que permitiu a David, com a sua funda, derrotar Golias.

 

Ora, o problema, é que algures no caminho, os americanos esqueceram-se dos propósitos virtuosos e das boas intenções dos “legisladores”, agarrando-se apenas ao “Right to Bear Arms” para se armarem até aos dentes.

 

 

Texto publicado originalmente no Delito de Opinião

 

Um vergonhoso Senado trai americanos

Alexandre Guerra, 19.04.13

 

Obama conforta a mãe de uma vítima do tiroteiro de Newtown após a conferência de imprensa na Casa Branca de Quart-feira/Foto: Doug Mills/The New York Times

 

O Congresso norte-americano tanto é capaz de defender os mais elevados valores que se pretendem para uma sociedade democrática avançada, inspirando povos em todo o mundo, como pode cometer os maiores atentados ao progresso da "polis", gerando as maiores desconfianças e traindo o eleitorado que representa.

 

Quarta-feira, 90 por cento dos americanos (a julgar pelas sondagens), incluindo o Presidente Barack Obama, sentiram-se frustrados e, até mesmo, revoltados com o bloqueio no Senado de uma proposta de "bill" com várias medidas que iria na direcção de controlar o louco e frenético mercado interno de armas.

 

Refira-se que as medidas eram muito "suave", impondo algumas restrições pouco significativas, mas nem assim conseguiu ultrapassar o poderoso lobyy das armas, personificado naquela câmara do Congresso por mais de 50 senadores (a lei precisava de pelo menos 60 votos em 100 senadores para passar), que se opuseram à sua aprovação.

 

Obama, com razão, disse que aquela votação envergonhava "Washington". Mas mais do que isto, aqueles senadores traíram os americanos e fizeram vir ao de cima o pior da política dos corredores do poder: a cedência a uma minoria de americanos radicais na sua abordagem à II Emenda, com a National Rifle Association (NRA) à cabeça.

 

A imprensa americana foi implacável com os senadores que votaram contra a "bill", sobretudo porque esta foi forjada pelo democrata Joe Manchin e pelo republicano Pat Toomey, ambos entusiastas de armas.

 

Apenas quatro meses depois depois da América e os seus políticos terem "chorado" a morte de 20 crianças e seis adultos numa escola em Newtown, Connecticut, o Congresso não correspondeu às expectativas da sociedade, que após as promessas feitas pelos governantes em Dezembro esperavam medidas concretas.

 

Não só o Senado inviabilizou uma proposta de "bill" que fosse nesse sentido, como pretende tirar o tema da agenda. Harry Reid, líder daquela câmara, disse que os legisladores iam agora dedicar-se a outros assuntos e fazer uma "pausa" na matéria do controlo de armas.

 

Entretanto, é certo que mais tragédias vão acontecer nos Estados Unidos com armas de fogo e nesses momentos lá virão, novamente, todos os políticos em uníssono "chorar" os mortos e prometer medidas para combater o controlo de armas. Mas no final, já se sabe, fica tudo na mesma, imperando a hipocrisia e os interesses de minorias poderosas. E assim se vê a política americana no seu pior.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Os americanos esqueceram-se do princípio virtuoso da II Emenda da Constituição

Alexandre Guerra, 17.12.12

 

Nos Estados Unidos voltou-se a chorar pelas crianças mortas numa escola. E desta vez até o Presidente verteu umas lágrimas. Mas a verdade é que o drama vai-se repetindo de tempos a tempos e nada é feito para travar, ou pelo menos atenuar, este tipo de acontecimentos dramáticos (e não é só em escolas).

 

Como é natural nestes momentos de dor colectiva e de histeria opinativa, lá acordam os políticos para virem dizer “basta, porque agora é que chegou o momento de se pôr cobro a este tipo de massacres”.  

 

Ao ouvir isto, o autor destas linhas questiona-se: mas onde é que esta gente tem andado? Uma coisa é certa, parece que já tinham esquecido Columbine. Na altura, para quem se recorda, também a América ficou em choque e tinha chegado o momento de viragem. Desde então, tudo na mesma.

 

Obviamente que qualquer acção legislativa no sentido de um maior controlo na venda e posse de armas suscitará um debate intenso e polémico na sociedade americana.

 

E porquê? Basicamente, porque uma grande parte dos americanos acha-se no direito constitucional de ter uma(s) arma(s). E, efectivamente, a II Emenda (1791) sustenta essa realidade quando defende o “Right to Bear Arms”.

 

Mas a II Emenda também é clara no propósito final subjacente a esse direito: “A well regulated Militia, being necessary to the security of a free State, the right of the people to keep and bear Arms, shall not be infringed.”

 

Ou seja, os “legisladores” providenciaram o direito constitucional aos cidadãos de terem armas e de poderem andar com as mesmas como meio para garantir a virtude do Estado e do seu Governo e não como instrumento de defesa pessoal ou de serviço a outros interesses particulares.

 

Esta Emenda foi criada com base na desconfiança filosófica e ideológica que os legisladores tinham em relação ao Governo, por acreditarem que este poderia, nalgum momento, desvirtuar-se. Só com o povo dotado de armas poderia depor esse Governo e repor um novo “príncipe” virtuoso.

 

De certa maneira, estaria aqui subjacente o princípio bíblico de armar o mais fraco (o justo) para derrotar o mais forte (o ímpio), e que permitiu a David, com a sua funda, derrotar Golias.

 

Ora, os americanos esqueceram-se dos propósitos virtuosos e das boas intenções dos “legisladores”, agarrando-se apenas ao “Right to Bear Arms” para se armarem até aos dentes.

 

Os cálculos atómicos iranianos

Alexandre Guerra, 27.11.12

 

This undated diagram was given to the AP by officials of a country critical of Iran's atomic program. The graph allegedly calculates the explosive force of a nuclear weapon, a key calculation in developing such arms. The diagram shows a bell curve and has variables of time in micro-seconds and power and energy, both in kilotons, which is the traditional measurement of the energy output, and hence the destructive power, of nuclear weapons. The curve peaks at just above 50 kilotons at around 2 microseconds, reflecting the full force of the weapon being modeled. The Farsi writing at the bottom translates "changes in output and in energy released as a function of time through power pulse."

 

Este gráfico foi divulgado esta tarde pela Associated Press e, supostamente, calcula a força de explosão de uma arma nuclear. Segundo aquela agência noticiosa, esta imagem foi cedida por uma fonte do programa nuclear iraniano e crítica do regime, sob condição de anonimato.

 

De acordo com as interpretações feitas a este gráfico, está-se a falar de um engenho nuclear com uma capacidade destrutiva três vezes superior à da bomba atómica de Hiroshima. Esta informação vem reforçar a ideia de que o Irão está a desenvolver armas de destruição maciça. 

 

"Gun violence" deverá ser o novo tema da campanha presidencial americana

Alexandre Guerra, 20.07.12

 

O atentado no cinema em Aurora, um subúrbio de Denver, perpetrado por um jovem de 24 anos fortemente armado e que vitimou 12 pessoas e feriu outras 59, que assistiam à estreia do último fime da saga Batman, poderá trazer para a campanha presidencial americana o tão polémico tema da "gun violence".

 

Nalguns blogues e imprensa online americana o assunto da regulação das armas na sociedade já mexe, e caso se confirme a sua entrada na agenda política, será, à partida, um tema bem mais incómodo para Mitt Romney do que para Barack Obama.

 

Texto publicado originalmente no Forte Apache.


Countdown to Zero

Alexandre Guerra, 09.09.10

 

 

"More than a movie. It's a movement." É este o slogan do filme Countdown to Zero, que durante este Verão passou nalgumas salas de cinema dos Estados Unidos, e cujo objectivo dos seus produtores (os mesmos de Verdade Inconveniente) é sensibilizar a comunidade internacional para a problemática dos stocks de armas nucleares.

 

Trata-se de um filme/documentário de grande produção, com a recolha de inúmeros testemunhos de figuras políticas, e onde nem sequer falta a música dos Pearl Jam ou dos Radiohead na banda sonora.

 

O Diplomata teve conhecimento deste filme através do The Bulletin, que faz uma análise de enquadramento à sua temática, relembrando que, em muitos aspectos, trata-se de uma continuação do If You Love This Planet, um documentário de 1982 que foi laureado com o Óscar nesta categoria. Este último aborda a questão do nuclear ao longo de cerca de 25 minutos, centrando-se numa palestra da activista Helen Caldicott. Um registo muito interessante e que pode ser visto na íntegra.

 

Quanto ao Countdown to Zero, para já está disponível o trailer, ficando-se a aguardar pela sua chegada a alguma sala de cinema portuguesa ou pela sua edição em DVD. 

 

Obama aprova venda de material bélico a Taiwan e envia "recado" para Pequim

Alexandre Guerra, 01.02.10

 

 
Será que os mais de 1000 mísseis chineses apontados para Taiwan representam um verdadeiro perigo para aquele ilha? De acordo com muitos analistas internacionais, a resposta é claramente “sim”.
 
Esta pergunta, que de tempos a tempos é colocada quando a tensão aumenta no estreito de Taiwan, volta agora a fazer sentido, numa altura em que as relações entre Washington e Pequim “aquecem” por causa de um negócio de venda de armamento dos Estados Unidos a Taiwan no valor de 6,4 mil milhões de dólares.
 
Apesar da China ter avisado que este negócio representaria um sério revés nas relações político-diplomáticas entre Pequim e Washington, a administração do Presidente Barack Obama aprovou na passada semana a venda do material bélico para o regime de Taipé e fez questão de frisar que o negócio manter-se-á.
 
Perante este cenário, a resposta de Pequim, de acordo com o China Daily, principal jornal inglês controlado pelo aparelho comunista chinês, está a revelar-se a mais dura em três décadas contra Washington no que diz respeito a um negócio de venda de armamento. Pequim anunciou que irá restringir a sua cooperação militar com os Estados Unidos, impor sanções económicas às empresas americanas, assim como adoptar outras medidas a nível bilateral.
 
Analistas citados por aquele jornal, referem que esta crise não deverá pôr em causa o quadro estratégico de aproximação entre as duas potências, no entanto, é muito possível que afecte as parcerias em domínios específicos, como são os casos do dossier iraniano, da guerra no Afeganistão ou do complexo processo negocial da Coreia do Norte. “Certamente, os Estados Unidos têm que pagar um preço muito pesado pelo negócio”, disse Ye Hailin, professor de relações internacionais na Academia Chinesa de Ciências Sociais, citado pelo China Daily. “Temos mais do que uma carta [para jogar]. Nos problemas relacionados com o Afeganistão, a Coreia do Norte e o Irão, Washington precisa da nossa cooperação.”
 
Efectivamente, é provável que Pequim utilize algum destes dossiers para pressionar o Congresso a ratificar a venda. Uma venda que contempla 60 helicópteros Black Hawk, 114 sistemas anti-míssil Patriot, um sistema integrado de comando e controlo, 12 mísseis Harpoon e mais dois navio detectores de minas.
 
Para o Departamento de Estado norte-americano, este material permitirá aumentar a “segurança e a estabilidade” entre a China e Taiwan. Uma visão que Pequim não partilha, ao acusar Washington de estar a ter uma atitude hipócrita, de “dois pesos e duas medidas” no que se refere aos interesses vitais da China.
 
Os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros chineses reagiram duramente contra Washington, e além das medidas que já acima foram mencionadas, outros iniciativas poderão ser tomadas. Um registo que se adequa ao editorial do China Daily, que não se coíbe de caracterizar como arrogante a posição de Washington e de lembrar que este assunto está directamente relacionado com os assuntos internos da China.
 
Por outro lado, o New York Times relembra que no último ano Pequim tem assumido uma posição bastante musculada, tendo agora chegado a altura da administração Obama responder. Além disso, algumas fontes citadas pelo jornal nova-iorquino consideram que a administração Obama está a enviar sinais concretos a Pequim, de que não disposta a sacrificar os interesses estratégicos norte-americanos nem a ceder às suas pressões.  
 
Para Steve Clemons, director dos programas de política externa da New América Foundation, Obama terá percebido que de pouco valeu a Washington ter tido uma atitude bastante permissiva no último ano em relação à China, já que os responsáveis chineses revelaram uma abordagem bastante agressiva, nomeadamente na Cimeira do Clima realizada em Dezembro na cidade de Copenhaga.