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O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

O Diplomata

Opinião e Análise de Assuntos Políticos e Relações Internacionais

Começa bem o ano no Médio Oriente

Alexandre Guerra, 04.01.16

 

O Ano Novo começa de forma escaldante para os lados do Médio Oriente (para não variar). Riade decidiu reavivar (e de que forma) um dos conflitos mais antigos dentro do Islão, aquele que opõe o ramo xiita ao sunita. Em poucas horas, assistiu-se a uma escalada na crise diplomática entre a Arábia Saudita (sunita) e o Irão (xiita), com vários países sunitas a "alinharem" com o regime da Casa de Saud. Por outro lado, Teerão já deu provas de não estar minimamente interessado em apaziguar esta conflito. Os próximos dias prometem desenvolvimentos preocupantes.

 

E assim vai o terrorismo...

Alexandre Guerra, 08.04.15

 

Quando se fala hoje em dia de terrorismo islâmico é importante perceber a suas diferentes nuances, já que não se está a falar exactamente da mesma coisa. Na verdade, existem diferentes realidades em diferentes contextos e que devem ter abordagens interpretativas diferentes. Por exemplo, o fenómeno do terrorismo internacional da al Qaeda não deve ser confundido com o terrorismo que durante anos foi praticado por movimentos ligados à libertação palestiniana. Tal como o terrorismo uigure (muçulmano), na região de Xiangxiang na China, ou aquilo que o PKK fez durante anos na Turquia (e não só), não deve ser comparado com os actos praticados pelo Estado Islâmico. É preciso perceber que por detrás destes diferentes movimentos, existem diferentes motivações e objectivos. 
 
Actualmente, é importante notar que dentro do terrorismo islâmico existem interesses contrários e que estão em confronto em locais como no Iraque ou no Iémen. Basicamente, estes dois confrontos espelham uma rivalidade crónica entre sunitas e xiitas. O Estado Islâmico no Iraque, maioritariamente sunita radical, tem estado a ser combatido por xiitas (apoio do Irão) ou sunitas moderados (iraquianos, sauditas, etc).
 
Já no Iémen, os terroristas Houthi são xiitas radicais e estão a ser apoiados pelo Irão no combate ao Governo de Sanaa. Ao mesmo tempo, o movimento da al Qaeda na Península Arábica,sunita radical e apoiado pela al Qaeda, combate os Houthis e o Governo. Entretanto, o Estado Islâmico também se está a imiscuir no Iémen para enfraquecer a filial da al Qaeda. De notar que estes dois movimentos transnacionais, sunitas, são rivais.     
 
Na Somália, o movimento terrorista al Shabab tem provocado a desestabilização nos últimos anos, levando mesmo à queda do seu Governo. As acções daquele movimento têm igualmente se estendido ao Quénia, país que em 2011 enviou um contingente militar para intervir na Somália, precisamente para combater a al Shabab. Este movimento, ao contrário de outros, não tem ligações fortes nem alinhamentos com polos de poder sunitas (Arábia Saudita) ou xiitas (Irão), já que se trata de um grupo de cariz sobretudo criminoso, assente na pirataria. No entanto, desde 2012 que estabeleceu alguns laços com a al Qaeda, assim como com alguns movimentos africanos, tais como o Boko Haram. 
 

Seguir o dinheiro

Alexandre Guerra, 11.08.14

 

No início dos anos 80, com os soldados soviéticos no Afeganistão, isto era assim: as secretas americana (CIA) e saudita (GID) gastavam milhões de dólares no apoio, directo ou indirecto, aos mujahedin no Afeganistão para que estes combatessem o Exército Vermelho.

 

Tratavam-se de "covert operations" e, por isso, no caso da Arábia Saudita, o dinheiro era, primeiro, enviado de Riade para o seu embaixador nos Estados Unidos, Bandar bin Sultan. Este, posteriormente, reenviava os fundos para uma conta secreta da CIA na Suíça. A partir daqui, os operacionais da Near East Division efectuavam as compras de material militar no mercado internacional, a países como Israel ou até mesmo a China, na altura feroz inimiga da URSS.   

 

No reino saudita uma andorinha parece estar a fazer a verdadeira "Primavera árabe"

Alexandre Guerra, 24.06.12

 

Rei Abdullah

 

Sem qualquer "Primavera" exuberante, a Arábia Saudita vai muito lentamente, mas de forma mais tranquila, cedendo alguma abertura do regime. Ficou-se a saber este Domingo que Riade vai permitir que atletas femininas sauditas possam participar nos Jogos Olímpicos de Londres, caso tenham os mínimos para se qualificarem.

 

É a primeira vez na história do país que tal acontece, tendo sido anunciado em comunicado pela Embaixada saudita em Londres.

 

Diz a BBC News que este anúncio põe fim à especulação que girava em torno da delegação saudita, ameaçada de desqualificação pelo Comité Olímpico sob o argumento de discriminação de género.

 

Com esta questão arrumada, a Arábia Saudita vai contar, pelo menos, com uma atleta em Londres, a saltadora de obstáculos de cavalos, Dalma Rushdi Malhas.

 

A decisão do regime saudita é de extrema importância, não apenas pelo seu significado desportivo e social, mas pela sua dimensão política, já que implica um revés às pretensões da ala mais conservadora saudita.

 

Conservadores, esses, que deverão estar apreensivos com o rumo que o Rei Abdullah tem tomado no que diz respeito ao papel das mulheres na sociedade. Relembre-se que em Setembro do ano passado Abdullah concedeu o direito de voto às mulheres nas eleições municipais e a possibilidade de se candidatarem àquelas. Anunciou ainda que as mulheres podiam ser nomeadas para o Shura Council, o órgão consultivo do Rei. 

 

E no âmbito deste processo reformista (leia-se no contexto saudita), a BBC News revela que nas últimas seis semanas têm decorridos negociações "behind-the-scenes" lideradas pelo próprio Abdullah, das quais resultou um entendimento entre a casa de Saud e os clérigos mais conservadores para permitir que as atletas sauditas participassem nos Jogos Olímpicos.

 

Apesar do suposto "entendimento", certamente que neste processo "negocial" Abdullah impôs a sua vontade, uma vez que a oposição mais conservadora do regime saudita é totalmente contra as cedências que têm sido promovidas pelo monarca.  


Washington e Londres voltam a focar atenções na sucursal saudita da al-Qaeda

Alexandre Guerra, 02.01.10

 

Hurayrah Qasim al-Rimi, Said al-Shihri, Nasser al-Wuhayshi e Mohammed al-Awfi (Janeiro de 2009)

 

O "atentado falhado" no dia de Natal durante um voo da Delta Airlines ao chegar a Detroit vindo de Amesterdão foi reivindicado pelo grupo al-Qaeda na Península Arábica (AQAP), até então desconhecido, visto ter sido formado apenas no início de 2009, com a união de alguns elementos terroristas saudidas e iemenitas, muitos deles com ligações directas à al-Qaeda, que, para todos os efeitos, já está em território saudita há vários anos.

 

A BBC News traça um perfil do AQAP, revelando que o  mesmo é encabeçado por um antigo colaborador de Osama bin Laden, e relembra as iniciativas terroristas levadas a cabo pelos operacionais da al-Qaeda na Arábia Saudita desde 2003. 

 

No Dia de São Valentim, Abdullah "rompeu" com waabitas do Governo saudita

Alexandre Guerra, 18.02.09

 

 

Enquanto no passado Sábado corações e mentes se entregavam ao romance do Dia dos Namorados ( ou São Valentim), em Riade estava a acontecer um "massacre" no seio da corrente waabita instalada no Governo saudita.

 

A palavra "massacre" foi utilizada  em sentido figurado por Nina Shea, directora do Centro de Liberdade Religiosa do Hudson Institute, para descrever o ataque feroz que o Rei Abdullah desferiu nos ministros e altos responsáveis políticos mais conservadores do regime.

 

Entre as várias medidas, Abdullah promoveu pessoas da sua confiança, mais tolerantes em termos religiosos e políticos e que se adequam melhor às necessidades do país em pleno século XXI. 

 

O principal sinal de esperança para uma verdadeira reforma e abertura política, social e religiosa terá sido a nomeação de Noura al-Faez como vice-ministra para a pasta da Educação das Mulheres. É a primeira mulher a ocupar um lugar no Executivo.

 

A iniciativa é de tal maneira importante que o correspondente internacional da CNN, Nic Robertson, interrogava-se com o seguinte: O que poderá ser maior do que a nomeação de uma mulher para um lugar ministerial? A resposta foi: "Talvez uma ministra da Justiça."

 

Desde 2005 no poder de facto e de juri, após a morte do seu irmão, o Rei Fahd, este foi o mais importante gesto político levado a cabo por Abdullah, afastando do Governo alguns dos guardiões do waabismo, substituindo-os por mentes mais reformistas e próximas do chefe de Estado.

 

Entre os que saíram encontram-se o ministro da Justiça e o líder da Comissão para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício.

 

Nic Robertson diz tratar-se de um novo curso irreversível para a modernização da Arábia Saudita, que já vem sendo preparado por Abdullah há algum tempo.

 

Com 80 anos, o monarca apercebeu-se que o seu país está cada vez mais dominado por uma faixa etária muito jovem, com acesso à TV satélite, a telemóveis, a Blackberry's, a contactos com o exterior... Ou seja, no fundo trata-se de uma parte da população sedenta de mudança e potencialmente muito crítica, caso o Governo não suavizasse os preceitos orientadores da sociedade.

 

Apesar do sentido reformista de Abdullah, tudo tem sido feito com moderação, não sendo de esperar mudanças drásticas. Porém, o Rei tem emitido importantes sinais para a sociedade saudita, demonstrando que pretende atenuar o domínio radical waabita em prol de uma maior influência do ramo sunita.